793kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

18-25_072022_temp
i

As temperaturas vão continuar anormalmente altas na próxima semana, sobretudo na Península Ibérica, França, Itália, Alemanha e Reino Unido

ECMWF

As temperaturas vão continuar anormalmente altas na próxima semana, sobretudo na Península Ibérica, França, Itália, Alemanha e Reino Unido

ECMWF

Europa pode ter a onda de calor mais intensa desde 1757. Inglaterra, França e Alemanha também vão chegar aos 40ºC

Portugal e Espanha terão uma pequena descida da temperatura na próxima semana, mas Reino Unido e França podem bater recordes. Europa pode ter a onda de calor mais intensa desde 1757.

    Índice

    Índice

Chuvas torrenciais, quase 6.000 relâmpagos em sete horas e uma mão cheia de incêndios florestais causados pela atividade elétrica marcaram o final da tarde e noite de quinta-feira na Galiza (Espanha). O agrupamento de tempestades muito fortes, todas ao mesmo tempo, criou uma imagem vista do espaço que mais parecia o cogumelo da explosão de uma bomba atómica. O fenómeno foi natural, mas inédito nesta região, a poucos quilómetros da fronteira portuguesa.

O fenómeno meteorológico (chamado sistema convectivo de mesoescala) é mais comum nas zonas junto ao mar Mediterrâneo, mas aqui ter-se-á formado como consequência das altas temperaturas à superfície (44,1 ºC em Ourense) em combinação com ar frio em altitude — e poderá voltar a repetir-se, uma vez que a Galiza têm batido recordes de temperatura por estes dias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Progressão dos relâmpagos durante o dia de quinta-feira (assinalados a vermelho) e a concentração de várias tempestades no noroeste espanhol ao final do dia.

As temperaturas muito altas provocam instabilidade na atmosfera e justificam as trovoadas secas ou com chuva que temos tido também em Portugal. O calor sentido na Península Ibérica — e os recordes de temperaturas máximas e mínimas batidos — explicava-se, no início da semana, pelo anticiclone dos Açores — mais extenso do que alguma vez no passado e que estará a influenciar o clima na Península Ibérica —, e a partir do meio da semana pela influência de uma massa de ar vinda de África. Os ventos de sul, por sua vez, influenciam também o calor que vai fazer-se sentir um pouco por toda a Europa.

Porque podem ser tão quentes e perigosos os próximos dias? Solo extremamente seco, ventos de Espanha e uma depressão no Atlântico

A partir da próxima semana, espera-se que as temperaturas em Portugal diminuam um pouco (cerca de 10ºC, passando para uma média de 30ºC), assim como no noroeste da Península Ibérica. Mas as previsões para o resto de Espanha mantêm o tempo quente e seco em quase todo o território. A intrusão, no continente, dos ventos vindos do norte de África afetará cada vez menos Portugal, sobretudo no litoral, à medida que se deslocam para norte, até ao Reino Unido, que pela primeira vez na história accionou o alerta vermelho. Depois seguirá para França seguindo além da Alemanha. Mas as regiões mediterrânicas serão, naturalmente, as mais afetadas.

6 fotos

A onda de calor mais intensa desde 1757

De olhos postos na Europa, a empresa norte-americana AccuWeather alerta que podemos estar prestes a presenciar a onda de calor mais intensa que o continente já sentiu desde 1757. Não só as temperaturas estão extremamente altas e a bater recordes máximos em várias localidades, como as “ondas de calor podem tornar-se de longa duração (20 ou mais dias) de Portugal ao centro de França e no interior sudeste da Europa, prolongando-se até ao final de julho e início de agosto”, disse Tyler Roys, meteorologista sénior na AccuWeather.

“Nos últimos 25 anos, houve apenas três ondas de calor de longa duração que tiveram impacto em partes da Europa: em 2003, na Europa ocidental e central por 32 dias; em 2006, na Europa ocidental e centro-norte por 35 dias; e, em 2021 [o mais quente de que há registo na Europa], na Itália e sudeste da Europa, por 21 dias”, ilustrou Tyler Roys, da empresa de meteorologia privada.

