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Aos 83 anos, Isabel Ruth prepara-se para lançar um disco e está a filmar um documentário sobre a sua vida
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Aos 83 anos, Isabel Ruth prepara-se para lançar um disco e está a filmar um documentário sobre a sua vida

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Aos 83 anos, Isabel Ruth prepara-se para lançar um disco e está a filmar um documentário sobre a sua vida

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Isabel Ruth: "Não me venham falar no 'mestre Godard'. Quais mestres? Mestre sou eu de mim própria"

60 anos depois de "Os Verdes Anos", Isabel Ruth continua a deslumbrar. Aos 83, a atriz maior do Cinema Novo português tem filmes para fazer e canções para mostrar — e um álbum a caminho.

“Fingir não é o meu forte”. Isabel Ruth descreve-se assim na legenda de uma fotografia na página 93 da sua autobiografia, publicada pela editora Guerra & Paz, em 2006. Está de braços cruzados e um olhar que denuncia a mesma franqueza com que, em entrevista ao Observador, fala sobre o filme Os Verdes Anos (1963), que a 29 de novembro cumpriu exatamente 60 anos sobre a estreia. Eis uma atriz pouco dada a fingimentos.

Dela não esperem que suavize o que foi mais do que um “estado de graça”: “Eu não fazia ideia do que era fazer cinema”. Os Verdes Anos é a primeira obra de Paulo Rocha (1935-2012) e o vislumbre de uma atriz então desconhecida. Na fita, Isabel Ruth afirma-se, nas palavras de Bénard da Costa, como “o primeiro grande nome do Cinema Novo” (Histórias do Cinema, Imprensa Nacional, 1991), personificando, aos olhos de uns, a complexidade da luta de classes, e, aos olhos de outros, o inconformismo de uma jovem mulher (Ilda) que desafia as expectativas que lhe são delineadas.

Oh Ilda
Quem te mandou ser atrevida
Ter ambições, fazer-te à vida?
(…)
Para quê emigrar, partir
Não te chegava a pátria inteira para servir?”
– Versos de A Sopeirinha, em Fotopoesia, autobiografia de Isabel Ruth, Guerra & Paz, 2006

Se com Os Verdes Anos o cinema português não mais foi o mesmo, tudo mudou também para Isabel Ruth (n. 1940, Tomar), que, ao ser descoberta na televisão, deixa a dança para trás para se entregar à cinematografia portuguesa, trabalhando com realizadores de diferentes épocas e estéticas: Álvaro de Moraes, António de Macedo, João Botelho, Jorge Silva Melo, Manoel de Oliveira, Manuel Mozos, Pedro Costa, Teresa Villaverde, Sérgio Tréfaut, para citar alguns. Também para ela a pátria não foi suficiente. No auge, com uma carreira fulgurante pela frente em solo português, tudo larga para correr mundo: primeiro em Itália, nos anos 70, onde fez filmes, amigos e amores, cruzando-se com figuras como Bernardo Bertolucci ou Pier Paolo Pasolini, e, mais tarde, lugares mais longínquos como Afeganistão, Paquistão, Índia ou Nepal. “Tinha que desbravar, tinha que crescer, tinha que me conhecer”, diz.

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Aos 83 anos, Isabel Ruth continua insaciável pelo desconhecido. Em entrevista ao Observador, a atriz fala sobre a dança, a música, a ignorância, a essência. E a morte, Isabel? “É mais impressionante para os que veem do que para os que partem.” Em casa, sentada no sofá onde, por estes dias, vê séries nórdicas e programas de comentário político (ela que não via nada além do ballet, admite), revela como está a trabalhar num álbum de canções originais, que escreve há décadas e que vai desvendar pela primeira vez. Adianta também o filme que está a gravar e o outro que espera fazer, “se estiver com a energia, se estiver viva e isso tudo”.

Na canção Madalena, do álbum Cantar Carneiros (2022), do músico Agir, canta: “Madalena, Que aconteceu a Madalena, Tinha jeito p’ra fazer canções, Cantarolava as suas emoções…”
Madalena tão pequena, Tinha tantas ambições, Madalena, Que aconteceu a Madalena?

Está a trabalhar num álbum de originais. Pode dizer-se que a Madalena sempre fez as canções?
Qual Madalena, quem é a Madalena?

É o que lhe pergunto.
A Madalena são as adolescentes todas. Sou eu. Sou eu em adolescente, é a minha filha, é todas as miúdas que vejo agora adolescentes com um bocadinho de problemáticas. Aquelas miúdas irascíveis e para a frentex, como se diz. A Madalena é essa Madalena.

