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AFP/Getty Images

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Rosáceas do século XIII e a coroa de espinhos salva. O que estava no interior da Catedral de Notre Dame?

A coroa de espinhos que se acredita ter restos da que foi usada por Jesus salvou-se. Entre pinturas, "o grande órgão de Notre Dame" e as famosas rosáceas, estava muita história na Catedral de Paris.

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Nota – artigo atualizado às 13h38 de terça-feira, com informações atualizadas sobre o estado das rosáceas e do “grande órgão de Notre Dame”

Visitada por mais de 13 milhões de visitantes todos os anos (segundo refere o site oficial do monumento), considerada uma das obras mais simbólicas da arquitetura Gótica francesa, a Catedral de Notre Dame, em Paris, incendiou-se esta segunda-feira. Os motivos para as visitas, que tornam a catedral tão famosa, são muitos: os seus históricos vitrais, desde logo, estão entre os mais famosos das igrejas europeias. O destino dos imponentes sinos, das estátuas e das pinturas históricas do interior da Catedral é temido pelos franceses, mas a maior parte das obras de arte e símbolos históricos terão sido “salvaguardados”, revelaram os bombeiros de Paris esta terça-feira.

[Cinzas, silêncio e um enorme buraco no teto. O que resta no interior de Notre Dame]

Com duas torres gémeas com quase 69 metros de altura, as mais altas até à construção da Torre Eiffel, a catedral começou a ser construída em 1160 e ficou praticamente completa em 1260, embora tenha sido restaurada e renovada permanentemente ao longo dos últimos séculos.

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O “grande órgão de Notre Dame”

No interior da Catedral de Notre Dame estava um dos órgãos de igreja mais famosos da Europa — o site oficial do monumento arrisca mesmo dizer que se trata “provavelmente do mais famoso do mundo”. Inicialmente o vice-presidente da câmara de Paris, Emmanuel Gregoire, terá garantido que este teria sobrevivido “intacto” ao incêndio, em declarações à estação francesa BFMTV citadas pela agência de notícias Associated Press. No entanto, existiam também relatos que apontavam para que pudesse ter ficado danificado devido à água, mas sem danos irreversíveis.

Ao final da manhã desta terça-feira, o ministro da Cultura francês Franck Riester confirmou que o órgão sobreviveu ao incêndio, mas terá de ser restaurado.

Com perto de 8 mil tubos e cinco teclados, o “grande órgão de Notre Dame”, como também é conhecido, é o maior de França. Era um dos três órgãos existentes no interior da catedral (existia também o órgão do coro e um órgão mais pequeno, cujos estados estão por apurar) até ao início das chamas, tendo começado a ser concebido algures no século XIII.

A data de início da construção do órgão é duvidosa, mas já em 1330 os registos da catedral indiciavam pagamentos a um organista. Uns anos depois surge nos livros de registos da catedral o nome de Jean de Bruges, um organista que “ao que parece” poderá também ter construído órgãos, segundo o site do monumento.

O grande órgão de Notre Dame (@ Ludovic Marin/AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

O trabalho de construção do chamado “grande órgão de Notre Dame” foi progredindo do século XIII até ao século XVIII, atingido neste último período as proporções que tem hoje: “De século para século, o grande órgão cresceu e foi sujeito a múltiplas restaurações e reconstruções, até ganhar no século XVII as proporções que tem [ou tinha] hoje”, confirma o site da Notre Dame Paris. Em 2012, por exemplo, o som deste órgão abriu as festividades do 850º aniversário da catedral.

As pinturas, de Jacques Blanchard a Jean Jouvenet

Os bombeiros de Paris avançaram esta terça-feira de manhã que as “principais” obras de arte da Catedral terão sido “salvaguardadas”. No entanto, esta terça-feira de manhã, o ministro da Cultura francês não garantiu a resistência de todas as principais pinturas localizadas no interior da Catedral, dado que alguns quadros, pela sua dimensão maior, não terão sido retirados durante a evacuação — e o seu estado está ainda por apurar.

À data do incêndio, estavam na Catedral de Notre Dame muitas pinturas históricas. Eis algumas da série “Mays”, do século XVII e início do século XVIII:

  • “A descida do Espírito Santo” de Jacques Blanchard (de 1634)
  • “São Pedro a curar os doentes” de Laurent de la Hyre (1635)
  • “A conversão de São Paulo” de Laurent de La Hyre (1637)
  • “O corvo aos pés de São Pedro” de Aubin Vouet (1639)
  • “A pregação de São Pedro em Israel” de Charles Poerson (1642)
  • “A crucificação de São Pedro” de Sebastien Bourdon (1643)
  • “A crucificação de Santo André” de Charles Le Brun (de 1647)
  • “São Paulo cega o falso profeta Barjesu e converte o proconsul Sergius” de Nicolas Loir (1650)
  • “O apedrejamento de Santo Estêvão” de Charles Le Brun (de 1651)
  • “A flagelação de São Paulo e Silas” de Louis Testelin (de 1655)
  • “Santo André cheio de alegria perante a sua tortura” de Gabriel Blanchard (de 1670)
  • “O profeta Agabus a prever o sofrimento de São Paulo em Jerusalém” de Louis Cheron (1687)
  • “Os filhos de Sceva derrotados pelo demónio” de Mathieu Elyas (de 1702)

Outras pinturas que estavam no interior da catedral parisiense pelo menos até à data do incêndio eram a “Saint Thomas d’Aquin, Fontaine de Sagesse”, de autoria atribuída a Antoine Nicolas e que remontará ao século XVII (mais especificamente a 1648), e “La Visitation“, pintada por Jean Jouvenet em 1716. Esta última, localizada na ala oeste da capela Saint-Guillaume, é mesmo “uma obra prima do século XVIII”, refere o site do monumento.

La "Visitation", pintura de Jean Jouvenet de 1716 que estava no interior da Catedral Notre Dame pelo menos antes do incêndio (fotografia do site oficial da catedral parisiense)

A estátua do século XIV

Ao todo, contavam-se no interior da Catedral de Notre Dame mais de 30 representações da Virgem Maria. Uma das estátuas tinha aliás o mesmo nome da catedral: “Notre Dame de Paris”. Terá sido esculpida no século XIV e foi transferida para a catedral mais famosa de França em 1855. Pelo menos até esta segunda-feira, existia também uma estátua de Santo António, em homenagem ao santo nascido em Lisboa no século XII — e ainda o “Mausolée du comte d’Harcourt”, esculpido por Jean-Baptiste Pigalle em 1776.

“Notre Dame de Paris”, ou “Nossa Senhora de Paris”, uma das esculturas no interior da Catedral parisiense (fotografia do site oficial da Catedral de Notre Dame)

A somar a estas obras, existia ainda no coro da igreja um conjunto de peças feitas entre 1300 e 1350 por Pierre de Chelle, Jean Ravy e Jean Le Bouteiller. No transepto (a galeria transversal que forma a cruz com a nave central de uma igreja, neste caso da catedral parisiense) sul da Catedral de Notre Dame estava ainda a estátua “Sainte Thérèse de l’Enfant-Jésus”, feita em pedra calcária por Louis Castex em 1934. Por cima dos três portais da catedral, existia também uma galeria de 28 estátuas que representavam os reis de Israel. Estas 28 estátuas, contudo, eram réplicas, dado que as originais foram decapitadas durante tumultos em Paris.

Por sorte, na última semana foram retiradas algumas estátuas da Catedral de Notre Dame, para trabalhos de conservação e restauro. Ainda não se sabe se há estátuas importantes danificadas, mas os bombeiros parisienses deram motivos para otimismo esta manhã quando revelaram que as principais obras de arte da Catedral de Notre Dame foram “salvaguardadas”.

[Estas estátuas voaram pelos céus de Paris e salvaram-se do fogo por quatro dias]

As rosáceas do século XIII

O site do monumento francês chama às suas três rosáceas em vitral “uma das grandes obras-primas do Cristianismo”. Depois de a imprensa ter noticiado durante a noite desta segunda-feira que as rosáceas teriam sido irremediavelmente danificadas pelas chamas, o porta-voz da catedral, André Finot, revelou à estação francesa BFM que “pelo que pôde ver”, as rosáceas mais antigas “continuavam lá” sem danos visíveis.

No balanço que fez ao final da manhã desta terça-feira, contudo, o ministro da Cultura francês só garantiu a sobrevivência da rosácea norte da catedral. O estado das restantes duas rosáceas causa preocupações, já que os vitrais terão ficado danificados. Não se sabe, por ora, se os danos são irreversíveis ou resolúveis através de restauro.

As três rosáceas representam “as flores do paraíso”, explica o jornal francês Le Figaro. O conjunto chamado “Rosa Sul” ou “Rosa do Midi” foi doado pelo rei Luís IX (1214-1270), desenhado por Jean de Chelles (o primeiro arquiteto a trabalhar na Catedral) e Pierre de Montreuil e foi edificado em 1260, no século XIII. Tem quase 13 metros de diâmetro (mais especificamente, 12.90m) e cerca de 19 metros de altura, se à altura dos vitrais for adicionada a altura do seu suporte. Ao contrário de outras rosáceas da catedral, a “Rosa Sul” é dedicada ao novo Testamento, tendo 84 painéis espalhados por quatro círculos e mostrando, por exemplo, cenas da vida de São Mateus. Os vitrais tiveram de ser reconstruidos e restaurados durante os séculos XVIII e XIX. No site da catedral, lê-se: “A Rosa Sul simboliza o Cristo triunfante sentado no Céu, cercado por todos aqueles que foram suas testemunhas na Terra”.

A "Rosa Sul", uma das rosáceas vitrais da Catedral de Notre Dame, em Paris, que poderá ter ficado gravemente danificada pelas chamas (fotografia do site oficial da catedral parisiense)

A sacristia da igreja foi reconstruida inteiramente entre 1845 e 1850, após os saques e destruição decorrentes dos tumultos em França em 1830 e 1831. Foi nesse período que foram reconstruidos os vitrais das dezoito janelas localizadas nas arcadas dos claustros do edifício. Estes vidrais representam vários episódios da lenda de Santa Genoveva, a padroeira da cidade de Paris. Por baixo de cada janela, era possível ver uma inscrição latina descrevendo a cena reconstruída pelo escultor e artista pariense Alfred Gérente.

Nas janelas altas da nave — a ala central da catedral, onde os fiéis assistem aos serviços religiosos –, renovadas no século XIX, estão também vitrais do francês Jacques Le Chevallier, já do século XX. Outro marco essencial da Catedral de Notre Dame é as suas famosas gárgulas.

Os portais de Santa Ana, da Virgem e do Julgamento

Na fachada frontal da Catedral parisiense Notre Dame estão três portais especialmente simbólicos. Um dos três portais da Catedral é o Portal de Santa Ana, o primeiro a ser instalado na fachada do monumento. A origem do portal não é certa, mas estima-se que tenha sido instalado por volta de 1200. No portal, vê-se Maria com uma coroa, um ceptro e com Jesus ao colo. A colocação deste portal logo na fachada surge como representação da chamada de Maria e Jesus aos fiéis para entrarem no interior da sua igreja. À sua direita e à sua esquerda, Maria tem um anjo.

O Portal de Santa Ana, na fachada da Catedral (@ P. Lemaitre / site oficial da Catedral de Notre Dame)

Instalado algures entre 1220 e 1230, o portal central da fachada ocidental da catedral representa a cena do Último Julgamento tal como foi escrita no Evangelho Segundo São Mateus. Por sua vez, à esquerda está o portal da Virgem, instalado na fachada antes do anterior mas depois do Portal de Santa Ana. Este (instalado portanto nas primeiras duas décadas e meia do século XIII) retrata a morte de Maria segundo a narração cristã, a sua ascensão ao Paraíso e a sua coroação como Rainha dos Céus.

Os dez sinos e Emmanuel, que só tocava em ocasiões especiais

Na Catedral de Notre Dame existiam dez sinos. O maior (tinha 2.61m de diâmetro) e mais simbólico chamava-se Emmanuel e era tocado em ocasiões marcantes, como a coroação de reis, o final de grandes guerras mundiais, a visita do Papa, épocas religiosas como o Natal e a Páscoa e momentos de grande consternação do mundo ocidental, como os ataques às torres gémeas World Trade Center a 11 de setembro de 2001. Este sino resistiu à destruição que resultou dos confrontos da Revolução Francesa, no século XVIII. A construção do sino foi concluída durante o século XV e Emmanuel foi reformulado em 1691, a pedido do rei francês Luís XIV.

Um desenho do sino Emmanuel, que substitui um outro sino da catedral chamado Jacqueline, que foi doado em 1400 (@ Hulton Archive / Getty Images)

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Outros quatro dos restantes nove sinos da Catedral de Notre Dame foram substituídos por danos provocados durante a Revolução Francesa. Estes quatro sinos foram colocados no topo da torre norte em 1856.

Na torre sul estava o segundo sino de maior dimensão da catedral parisiense, este chamado Maria. Os restantes oito sinos chamavam-se Gabriel, Ana Genoveva, Denis, Marcel, Étienne, Benoît-Joseph, Maurice, Jean-Marie.

A Coroa de Espinhos e a Túnica de São Luís

A origem histórica não é certa, mas há documentos que apontam para o século IV, segundo refere o jornal inglês The Independent. Longe da vista de quem visitava a Catedral de Notre Dame na maior parte do tempo (recentemente podia apenas ser vista e venerada na primeira sexta-feira de cada mês), a Coroa de Espinhos ali presente terá partículas da Coroa de Espinhos que crucificou Jesus Cristo, acreditam os fiéis. Esta peça, na sua totalidade, terá tido origem em Jerusalém e chegou a Paris por ação do rei Luís IX, no século XIII. Acabou por ser salva das chamas, avançou ainda na segunda-feira o reitor da catedral, Patrick Chauvet.

Outra das obras de arte que foram salvas das chamas, segundo já revelou o presidente francês, foi a chamada “túnica de São Luís”, que se acredita que terá sido usada pelo rei de França Luís IX (São Luís) quando morreu numa cruzada na Argélia. O antigo monarca francês foi canonizado em 1297 e a túnica — que se acredita sua, até pela sua origem história coincidente e pela estética coerente com o vestuário do rei — tornou-se uma relíquia história.

No interior da Catedral de Notre Dame estava também um objeto que se acredita conter partículas da cruz com que Jesus Cristo terá sido crucificado.

https://observador.pt/videos/atualidade/um-monumento-historico-em-chamas-as-imagens-do-incendio-na-catedral-de-notre-dame/

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