5 fotos

Tal como em Portugal, a primavera muito seca e a baixa probabilidade de que venha a chover nestes dias, justificam que o tempo continue quente e seco na Europa, segundo a Organização Meteorológica Mundial. As temperaturas acima da média e uma precipitação abaixo do normal em quase toda a Europa têm como consequência um aumento do risco de incêndio, mais grave em Portugal, Espanha e Grécia.

Três mapas para perceber o risco muito elevado de incêndio na Europa

Reino Unido prevê temperaturas de 40 ºC pela primeira vez

O Reino Unido, rodeado pelo Atlântico norte e longe das influências imediatas do calor vindo de África, tem enfrentado temperaturas muito mais altas do que o habitual desde o mês de junho. Esta sexta-feira, emitiu o seu primeiro alerta vermelho da história relacionado com o tempo quente, para segunda e terça-feira, em algumas regiões de Inglaterra. É a primeira que se faz a previsão de temperaturas de 40 ºC, depois de grande parte do território inglês já estar em alerta laranja desde o início da semana. A temperatura mais alta alguma vez registada no Reino Unido foi 38,7 ºC, no Jardim Botânico de Cambridge, a 25 de julho de 2019, segundo a agência meteorológica britânica.

“A probabilidade de ter dias a chegar aos 40ºC no Reino Unido é 10 vezes maior agora do que quando o clima não tinha sido influenciado pela ação humana.”
Nikos Christidis, MetOffice

“É provável que a as temperaturas sejam excecionalmente altas, talvez atinjam recordes, no início da próxima semana um pouco por todo o território em alerta vermelho, na segunda-feira, e concentradas um pouco mais a leste e norte na terça-feira. Neste momento, a probabilidade de se registarem temperaturas acima de 40 ºC é de 50% e de 80% de se atingir uma nova temperatura máxima”, disse Paul Gundersen, meteorologista chefe no MetOffice, no Reino Unido. “As noites também serão excecionalmente quentes, especialmente em áreas urbanas. Isto é suscetível de levar a impactos generalizados nas pessoas e infraestruturas.”

As temperaturas altas estão a ser causadas por um fenómeno de altas pressões a sul do país, mas durante o fim de semana serão as massas de ar quente vindas do continente europeu que vão aquecer ainda mais as ilhas. Até a Escócia vai atingir os 20ºC em algumas regiões, muito acima da média para esta altura do ano. Prevê-se que as temperaturas mais normais possam voltar a partir de meio da semana, graças às correntes de ar mais frio vindas de oeste.

São estas temperaturas consequência das alterações climáticas? É difícil atribuir uma causa enquanto o evento ainda está em curso, mas o que sabe é que as alterações climática aumentam a probabilidade de eventos e temperaturas extremas. “A probabilidade de ter dias a chegar aos 40ºC no Reino Unido é 10 vezes maior agora do que quando o clima não tinha sido influenciado pela ação humana [na época pré-industrial]”, disse Nikos Christidis, que investiga a atribuição destes fenómenos no MetOffice.

Onda de calor leva o Reino Unido a declarar, pela primeira vez, um alerta vermelho

É certo que as variações no clima ocorrem naturalmente e de forma mais ou menos cíclica, mas a ação do homem no ambiente acelerou esses ciclos. A cada 100 a 300 anos, os verões no Reino Unido poderiam registar temperaturas de 40ºC no verão, mas até 2100 o ciclo pode ser de apenas 15 anos, mesmo que se reduzam as emissões de gases com efeitos de estufa conforme estabelecido no Acordo de Paris, refere a agência britânica.

Depressão viaja para nordeste e a Península Ibérica baixa as temperaturas

O mesmo anticiclone atlântico que provocou o aquecimento das ilhas britânicas desde o início da semana, tem ajudado a que a temperatura da atmosfera aumente com a incidência da radiação solar. Já a depressão a oeste da Península Ibérica, está a puxar as massas de ar muito quente vindas do norte de África. Esta massa de ar quente ficará praticamente estacionária sobre o território espanhol até domingo, reporta a Agência Estatal de Meteorologia (AEMet).

A onda de calor no interior do território continental espanhol dura desde dia 10 de julho e deverá manter-se até 18 de julho, segundo aviso da agência espanhola. Entretanto, espera-se que a depressão se mova para nordeste proporcionando a entrada de ar fresco vindo do oceano Atlântico e baixando a temperatura em algumas regiões, nomeadamente a sul e noroeste. Ainda assim, haverá outras zonas, a norte e nordeste, que vão aumentar a temperatura na segunda-feira.