Foi uma miúda irascível?
A minha vida é outra, a minha infância foi diferente. Fui bastante pacífica. Não fui uma miúda rebelde. Nunca fui rebelde. Mas também não fui dominada. Fui sempre muito independente.

Ser independente e ser rebelde são coisas distintas?
Acho que sim. Nunca me senti perdida em miúda, sabia perfeitamente o que queria fazer. Queria dançar. Já era praticamente uma bailarina sem ter aprendido nada. Porque ser bailarina não é só técnica. É claro que a técnica vem, mas é o espírito. Deixei de ser bailarina quando aos 23 anos deixei a companhia em que estava.

Em "Onde fica Esta Rua? ou Sem Antes nem Depois" (2023), de João Rui Guerra da Mata e João Pedro Rodrigues, a atriz tornou ao bairro de Alvalade, onde algumas das cenas do filme de 1963 foram gravadas

Porquê?
Porque comecei a fazer cinema e porque vi que nunca iria ser uma grande bailarina. Até podia ter sido, podia ter ido para as escolas. Estive em Inglaterra durante dois anos, fiz um curso e ali é que fiz uma boa técnica. Fiquei a dançar muito melhor. Foi uma grande escola para mim. Tanto que cheguei cá e fui uma das primeiras bailarinas. A primeira bailarina.

Do que era o Grupo Experimental de Ballet e viria a ser o Ballet Gulbenkian.
Sim, sim. Isso está no filme [Um Corpo Que Dança (2022), de Marco Martins], não é? Não preciso de falar sobre isso.

Depois surge a paixão pelo cinema?
Não, não é paixão.

Então?
Não tenho assim paixões. A minha paixão foi sempre a dança. Nunca foi cinema nem teatro. Foi sempre a dança e a música. Teatro e cinema são coisas muito menos espontâneas do que a música. Uma pessoa que tem que estar a fingir. É uma coisa forçada.

E a música é sempre verdade?
A música é uma coisa natural. A música para mim é muito inspiradora. Inspira-me muito mais a música, e o bailado. Estão muito ligados, não é? Porque a música inspira a dançar. Aliás, é uma coisa tão primitiva a dança, vemos todas as tribos, todas as civilizações que tiveram dança. A música é um som maravilhoso. Há vocações e a minha vocação realmente foi a dança. A música não tanto. Apesar de que em miúda já tinha ouvido tanta música clássica que sabia alguns concertos de cor. Não tenho o Tchaikovsky dentro da minha cabeça, mas ainda sei partes de concertos. 

Dizia há pouco que que escreve canções há 40 anos. Porque só decidiu gravá-las agora?
Começaram a ouvir as minhas canções, amigos. Comecei a partilhar e comecei a achar que elas já tinham conteúdo. Comecei há 40 anos porque fiz uma pequena canção, saiu-me espontaneamente. Comprei uma viola, aprendi uns acordes. Só tive duas aulas, depois comecei com a guitarra e acompanhou-me a vida toda. Agora até tenho poucas, tenho duas guitarras só. É uma coisa tão relaxante, uma pessoa pegar uma guitarra, mesmo que não saiba tocar. Também tenho uma harmónica e adoro tocar. Só não toco mais porque o cão começa a ladrar, a uivar. Mas adoro tocar harmónica. Quer que toque um bocadinho?

[Levanta-se e desliza a harmónica pelos lábios. Um cão pequeno, branco, de nome Rufas, começa a ladrar.]

Pronto, está a ver? Não toco nada, mas mesmo que não saiba. Claro que é incrível se você dominar depois isto, mas só o som é maravilhoso. A gente consegue fazer uma melodia até agradável mesmo não sabendo. Temos é que fazer experiências na vida para aprender coisas, abrir o leque de instintos fantásticos que temos.

Este cruzamento que resultou nesta canção, Madalena, deu-se como? É um dueto inesperado: Isabel Ruth e Agir.
Pois é. Tentei muitas coisas. Tive muita gente interessada em editar as minhas canções. Não é que ache que a minha música tenha muito a ver com a música do Agir, não tem.

Isabel Ruth com Agir nas gravações do álbum “Cantar Carneiros” (2022)

Arlindo Camacho

Como se encontraram?
Há muitos anos, o pai dele [Paulo de Carvalho] fez um disco e pediu a várias mulheres para escreverem as letras das canções. Veio ter comigo e eu disse-lhe que tinha a letra, mas também tinha a música, uma música muito simples. E ele cantou a minha música. Depois comecei a ver coisas do Agir e achei que o Agir era uma pessoa maravilhosa. Ele lança pessoas, gosto muito da atitude dele. Tem uma grande cabeça como produtor, sabe muito bem o que faz, é muito profissional. Pensei: vou telefonar ao Paulo de Carvalho. Já não lhe ligava há anos nem nunca tive amizade com ele, mas pronto. Liguei-lhe e disse-lhe: “podes-me dar o número de telefone do Agir? Tenho as minhas músicas”. Disse-me que o Agir estava cheio de trabalho, não tinha tempo. Disse-lhe: “está bem, mas dá-me o telefone dele”. Ele deu-me o telefone, liguei ao Agir e disse-lhe que tinha umas músicas que gostava de lhe mostrar. E no dia seguinte aparece-me em casa, ainda vivia eu em Campo de Ourique. Comecei a tocar as minhas coisas e no fim disse-me que gostava muito da Madalena e que íamos fazer a Madalena. Fiquei felicíssima. Mandou-me uma versão maravilhosa de que gostei imenso, em que ele cantou sozinho a Madalena. Adorei aquilo. Disse-lhe: “cante você”. Mas ele disse: “não, não, vamos cantar os dois”. 

É o Agir que está a produzir este seu disco?
É. Foi ele que arranjou o pianista. Entretanto, nesta altura telefona-me o Francisco Vasconcelos, da Valentim de Carvalho, depois de ter saído a Madalena, a dizer que está muito interessado em fazer as minhas músicas. Isto há quase dois anos. Tive uma reunião com toda a equipa, toquei as músicas, estava tudo a correr muito bem, mas depois aquilo tudo faliu. Já estava farta disto tudo, nem podia ouvir as minhas canções, era tudo muito complicado, quando me telefona o Tiago Silva, um dos meninos da Valentim, a dizer que a equipa saiu toda, mas que queriam que fizesse as canções e que tinham falado com o Agir. Recebi ontem o e-mail da SPA [Sociedade Portuguesa de Autores] a dizer que nos deram apoio. O apoio sempre vai ajudar as coisas. 

São quantas canções?
Dez. Todas minhas.

Já tem nome para o álbum?
Tenho vários nomes na cabeça. O Agir sugeriu-me que devia pôr em qualquer coisa “em dó menor”, porque as minhas canções são quase todas em dó menor [risos]. 

É para sair quando?
Não sei. Entretanto também tenho um projeto com a Luísa Sequeira. Ando há uns anos a filmar umas coisas com ela.

O quê é?
É um projeto para fazer um filme sobre mim, sobre a minha vida. Mas também já pedimos apoio e não nos deram. Vamos fazer as duas o filme.

Assinam as duas a realização é isso?
Sim, a realização. 

É documental ou ficcional?
Documental, é um documentário sobre mim, sobre aquilo que digo, o que faço, onde vou, o que toco. A Lu — como lhe chamamos — até vem cá para a semana. Há dois anos que andamos a gravar várias coisas. Vamos para o Guincho, ela filma com uma câmara pequenina. Filmou-me em casa a cantar, em Campo de Ourique a passear, filma as minhas conversas, várias situações. Quer também pôr blocos e coisas dos meus filmes. Queremos fazer um filme as duas, depois vou fazer a montagem com ela. Andamos para aí a gravar.

É curioso estar a fazer tantas coisas, quando há pouco me dizia, com uma certa leveza, “não sei se morro para a semana”.
Sim, mas às coisas de que gosto digo que sim. O [realizador] Sérgio Tréfaut ligou-me há um mês, ele vive no Brasil. Já não falava com ele há imensos anos, desde que fiz o filme.

O Raiva (2018).
Sim, em que fiquei muito zangada com ele.

Porquê?
Aquilo correu muito mal. 

"Raiva" (2018), de Sérgio Tréfaut, venceu dois Globos de Ouro: Melhor Filme e Melhor Atriz, para Isabel Ruth

Deu-lhe um Globo de Ouro de Melhor Atriz.
Sim, mas correu muito mal entre mim e ele, a nossa relação. Toda a gente soube lá, gritávamos um com o outro, foi uma coisa horrível. Nunca tive uma coisa tão chata, mas aconteceu. Mas como tivemos sempre uma boa relação… A primeira vez que ele me telefonou a dizer que queria fazer esse filme comigo, foi uma coincidência porque eu tinha acabado de ver o filme que ele fez sobre a mãe dele [Fleurette (2002)]. E eu tinha gostado imenso, imenso. É um filme muito bonito, muito comovente. Disse-me: “faço filmes e gostava muito que a Isabel fizesse um”. E eu disse-lhe: “que coincidência, eu digo que sim, sabe porquê? Porque acabei de ver o seu filme”. Como a mãe dele morreu, sempre fui muito maternal para ele. Mas naquele filme demo-nos muito mal. Mas eu não tenho rancores, não tenho ódio e ele também não tem. 

E por isso lhe telefonou agora.
Sim, disse que queria falar comigo, veio do Brasil cá. Fiquei espantada, mas tenho de perdoar, já perdoei há imenso tempo, foi esclarecido. Disse-lhe que nos encontrávamos na [pastelaria] Versailles. Propôs-me um papel para um próximo filme. Disse-lhe que se fosse no Brasil para não contar comigo, ou então só a viajar em primeira classe com caminha. E mesmo assim temos que pensar. Perguntei-lhe quando era e disse-me no final de 2024. Que horror! Sei lá se em 2024 estou viva. Mas gostei muito do papel. É uma fanática da Igreja Evangélica. Ele vê sempre o meu lado horrível. Há pessoas que acham que eu sou muito doce e há pessoas que acham que eu sou muito muito coisa. Ele tem feito sempre filmes comigo como se eu fosse sempre uma mulher muito não sei o quê. Acho que é porque o meu envelhecimento não é o envelhecimento de uma velhinha doce. Eu percebo isso. O meu envelhecimento é o de uma uma mulher um bocadinho austera.

Revê-se nisso?
Não, mas nos filmes vejo. Sou sempre aquela mulher dura porque aproveitam os meus traços. É uma questão de fisionomia. Não tenho uma carinha redonda. A Lídia Franco, por exemplo, é uma velhinha redondinha. Mesmo no cinema, há por aí imensos papéis de avós suaves. Não tenho muito o papel da avozinha. E sou avó e adoro crianças. As crianças ao princípio estranham-me porque acham que tenho os olhos muito fundos, mas depois gostam imenso de mim porque falo com elas como amiga, não as trato como criancinhas. 

Isabel Ruth nasceu em Tomar, a 6 de abril de 1940. Depois de viver em Londres, Roma, Ibiza ou Milão, vive há vários anos em Lisboa

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Então e o que respondeu ao pedido do Sérgio Tréfaut?
Disse-lhe que se estiver cá viva até lá acho piada ao personagem. Se estiver com a energia, se estiver viva e isso tudo. Estou a dizer isto, mas falo a sério. Estamos sempre a envelhecer desde que nascemos, mas quando a pessoa chega aos 80 anos é uma idade muito crítica. Há pessoas muito fortes que vivem até aos 90, até aos 100, como o Manoel de Oliveira, mas há outras pessoas com fragilidades. Acho que sou uma pessoa frágil e provavelmente não vou viver até aos 90. Quando nos aparece uma coisa qualquer aos 30, aos 20, aos 50, aos 60… Agora quando começam a aparecer coisas aos 80, uma pessoa começa a pensar: “então, mas como é que é?”

Como se lida com a consciência da finitude?
É uma aceitação à morte. Falo da morte com a minha filha [Graça]. Digo-lhe: “se eu morrer, tu faz assim, faz assado. Mas também não me precipites, que eu não quero morrer já” [risos]. Falo disso. 

Deixou-nos escutar uma canção deste disco, em que canta assim: “Lá vai ela cheia de graça, lá vai ela a caminho do céu”.
Ah, mas aí a ideia não é aí não é de caminho do céu. Sabe aquela atriz italiana muito bonita que agora já está com os 50 e muitos, morena, linda?

A Mónica Bellucci?
A Mónica Belluci. Há um filme em que ela entra em que ela vai a passar com a sua saia, o seu vestido travado, e eu vejo: [canta] “lá vai ela cheia de graça, lá vai ela a caminho do céu, lá vai ela tão bela como a graça Deus lhe deu”. Ao mesmo tempo, Graça também é o nome da minha filha. Para mim [a canção é sobre] a mulher bela, essa sexualidade, lá vai ela a caminho do céu, porque para mim o céu não é o céu de morrer. O céu é um estado de graça. 

Falemos de um outro estado de graça: aos 23 anos entra no filme Os Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha.
Foi um estado de graça, mas também um estado de muita ignorância. Eu não fazia ideia do que era fazer cinema.

Foi o seu primeiro filme.
Foi. O Paulo Rocha viu-me na televisão a fazer teatro. Comecei a fazer teatro na Casa de Comédia, o meu ex-marido, o João D’Ávila, é que foi o responsável por eu fazer teatro. Ele deu-me uma vez a ler uns poemas do Fernando Pessoa, disse que eu tinha imenso jeito para ler e que me ia apresentar ao professor dele, ao mestre dele, que era o Dr. Fernando Amado, da Casa de Comédia. Iam fazer O Marinheiro, do Fernando Pessoa, aquele drama estático que ele escreveu em que são três veladoras. E faltava uma veladora. São três raparigas que estão a velar o irmão que está morto no caixão. Tem frases tão bonitas como isto: “à beira mar somos tristes quando sonhamos, não podemos ser o que queremos ser porque o que queremos ser queremo-lo sempre ter sido no passado; quando a onda se espraia e a espuma chia há mil vozes mínimas a falar”. É muito bonito isto.

Tem boa memória.
E por acaso nem é uma fala minha, é uma fala de uma outra pessoa. Fomos ao Brasil com isso. O João fundou o Grupo Fernando Pessoa, era um apaixonado, fomos ao Brasil e conhecemos o Manuel Bandeira, o Vinícius de Moraes que foram assistir ao nosso espetáculo. É uma grande história que nunca mais acaba.

Isto antes d’Os Verdes Anos?
Isto tudo antes d’Os Verdes Anos. Fiz essa peça no Centro Nacional de Cultura, ao pé do [teatro] São Luiz, estava lá a televisão e filmou aquilo. Convidaram-me logo no dia a seguir para ir fazer teatro na televisão e eu fiz. Fiz duas peças de teatro na televisão. O Paulo Rocha viu-me e convidou-me para fazer o filme. 

Como é que foi esse encontro?
Fiquei muito entusiasmada porque eu também gostava muito de cinema, como espectadora. Para mim era engraçado, era giro. 

Júlio (Rui Gomes) e Ilda (Isabel Ruth) formam o casal protagonista de "Verdes Anos" (1963), de Paulo Rocha

col. Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

Os Verdes Anos é tido como o filme inaugural do Cinema Novo Português. Teve essa perceção quando fez o filme, de que estava a fazer algo novo?
Não, não, nenhuma. Aquilo chateava-me imenso. Andar ali a filmar coisas que não gostava de dizer. Tinha muitas dúvidas. O Paulo dizia: “agora diz”, e eu dizia: “não digo, não gosto de dizer isso, ela nunca podia dizer isso”. Acho que foi por não ter escola, nunca andei no conservatório. Mas tinha a dança, havia todo esse dramatismo em mim. Até pela minha infância, havia muito dramatismo na minha vida. Essa veia artística que todos nós temos veio a mim através da dança, sempre muito sonhadora. Havia uma pessoa que dizia que eu vivia como se eu vivesse numa redoma e é verdade. Eu ignorava tudo que se passava à minha volta. Não sabia quem era o chefe de estado, não ligava nada a isso. Vivia só na dança, a dançar nos meus sonhos. 

Quando é que saiu dessa redoma?
Já tinha 30 e tal anos. Casei-me com 18 anos e não sabia quem era o Salazar. Não sabia. Não ligava. A minha família não era politizada. A minha mãe era uma pessoa muito trabalhadora, foi enfermeira e parteira, casou com 14 anos e eu nasci quando ela tinha 18. O meu pai tinha uma farmácia em Buarcos e a minha mãe ia todas as segundas-feiras para Coimbra fazer o curso de enfermeira parteira. O meu pai estava na farmácia e nós miúdas ficámos com uma empregada. A minha mãe ia tirar o curso, passava a semana toda em Coimbra e só voltava aos fins de semana para Buarcos.

"Isto é tudo ilusório, a matéria, é uma passagem. Nós estamos de passagem. É ao mesmo tempo uma coisa maravilhosa, ter este corpo e existir. É uma coisa valiosíssima"

Reconhece na sua mãe uma mulher livre?
Não tinha esses juízos de livre ou não livre. Sempre me senti livre.

Como falava da redoma, há pouco.
Porque vivia no mundo da música da dança. Era a minha coisa. Na escola sempre foi muito aérea, era muito boa em em português — nem sequer era literatura porque só fui até ao quinto ano, não fui até ao sétimo sequer, porque me casei, porque deixei de estudar. Tinha imensas aulas de dança. É como os futebolistas, o que queria era só a dança. A minha vida, desde os 12 até aos 23, foi só aulas e espetáculos de dança. Era o meu mundo. Chegava a casa, fechava-me num quarto e em vez de estudar punha o Rachmaninoff, o Wagner, o Berlioz e o Mozart. Era tudo o que conhecia aos doze anos. O Rachmaninoff para mim é muito particular porque foi uma música que dançámos numa companhia logo ao princípio. É uma grande história, isto nunca mais acaba. 

Quando sai do mundo da dança e descobre o mundo do cinema, o que é que descobre sobre si?
Nunca pensei muito sobre mim, sabe? Vivi com tanto entusiasmo essas coisas que nunca me observei. As pessoas gostavam de mim. Comecei a ficar muito bonita quando me casei. Antes não era nada, é um facto. Sempre fui uma miúda com muitos complexos porque tinha uma irmã muito bonita, que morreu a semana passada. A minha irmã era mais velha e era uma rapariga linda, linda, até foi Miss Portugal. Eu era a miúda apagada, tímida, com as perninhas magrinhas [risos]. Quando andava a estudar em Tomar ia para a escola a correr porque os miúdos vinham atrás de mim e chamavam-me macaca elétrica. Eu era de dar muitos passinhos. 

Há um diálogo n’Os Verdes Anos em que a dada altura a Ilda (Isabel Ruth) diz ao Júlio (Rui Gomes): “Lembras-te do que costuma dizer o teu tio? A gente não deve sair de onde está sem saber para onde vai nem o que vai fazer”. A Isabel viajou muito. Sempre soube para onde ia e o que queria fazer?
É engraçado porque tanto os Verdes Anos como o Mudar de Vida foram numa época em que realmente mudei de vida. Depois do Mudar de Vida mudei de vida mesmo. Gostei muito do Paulo porque o Paulo contava-me imensas histórias enquanto nós esperávamos pela iluminação e por aquilo tudo. Contava-me todas aquelas lendas japonesas e coisas que ele estava a aprender. Metia-se no quarto, às vezes, porque nós filmámos em casa dele, os interiores eram quase todos em casa dele, da mãe dele. Gostava imenso de o ouvir e ele também estava muito fascinado comigo. Tinha-se apaixonado por uma japonesa colega dele quando estava a estudar em França, em Paris, acho que foi por isso que quis aprender japonês. Ele é uma pessoa bastante peculiar. 

A atriz em "Mudar de Vida" (1966), segunda longa-metragem de Paulo Rocha

col. Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

Fala-se da eterna relação entre realizadores e atrizes enquanto musa…
Ah, mas eu não fui musa para ele. Não fui como o [Jean-Luc] Godard, como é que se chamava a musa do Godard? 

A Anna Karina.
Sim, ou para [Michelangelo] Antonioni a Monica Vitti. Eles eram namorados, eram amantes. Eu não, eu estava casada, estava para ter bebé. Estava bem casada, muito feliz com o meu marido. Nunca me apaixonei pelo Paulo. Ele por mim sim, eu por ele nunca. Achava-lhe piada e àquelas histórias, mas ele era assim uma pessoa meia etérea. Mas depois não era tanto porque houve momentos em que manifestou abertamente a paixão que tinha por mim. 

No documentário Marginália I — Preâmbulo, que acompanha a rodagem do filme O Rio do Ouro (1998), fala sobre o reencontro com o realizador Paulo Rocha, várias décadas depois, assim: “Deixei de ser a menina que ouve passivamente, e passei a ser a pessoa que tem algo a contestar”. E diz ainda: “Às vezes tenho pena de o Paulo não se deixar amar na totalidade. Talvez tenha medo de ser amado.”
[Silêncio] Depois mudei toda a minha visão. O Paulo ao mesmo tempo era fugidio também. Ele era muito narcisista, porque aquelas histórias que ele me contava… Eu era uma pessoa muito pouco faladora. Sou muito faladora agora, mas não era nada faladora. Era antissocial. Só falava com as pessoas que já conhecia muito bem. Era muito ignorante socialmente. Não sabia o que é que se passava. Ouvia falar de política e não percebia nada. 

O que mudou? Disse que foi aos 30 que saiu da redoma.
Vivi muito até aos 32 anos, descobri muita coisa. Descobri que tinha capacidades incríveis e que não sabia, não tinha noção do valor que uma pessoa tem, do meu próprio valor. Não é o “ai, eu sou fantástico”. É as possibilidades. Aquilo que nós somos. Andava muito absorvida com as coisas, passei por muitos sofrimentos quando era miúda, com as mortes do meu irmão, do meu avô, a separação dos meus pais. Fui uma miúda com uma vida… A infância até os meus pais se separarem foi boa, os meus pais eram muito novos. A minha mãe era muito bonita, muito jovem, gostava muito de nós e dava-me muitos beijinhos. Tive um amor sempre muito grande pela minha mãe. O meu pai não, estava sempre muito ausente e era muito mulherengo, zangavam-se. Casaram-se muito novos. A minha mãe aos 23 ou 24 já estava divorciada, pediu o divórcio, foi-se embora e ficou com as filhas. A minha mãe era uma mulher incrível. 

Na altura, uma mulher pedir um divórcio ainda era visto como revolucionário.
Ela era uma mulher completamente independente. Era muito boa enfermeira, adorava o que ela fazia. O meu pai foi para África, depois mandou-nos ir e passado um ano fomos. Chegámos lá e o meu pai não aparecia. A minha mãe ficou perdida. Depois lá finalmente apareceu e a minha mãe foi logo para uma maternidade. Ajudou imensos bebés a nascer. Mas depois ela não se deu bem com ele e pegou em nós e meteu-nos num barco. O barco levava um mês de viagem de Luanda a Lisboa. Entretanto o meu irmão morreu cá, ficou com os avós, a minha mãe soube e quis ir logo vir embora. O meu pai andava sempre em viagens por África e ela sabia que ele tinha lá outras mulheres. Deixou-lhe uma carta a dizer: “olha, vai à fava”. Não foi assim, mas foi mais ou menos [risos]. Meteu-se num barco connosco e fugiu. O meu pai era um homem tremendo, tinha um mau feitio. A mim nunca me bateu nem nada, mas os meus pais discutiam que andavam os pratos no ar. Eram dois miúdos. Mas a minha mãe era muito desenrascada, quando chegou cá a Portugal foi logo contratada para a CUF e até ter o meu filho nunca paguei médicos na minha vida. 

Ouvi-a contar que foi ela a cuidar do seu filho também quando a Isabela decidiu ir para a Itália no final dos anos 60.
Sim, foi ela. Como era muito nova, o meu irmão tinha morrido e o meu filho foi o primeiro a nascer, foi como uma ressurreição. Ressuscitou o filho dela. Ela agarrou-se ali, também ainda era muito nova.

Como é que se toma uma decisão dessas? Tinha feito Os Verdes Anos e o Mudar de Vida, grandes sucessos, uma carreira em franca ascensão, e decide largar tudo e ir para Itália.
Porque acabou o meu casamento. Fui eu que acabei com o meu casamento porque tinha de ser. Tinha que desbravar, tinha que crescer, tinha que me conhecer. Desde miúdos somos manipulados pelos pais, pelos professores, pelos livros, pelos filósofos, por tudo. Acho que vivi bastante protegida, sobretudo pela minha mãe, porque o meu pai não vivi com ele a partir dos 6 anos. Ficou em África, casou e teve filhas. 

"Precisamos de amor, de uma casa por causa das intempéries, de comida. Precisamos de muito pouco. Precisamos é de saber qual é o propósito da nossa vida. O que queremos fazer com a nossa vida?"

Sobre essa saída de Portugal disse numa entrevista: “eu tinha de viver outra dimensão que não a de trabalhar, ganhar dinheiro e ter família”. Quando é que percebeu que a sua dimensão era outra?
Durante muitos anos somos muito ignorantes, pelo menos eu. Estas guerras, tudo isto que está a acontecer é ignorância. Se as pessoas que fazem estas guerras pensarem: “quem sou eu? O que vale a pena viver neste mundo? O que é que eu preciso para viver neste mundo?” Nós precisamos de muito pouco. Precisamos de amor, precisamos de uma casa por causa das intempéries, do calor, do frio, precisamos de comida, de umas panelas para fazer comida. Tenho aqui muita porcaria [aponta para a cristaleira recheada] que acho que tenho de despachar. Isto não serve para nada. Nós precisamos de muito pouco. Precisamos é de saber qual é o propósito da nossa vida. O que queremos fazer com a nossa vida?

Quando foi para Itália foi à procura desse propósito?
Não. Quando fui para Itália foi porque tinha vinte e tal anos e tinha lá amigos, tinha lá o Bernardo Bertolucci, que já conhecia bem e queria fazer cinema em Itália. Gostava muito do cinema italiano, é maravilhoso, o Antonioni. Agora já vi filmes do Antonioni que detestei. Nós mudamos. Há filmes do Godard que não suporto. Não me venham falar no “mestre Godard”. Quais mestres? Mestre sou eu de mim própria. Estou muito atenta a pessoas que têm alguma coisa para me ensinar porque ainda não sei e se eu não sei eu tenho muita curiosidade de saber porque gosto imenso de aprender. Mas há pessoas com quem já não aprendo. Por exemplo, os filmes do Pedro Costa. Acho que ele filma bem, mas é o mundo dele. O Ossos (1997) é aquele mundo da droga, eu não quero esse mundo. Se fizesse um filme nunca faria um filme sobre a droga. Fazia um filme sobre a alegria, sobre o valor que têm as pessoas. Adorava ir ao cinema ver o Ingmar Bergman. Agora acho pesadíssimo, o homem estava mas é com aquela cabeça toda cheia de problemas e depois põe aqueles problemas todos no ecrã e temos que levar com aquilo tudo. Aquilo não nos traz felicidade nenhuma. 

Antes da entrevista comentava que gosta muito de ver séries ou programas de política. Como é que passou de não saber quem era Salazar para assistir a programas de política?
Ah, sim, estou muito atenta à política. É o que gosto mais de ouvir na rádio também. Ainda no outro dia fiz um discurso lá na Cinemateca e o José Manuel da Costa [Diretor da Cinemateca Portuguesa] veio-me perguntar: “então mas a Isabel agora está interessada em política?” Estava lá o Pedro…

Adão e Silva, ministro da Cultura?
Sim, estava lá. Comecei a falar assim um bocadinho. Porque realmente tive uma tomada de consciência muito profunda. 

De que forma?
Conheci um mestre realmente, um guru — que é uma palavra que as pessoas há uns anos ficavam chocadas e ainda hoje se calhar ficam chocadas. Ele nasceu na Índia, mas já não é Maharaji, agora chama-se Prem Rawat. A ciência anda toda à procura de quem somos, de onde é que nós vimos. Mas na Índia há milhares de anos que há um processo de nos interiorizarmos e encontrarmos essa dimensão dentro de nós. Isto é uma coisa autêntica. Quando vim para cá muito nova recebi um conhecimento, umas técnicas, deste mestre que eu conheci. Não foi na Índia, apesar de ter andado no Nepal, no Afeganistão, mas não conheci nenhum bramino, nem nenhum guru. É quando estou em Ibiza que tenho uma tomada de consciência: “O que é que ando aqui a fazer neste mundo? Quem sou eu?” Na véspera tinha ajudado pela primeira vez a nascer um bebé, de uma amiga minha. E tinha um problema, estava numa relação que estava a acabar, com um fotógrafo de quem tive uma filha. Pensei: “O que é que vale a pena?” Estava a viver há dois anos em Ibiza, tinha feito viagens, fiz cinco filmes em Itália, tinha estado com o Bernardo [Bertolucci] com muita intimidade, depois separámo-nos. Enfim, já tinha vivido tantas vidas. 

O que a leva a voltar, por fim, para Portugal?
Porque é aqui que tenho de dar aquilo que tenho para dar. É a língua que falo melhor, é o português. Não quis ficar no Nepal, conheci lá um senhor que até disse que lá podia ficar e dar lições de ballet. Mas tinha de dar a conhecer à minha família e às pessoas, em Portugal, que existe este paraíso aqui. E, afinal, o paraíso também acabou. O paraíso lá acabou com aquela guerra, entre o rei e as matanças, aquilo virou tudo. Isto é tudo ilusório, a matéria, é uma passagem. Nós estamos de passagem. É ao mesmo tempo uma coisa maravilhosa, ter este corpo e existir. É uma coisa valiosíssima e nós não apreciamos isso. Ter um corpo é uma coisa incrível, e que só pode acontecer de milhões em milhões de anos. Esta existência. Nós temos vida em nós. O corpo é matéria, mas a voz, o pensamento, o amor, o ódio, isso não é material, é uma coisa imaterial, não se vê. 

A atriz está a filmar com Luísa Sequeira um documentário sobre a sua vida

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Cumprem-se 60 anos desde a estreia d’Os Verdes Anos. Como olha para o filme hoje?
Você vê Os Verdes Anos de uma maneira e eu vejo de outra. Você se calhar acha que o filme foi… Vê o lado cor de rosa e eu, se calhar, vou-lhe mostrar o lado negro. Que não é assim, na minha vida não houve nada assim de tão negro. O mais negro na minha vida foi a morte do meu irmão, a morte do meu avô e… Foi um rapto. Mas disso nem sequer quero falar. Mas, apesar de tudo, há muita luz em mim, estou do lado luminoso das coisas. Isso não quer dizer que não tenha problemas, mas estou muito focada naquilo que vale a pena. Vejo estas lutas políticas… Não tenho idade nem estrutura para ser um político, mas, no fundo, há aqui muita ignorância.

Aprendi com este meu professor o que é essencial, o que me faz feliz e aquilo que vale a pena na vida. Que é muito próximo do que as religiões falam. Onde é que está o nosso lado bom? É no perdoar, no aceitar. Porque nós vamos embora. A minha irmã era linda e morreu com uma doença de pele raríssima. Nos últimos meses eu ia lá [a casa] e estava lá quatro horas a falar-lhe. Estive ao pé dela a falar-lhe do amor. Nós estamos em constante despedida. A morte é mais impressionante para os que veem do que para os que partem. Para ela foi um alívio. Eu estava à espera que ela partisse. Sabe porquê? Porque ela estava tão viva como eu estou agora a falar consigo. E passado dois dias morre. Estava cheia de vida, cheia de força, e no dia seguinte já não falava. Só queria respirar mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez. Até o respiro acabar. Este respiro é valiosíssimo. Deus é esta energia que a gente respira. Quando respirar tenha o maior respeito pelo seu respiro. Isso é que a mantém viva. Isso é que é Deus. Isso é que é o amor. Não há nenhum mestre que o explique. Pode-se viver maravilhosamente neste mundo aceitando isso.

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