Com a deslocação da depressão do Atlântico para noroeste, as temperaturas vão diminuir na Península Ibérica — ainda que continuem anormalmente altas —, mas vão voltar a subir assim que a depressão se afastar o suficiente, o que está previsto acontecer a partir de dia 20, quarta-feira. Nesta altura, a região espanhola mais afetada será a sudoeste, mais uma vez influenciada pela massa de ar quente de África.

Esta sexta-feira, até às 18 horas espanholas, Ávila tinha sido o município com a temperatura mais alta registada (44,3 ºC), seguida de Badajoz (43,9 ºC) e Sevilha (43,6 ºC).

Nos últimos 35 anos, as ondas de calor foram três vezes mais numerosas do que nos 35 anos anteriores e o número de dias das ondas de calor aumentou nove vezes.
Meteo France

França prevê bater recorde de temperatura na segunda-feira

Com a deslocação da depressão para noroeste — arrastando consigo massas de ar muito quente —, o próximo país no seu caminho é a França, que prevê que a onda de calor iniciada no dia 12 de julho se torne intensa e duradoura. Esta é a 45.ª onda de calor desde 1947, 25 delas aconteceram em julho. Foi também em julho, no dia 25 do ano 2019, que os termómetros atingiram as temperaturas máximas e mínimas mais altas alguma vez registadas no país: 42,6ºC e 21,4ºC, respetivamente.

records_chaleurs_juillet_0

As temperaturas mais altas alguma vez registadas em França, com respetiva data da ocorrência — Meteo France

A agência meteorológica francesa (Meteo France) verificou que, nos últimos 35 anos, as ondas de calor foram três vezes mais numerosas do que nos 35 anos anteriores e o número de dias das ondas de calor aumentou nove vezes. A onda de calor de julho de 1983 foi a mais longa (23 dias) e as de agosto de 2003 e julho de 2019, as mais intensas, com temperaturas médias no país de 29,4ºC — recorde que poderá ser batido no dia 18, segunda-feira.

Entre domingo e terça-feira, a onda de calor vai intensificar-se e poderá durar sete a 10 dias. Esta sexta-feira, as temperaturas já estavam muito altas a sul, dos Pirinéus ao Mediterrâneo, com as máximas entre os 36 e os 38ºC (podendo chegar aos 40ºC) e as mínimas entre os 20 e 25ºC. Mas é na segunda-feira que se preveem as temperaturas mais altas, num gradiente de oeste (acima dos 40ºC) para este (acima dos 34ºC). Na noite de dia 19 e manhã de 20 poderá chover na metade este de França.

Também serão as chuvas a marcar o estado do tempo este fim de semana na Alemanha, com as temperaturas a subirem no sul no início da semana: máximas perto ou acima dos 30ºC, podendo mesmo chegar aos 39ºC, ainda que mais baixas na costa norte. A chuva voltará na quarta-feira, mas ainda com temperaturas altas — máximas de 30 a 36ºC. E só na sexta-feira se instala o mau tempo com chuva intensa e descida da temperatura.

Ondas de calor provocam morte de mais vulneráveis

As temperaturas altas e as ondas de calor são, com frequência, responsáveis por mortes adicionais sobretudo entre os mais vulneráveis. As “temperaturas extremas muito elevadas” provocaram um excesso de mortalidade de 238 óbitos, entre 7 e 13 de julho, disse a diretora-geral de Saúde esta sexta-feira.

Tyler Roys, meteorologista sénior na AccuWeather, lembrou também que durante a onda de calor mais longa da Europa, em 2003, morreram mais de 30 mil pessoas, tanto direta como indiretamente, devido ao calor.

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) afirmou que nos últimos 10 anos, morreram mais de 400 mil pessoas devido a catástrofes relacionadas com o clima e a meteorologia. Pelos mesmos motivos, 1,7 mil milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar os locais onde viviam — uma média de 25 milhões de pessoas todos os anos. O risco de morte é maior para idosos, crianças, grávidas e pessoas com doença prévia e estes eventos têm também impacto em diversas áreas da sociedade, como economia, sistemas de saúde e disrupções na energia.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos