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Um ano de famílias na TV à procura da redenção: as séries que mais gostámos de ver em 2023 (e as desilusões)

Entre milionários, cozinheiros, apocalipses e cientistas, ao longo de meses em que as greves de argumentistas e atores foram protagonistas, as vitórias eram previsíveis. São estas as nossas escolhas.

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Chegado o momento de fazer um balanço deste 2023 em séries, o mais óbvio e imediato é dizer o inevitável: este foi um ano difícil. Com as mudanças na indústria do streaming (adaptação face a maus resultados financeiros, maior concorrência, menos assinante em algumas plataformas, novos métodos aplicados ao negócio publicitário) e as greves em Hollywood (e sobretudo graças a estas), a produção dos grandes jogadores deste campeonato baixou consideravelmente. Planos foram adiados, o que quer dizer que estreias e rodagens viram datas alteradas. A colheita foi condicionada e a qualidade geral de 12 meses de ecrãs baixou consideravelmente.

Assim, poucas produções conquistaram grande atenções. Foi o caso de Succession, que terminou no melhor momento — ou seja, quando a série está em pico de forma — e foi também o caso de The Bear, cuja segunda temporada não foi tão unânime como a primeira mas que, ainda assim, conseguiu estar entre as favoritas do ano. Ao mesmo tempo, porque a produção e o investimento subiram, as séries portuguesas ganharam mais adeptos e maior tempo de antena. Se Rabo de Peixe (a segunda produção nacional na Netflix, depois de Glória) foi um caso de sucesso nos números (com segunda temporada a caminho), trabalhos com características mais autorais e menos mainstream colocaram o foco no argumento e nas interpretações “solitárias” para se revelarem pequenas grandes joias — como foi o caso de Emília, que aqui surge também nas listas de favoritos do ano.

Como sempre, estas são listas escolhidas pelos jornalistas e colaboradores do Observador que habitualmente escrevem sobre séries. Não são seleções absolutistas, antes apresentam-se como propostas de reflexão sobre um ano que termina sem grande estrondo, mas com algumas ótimas histórias.

Alexandre Borges

MELHOR SÉRIE: “The Bear”, temporada 2 (Disney+)

Talvez o mais justo fosse dizer Succession, mas, nesta como noutras matérias, conta tanto o que as coisas são como aquilo em que acreditamos que se possam tornar – e Succession já acabou e The Bear ainda pode crescer para ser tudo o que quiser. Após a segunda temporada, confirmamos a impressão da primeira: é difícil convencer alguém a ver The Bear porque é difícil explicar porque é que The Bear é bom. Aliás, nem sei se todos acharemos The Bear bom pelas mesmas razões. Por aqui, gostamos de The Bear pela hipersensibilidade dos seus sentidos: é um regalo para os olhos, para os ouvidos e, aqui e ali, até para o tato (paladar e olfato “go without saying”), de cada vez que quase garantiríamos sentir a textura das coisas, das sobremesas de Marcus ao fato de Richie. E pela liberdade com que empenha um episódio inteiro a seguir uma personagem secundária. Ou à volta de um só jantar. Ou pelo atrevimento de meter literalmente o protagonista num frigorífico e tirá-lo do desenlace da sua própria história. E, depois, aquele amor aos R.E.M..

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MELHOR EPISÓDIO: “Church and State”, da temporada 4 de “Succession” (HBO Max)

Os irmãos Roy no episódio "Church and State", da última temporada de "Succession"

Se é difícil explicar porque é que The Bear é bom a quem nunca viu, Succession é difícil de explicar até a quem já viu. É mesmo preciso persistir para descobrir os encantos de uma série onde as personagens são deliberadamente odiosas, cínicas e, amiúde, imbecis, mas quem resiste é premiado com a superioridade de coisas como Church and State, penúltimo episódio da série e, basicamente, a longa-metragem que, esperemos, nunca se lembrem de tentar realmente fazer (esses saltos da televisão para o cinema costumam correr inexplicavelmente mal). É o funeral de uma personagem central e o requiem por uma América. O Wall Street para o nosso tempo maníaco.

MELHOR PERSONAGEM: Ellie (Bella Ramsey), “The Last of Us” (HBO Max)

Bella Ramsey como Ellie, na série “The Last of Us”

Podíamos falar de Kendall Roy, podíamos falar de Richie Jerimovich, mas decidimos aldrabar estas categorias que o nosso editor nos dá e usá-las apenas como pretexto para conseguir incluir uma referência à terceira melhor série do ano: The Last of Us. Porque, afinal, ainda é possível fazer-se alguma coisa nova com zombies, sentar-nos a ver mundos pós-apocalípticos, entreter-nos a falar de pandemias quando ainda temos máscaras cirúrgicas e zaragatoas no armário e deveríamos querer ouvir falar de tudo menos de bicharada dessa à solta. Ellie é metade da inesperada dupla de protagonistas: uma adolescente inexplicavelmente imune à doença provocada pelo fungo Cordyceps, que o cavaleiro solitário mais tradicional Joel (Pedro Pascal) tem de levar, através da América, até mãos seguras que a estudem em busca de uma cura para a Humanidade. Um fino equilíbrio entre vulnerabilidade e força, com uma pancada por jogos de palavras.

DESILUSÃO DO ANO: “Squid Game: O Desafio” (Netflix)

"Squid Game — O Desafio" está disponível na Netflix

Gato por lebre – ou o que é mais estranho ainda, por lula. Um reality show disfarçado de série de ficção que não se percebe a que público se destina. Algures, há mesmo em preparação uma segunda temporada para a perturbadora série coreana que nos pôs, em 2021, a pensar nos excessos a que nos leva um mundo onde o dinheiro é o único deus e o individualismo a derradeira religião. Por enquanto, a Netflix decidiu apenas praticar ela própria um pouco mais disto tudo e pôr concorrentes reais a atraiçoarem-se sem o mínimo de pudor pelo “sonho” de ganharem 4,56 milhões de euros. Deem-me a vaca Cornélia.

André Almeida Santos

MELHOR SÉRIE: “The Bear”, temporada 2 (Disney+)

Pensar na segunda temporada de The Bear convida ao tic-tac constante para a abertura do restaurante. Como um batimento, a batida de uma música, marca o passo ao longo de toda a temporada. Mesmo quando as obras são enxotadas para o lado — e acontece em alguns episódios — a ideia está lá, alojada, a pesar. Sabe-se, por tudo o que acontece na primeira temporada, que se pode dar o caso de tudo explodir algures. O que até acontece, de forma inesperada, num flashback a meio desta segunda. O episódio Fishes experiencia-se como um filme de John Cassavetes feito para televisão — Jamie Lee Curtis faz honras de Gena Rowlands — e, tal como um Cassavetes, flui em conversas que não começam nem acabam, onde o mundo que está para trás e para a frente não interessa. Interessa o momento. Há um antes e depois deste episódio em The Bear. E esse antes e depois também ajuda a compreender esta temporada, remove-se a fachada da restauração e fica uma série sobre pessoas, comportamentos, relações a existirem no contrarrelógio. The Bear não só se reconstruiu como disse como é que deveria ser a maior parte da televisão em 2023.

MELHOR EPISÓDIO: “Long, Long Time”, da série “The Last Of Us” (HBO Max)

Nick Offerman e Murray Bartlett no episódio "Long Long Time", na série "The Last of Us"

O terceiro episódio de The Last Of Us assumiu-se como favorito nesta categoria logo em finais de janeiro. Há outros bons concorrentes: o já mencionado Fishes de The Bear ou até outro de The Last Of Us, o penúltimo, When We Are In Need. Porquê Long, Long Time? Pela forma como abandona tudo para contar a história de dois tipos que não se viram antes nem se verão depois na série. Durante décadas as adaptações de videojogos para cinema e televisão eram tratadas como uma coisa secundária, de nicho. The Last Of Us prometia ser algo diferente e tinha bases para isso. A matéria-prima jogava-se como um filme e o que resultou na série foi deixar um dos criadores do jogo — Neil Druckmann — trabalhar com Craig Mazin que faz ótima televisão. The Last Of Us é fiel ao original, nos princípios do terror, do apocalipse, da ideia de uma humanidade derrotada. Por isso, feitas as apresentações do mundo e dos dois protagonistas nos dois primeiros episódios, no terceiro mostra-se que aquele mundo também é feito de outras histórias, de pessoas. Eis a história de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), contada em oitenta minutos que ultrapassaram as expectativas.

MELHOR PERSONAGEM: Elizabeth Zott em “Lessons In Chemistry” (Apple TV+)

Brie Larson como Elizabeth Zott em "Lessons in Chemistry"

Brie Larsson impõe uma energia na protagonista de Lessons In Chemistry que a transforma para lá da personagem. Criada por Bonnie Garmus — autora do romance homónimo em que a série se baseia —, Elizabeth Zott foi inspirada em várias figuras femininas do século XX, silenciadas, discretas, à mercê das regras e padrões sociais. Zott age com uma força discreta, agiliza um montão de ideias sem se atropelar. Por exemplo, pode uma licenciada em Química, com enormes ambições na carreira, ser também uma estrela de televisão fincando o pé ao que o Homem pensou para ela? Zott existe como criação perfeita da televisão contemporânea, inteligente e desafiadora da instituição masculina em meados do século XX. Ela tem uma vantagem: usa as ferramentas e o pensamento que se criaram desde então. Construída com ideias fora do seu tempo, mas a viver no seu tempo. Está deslocada e vende uma mensagem forte: e se alguém assim tivesse existido mesmo? Essa ideia vence ao longo dos episódios de Lessons In Chemistry e demoniza o presente.

DESILUSÃO DO ANO: “The Crown”, temporada 6 (Netflix)

A atriz australiana Elizabeth Debicki como princesa DIana, na última temporada de "The Crown"

Está tudo na imagem acima.

Andreia Costa

MELHOR SÉRIE: “Succession”, temporada 4 (HBO Max)

Foi uma temporada estonteante para Succession, portanto, sem grandes dúvidas, é a melhor série de 2023. Mas, mais do que isso: está no top 5 das melhores da última década. Ao longo de quatro anos manteve-se consistente e conseguiu ser surpreendente e inesperada até à última decisão. Soube também sair de cena quando estava no topo do seu potencial (o historial da televisão já nos mostrou que não há nada pior do que uma série que não sabe reformar-se quando ainda tem energia).

Ao terceiro episódio, Connor’s Wedding, a série matou o patriarca. Uma decisão ousada, uma cena rápida, uma reviravolta. A partir daí, o caminho dos Roy — que há tanto se esventravam uns aos outros para decidir quem seria o sucessor de Logan — foi uma luta crua e violenta, como já se esperava, e uma jornada emotiva, coisa que não se esperava. Incapazes de lidar com emoções, os herdeiros receberam de bandeja um sentimento de perda e um desnorte. Shiv entrou em negação para logo a seguir se recompor e usar a gravidez a seu favor; Roman teve um esgotamento em pleno funeral, sem conseguir dizer duas frases seguidas; e Kendall atingiu o pico do delírio, ao insistir que o lugar de CEO do império de media devia ser seu por ser “o filho mais velho”; enquanto o verdadeiro filho mais velho, Connor, depressa deitou as mãos à casa do pai, querendo capitalizar em todas as frentes.

Ainda assim, por mais horríveis que estas pessoas fossem, criaram em nós um fascínio e uma dependência graças, por um lado, aos diálogos concisos, complexos, sarcásticos, duros e sem escrúpulos ou travão de Jesse Armstrong (também o criador da série) e companhia; e por outro, ao elenco encabeçado pelo incomparável Brian Cox. A família que podia ter tudo é, na realidade, a mais disfuncional e infeliz. No final, como se de uma tragédia grega se tratasse, nenhum Roy venceu absolutamente nada. Quem ganhou foi o mundo das séries — ah, isso e um abutre com um nome patético, Wambsgans.

MELHOR EPISÓDIO: “Fishes”, da segunda temporada de “The Bear” (Disney+)

O episódio "Fishes" da série "The Bear"

Assim que o vi, a decisão ficou tomada. Ainda havia muita coisa para ver mas nada, de certeza, que conseguisse igualar esta hora inteirinha de tensão. Estamos num episódio de flashback, num jantar de Natal da família Berzatto, que parece mais um campo de minas do que qualquer outra coisa. A cada cena nova, uma explosão diferente e a responsável por detoná-las quase todas é Donna, a mãe de Carmy. Quer manter a tradição e preparar uma refeição de sete peixes. Na cozinha o caos de tachos em ebulição, alarmes a soar e copos a transbordar dita aquilo que vai ser o tom de todo o episódio: pura loucura. Aquilo que poderia bem ser um momento de união e de partilha de memórias (mas que os filhos, Carmy, Sugar e Michael sabem à partida que jamais seria possível) transforma-se numa tarefa de malabarismo para tentar controlar as mudanças de humor de Donna, que é um mero fantoche de uma doença mental.

No meio do drama de ressentimentos e acusações deste núcleo de mãe e filhos há um círculo maior que se forma, com uma data de nomes conhecidos a desfilarem pelo episódio. Aparecem sem aviso, de forma surpreendente e como se não fosse nada assim tão importante. Mas é, até porque parece que foram todos feitos à medida para aquelas participações especiais. Além de Jamie Lee Curtis como Donna, Bob Odenkirk é o tio Lee, responsável por atiçar ainda mais os demónios de Michael (Jon Bernthal, outra aparição esporádica que é tão forte que é possível sentir-lhe a presença mesmo nos episódios em que não aparece). Sarah Paulson é a ponderada prima Michelle, que está estranhamente serena perante a trapalhada que se desenrola à volta, uma inevitabilidade contra a qual já deixou de lutar há muito certamente. John Mulaney interpreta o namorado, Stevie, mais perdido na embrulhada dos Berzatto do que nós.

O que The Bear cozinhou para Fishes é mais rico do que qualquer menu de degustação. É uma dança que se prolonga o dobro do tempo que um capítulo desta série (geralmente 30 minutos) e onde nunca há passos trocados. Do elenco aos diálogos, passando pelo caos visual de luzes, comida e cacos, o episódio é ainda mais valioso porque explica porque é que Carmy teve de se afastar da família e justifica todos os demónios que o atormentam na atualidade.

MELHOR PERSONAGEM: Donna Berzatto, “The Bear”, temporada 2 (Disney+)

Jamie Lee Curtis como Donna Berzatto, na segunda temporada da série "The Bear"

Só precisou de um episódio para ser a personagem do ano. A partir do momento em que a vemos naquela cozinha com a cara carregada de maquilhagem e unhas gigantes, todas as outras personagens podem sentar-se a descansar (tentem de novo para o ano). Donna Berzatto já tinha sido mencionada várias vezes (sabíamos que era uma mão cheia de problemas), mas nunca tinha realmente aparecido. Espampanante e barulhenta, é a matriarca de uma família disfuncional (e a grande responsável pelos medos, traumas e inseguranças dos filhos). Ela tem uma missão: cozinhar o jantar de Natal da família e está focadíssima nas 350 tarefas que tem a acontecer ao mesmo tempo. Porém, também parece ter sempre ativado o modo de auto-sabotagem. Por mais que a intenção seja boa, logo a seguir estraga (seja com o que diz, seja literalmente arruinando um dos pratos). O olhar de Donna oscila entre a ternura, a dor, a dureza e a incompreensão — por vezes parece mais perdida do que uma criança à procura do colo dos pais. Saúde mental e adição são a luta constante desta mulher (apesar de muitas vezes não parecer sequer que está a tentar combater os seus problemas), que tanto quer agradar aos filhos como os afasta com uma frieza impactante. A tristeza profunda e a solidão são disfarçadas pelos picos opostos de gargalhadas e da presença que domina uma sala inteira, mas essa montanha russa é difícil de acompanhar, sobretudo para os desgraçados (os filhos) que tentam travá-la sem grande sucesso.

Agora que a conhecemos, é impossível imaginar Donna nas mãos de outra atriz que não fosse Jamie Lee Curtis, mas isso esteve quase para acontecer. Ela era o nome que os guionistas queriam mas parecia inatingível (estava a caminho do Óscar pelo filme Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo). A produção de The Bear tentou então Michelle Pfeiffer. Foi um não. E depois tentou Melanie Griffith. Outro não. Depois disso, havia pouco a perder e foi feito o convite a Curtis. Sem ninguém da série saber, a atriz era fã de The Bear e terá dito um dia, num dos primeiros episódios em que Donna é mencionada, que aquele papel seria dela. Aos Berzatto calhou a mãe mais incontrolável e difícil de amar, a nós (espectadores) calhou-nos o primeiro prémio da lotaria de Natal.

DESILUSÃO DO ANO: “The Bear”, temporada 2 (Disney+)

A segunda temporada de "The Bear" está disponível na DIsney+

O melhor episódio é da série The Bear, a melhor personagem é da série The Bear, mas a série The Bear é a desilusão do ano? Não, não é engano. O problema está na primeira temporada, que foi tão boa, tão boa que as expectativas estavam altíssimas relativamente à segunda. É um projeto que evoluiu, sem dúvida, que desta vez dedica mais tempo a explorar as personagens e a fazê-las evoluir. Houve capítulos inteiros focados em determinado arco narrativo (Honeydew leva Marcus até à Dinamarca, Forks transporta Richie para uma jornada que vai muito além da cozinha). Sozinhos são mini peças de arte. No entanto, todos esses desvios ditaram que o caos, a gritaria e o frenesim que fizeram da estreia um dos fenómenos de 2022 fossem relegados para 15.º lugar, parecendo muitas vezes que não estávamos a ver a mesma série. Se seria repetitivo The Bear dar-nos mais do mesmo na segunda volta? Seguramente que sim mas, por vezes, a única coisa que queremos é voltar àquele restaurante específico e comer sempre o mesmo prato.

José Paiva Capucho

MELHOR SÉRIE: “Barry”, temporada 4 (HBO Max)

Talvez não seja a escolha mais consensual, mas no ano de grande sucesso da HBO, com The Last of Us e a última temporada de Succession, o mais justo seria escolher outra série da HBO. A história do soldado perturbado tornado assassino com vontade de ser ator, protagonizada por Bill Hader, tem mesmo de levar a estatueta de melhor série do ano na quarta (e derradeira) temporada. Principalmente porque fecha bem. E sabe Deus como é complicado fechar uma série — olá, Guerra dos Tronos, tudo bem? Esta criação do antigo humorista de Saturday Night Live merece tudo e mais alguma coisa. Pela realização inventiva, cheia de tons humorísticos camuflados pela seriedade de cada situação. Por cada personagem: o professor de atores, a  irritante namorada, o “padrinho” de Barry, os traficantes homossexuais. Todas elas misturadas com estereótipos de personas americanas num cocktail repleto de ação que tem sempre algo de surpreendente à espreita. E pela coragem de pisar a linhagem de outras séries, como Breaking Bad ou Better Call Saul, com uma narrativa original, cheio de diálogos divertidos e de algumas reflexões sobre a vida vindas dos seres menos expectáveis. Nesta quarta temporada, todas as portas se fecham. Ou a da morte vai mesmo abrir-se. Haverá algo melhor para o espectador do que o suspense de perseguir a conclusão de um protagonista? E a questão: quem é verdadeiramente o vilão? Depois, o difícil é apanhar a comédia neste jogo de homens maus e sujos quando já todas as personagens desesperam por se salvar. Mas ela está lá, é preciso é ter a mira bem apontada.

MELHOR EPISÓDIO: qualquer um de “How To With John Wilson”, temporada 3 (HBO Max)

John Wilson, o criador e protagonista da série que batizou com o próprio nome

Destapar todos os recantos do puzzle vivo que é Nova Iorque, feito de criaturas mirabolantes que no fim só precisam mesmo de candura. É este o objetivo de John Wilson. Cada episódio das três temporadas parece um conto para adultos sem malícia, que mostra bem quão fragmentados estão os Estados Unidos da América. Trata-se de um manual de existência (e de sobrevivência) que qualquer um pode — e deve — abraçar, dentro do desconforto que o próprio autor emana. Se quer aprender a limpar as orelhas, consulte John Wilson. Se quer aprender a fazer exercício, consulte John Wilson. Mas se também quer aprender a lidar consigo ao espelho ou a ser honesto, tem mesmo de consultar os episódios desta terceira e última temporada.

MELHOR PERSONAGEM: Emília em “Emília” (RTP1)

Beatriz Maia, a protagonista da série "Emília", da RTP

Emília, de Filipa Amaro (Frágil, RTP Lab), produzida por Maria & Mayer, série fresca, nova, com ambição, sobre uma bailarina desajeitada (Beatriz Maia) que, no meio do desconforto, vai à procura da sua identidade. A atriz, também da peça Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, revela, ao longo de sete episódios, que é possível dar corpo a personagens dos nossos dias, com medo daquilo que os outros pensam de nós, do que os outros escrevem nas redes sociais, do que fica por dizer e do que já não se pode dizer, sem quase se notar o baixo orçamento que a série teve. Uma série e uma protagonista que despertam o público, sem nacionalismos, falsas emoções ou exercícios artísticos difíceis de captar no pequeno ecrã. E, sobretudo, dedicar, em primeiro lugar, muito tempo a trabalhar o guião, algo que teima em não ser resolvido no país, porque o resto tem sido assegurado. Do melhor que se fez este ano na televisão portuguesa. E uma belíssima personagem que merecia ainda mais episódios. Não admira que Filipa Amaro tenha sido escolhida por Augusto Fraga para escrever a segunda temporada de Rabo de Peixe. E que Beatriz Maia esteja a destacar-se cada vez mais na representação.

DESILUSÃO DO ANO: séries de super-heróis

A segunda temporada de "Loki" está disponível na Disney+

Já muito se escreveu sobre o que está a acontecer no mundo dos super-heróis. Ninguém diria que o vilão principal desta gente toda fosse, enfim, o seu próprio criador. Nota-se o cansaço, a repetição, a falta de público e a incapacidade dos donos da DC e da Marvel em conseguir sair do ruidoso caminho dos efeitos especiais e do fan service. Quer fosse Invasion ou Loki 2, ou mesmo Gen V, spin-off de The Boys, brilhante série que goza com todo este universo, nenhuma encheu as medidas. E o melhor é nem mesmo entrar nos filmes que saíram desta tropa de latex, porque a crítica seria bem pior. Séries como Wandavision até prometeram muito, mas a promessa durou pouco. Nomes como Kevin Fiege ou James Gunn começam a parecer curtos para salvar as sucessivas desilusões que estes conteúdos estão a gerar. Ou é um spin-off ou é um spin-off de um spin-off.

Pedro Silva

MELHOR SÉRIE: “Succession”, temporada 4 (HBO Max)

2023 foi o ano que viu terminar aquela que é não uma das melhores séries dos últimos anos mas, sem hipérbole, uma das melhores séries de sempre. A quarta e última temporada da criação de Jesse Armstrong encerrou com nota máxima a shakespeariana novela de intriga familiar pela sucessão e controlo de um império de imprensa e multimédia, elevando os padrões com que julgamos escrita, realização, fotografia e interpretações em televisão. Com os irmãos Roy de luto e em luta pelo legado do seu pai, os destinos do amaldiçoado trono foram incertos até ao último momento do derradeiro episódio, com a trama temperada com inúmeras traições, tensões e palavrões como fomos habituados desde o piloto. Depois de termos encerrado os ciclos de Better Call Saul (2022) e agora Succession, também o trono de Tremenda Série Dramática Que Devia Ser Estudada nas Escolas (TSDQDSENE, para abreviar, e que já pertenceu a The Wire, Sopranos, Six Feet Under e a Breaking Bad – quase todos, sem coincidência, da HBO) fica vago à espera de candidatos.

Menções Honrosas: The Last of Us (HBO Max), The Bear (Disney+), Jury Duty (Amazon Prime Video),  Daisy Jones and the Six (Amazon Prime Video)

MELHOR EPISÓDIO: “Fishes”, da segunda temporada de “The Bear” (Disney+)

"Fishes", o episódio número 6 da segunda temporada da série "The Bear"

A segunda temporada de The Bear é um pequeno prodígio e uma aula de como escrever e produzir televisão. Depois do enorme — e inesperado — sucesso da temporada de estreia, seria fácil dar mais do mesmo que tanto agradou ao espetador e colher os louros. Ao invés disso, The Bear mudou abruptamente o ritmo, trocando o frenesim incessante da cozinha em chamas que nos tinha apresentado pela caracolesca velocidade de uma remodelação profunda (quem já teve obras em casa, ou pior, na casa dos vizinhos, sabe bem do que estou a falar). Com isto, deu tempo e foco às suas personagens secundárias, concedendo-lhes profundidade e permitindo aos seus intérpretes brilhar. Haveria três ou quatro sérios candidatos a melhor episódio do ano só na segunda metade desta temporada. Este sexto, Fishes, será o mais óbvio, embora a simplicidade brilhante de Forks (episódio 7, com o Primo a estagiar num restaurante fino) e a realização imaculada do décimo e último (intitulado, redondamente, The Bear) tenham lugar muito alto em qualquer ranking.

Em Fishes, temos um flashback para um jantar de Natal da família Berzatto, num episódio com o dobro da duração normal na série e com um escalar de tensão construída meticulosamente e às costas das interpretações do absurdo lote de atores convidados – John Mulaney, Oliver Platt, Gillian Jacobs, Sarah Paulson, Bob Odenkirk e de uma soberba Jamie Lee Curtis como a matriarca alcoólica da família. É um episódio duro, desconfortável, a espaços hilariante e impossível de desviar o olhar e que nos ajuda a perceber o porquê de Carmy e seus irmãos serem como são.

MELHOR PERSONAGEM: Ted Lasso, “Ted Lasso”, temporada 3 (Apple TV+)

Jason Sudeikis, o protagonista da série "Ted Lasso"

Para não chover no molhado e colocar mais Succession (qualquer dos irmãos Roy, Cousin Greg, Tom e até Lukas Matsson podiam estar aqui) nesta categoria, permito-me uma escolha assumidamente emocional e zero objetiva que sei que vai fazer revirar os olhos de alguns mais cínicos. Também a série do treinador de futebol americano trasladado para a Premier League inglesa e o “nosso” futebol encerrou este ano. E se é verdade que só a primeira das três temporadas se pode julgar como verdadeiramente boa e que o mundo açucarado e delico-doce ali criado se calhar não tem sustentabilidade enquanto objeto narrativo em televisão, também acredito que personagens como Ted Lasso, ingénuo e otimista a full-time, são muito necessárias para equilibrar a balança de acidez e malvadez de coisas como Succession e, sobretudo, o mundo real em geral (não sei se têm visto notícias ultimamente, mas ao que tudo indica está tudo mal em todo o lado o tempo quase todo). Um verdadeiro ansiolítico em formato televisivo, administrado uma vez por semana, fez-me bem enquanto durou e não tenho vergonha de admitir que vai deixar saudades.

Menções Honrosas: Ron Gladden (Jury Duty), Charlie Cale (Poker Face), Daisy Jones (Daisy Jones and the Six)

DESILUSÃO DO ANO: “Black Mirror”, temporada 6 (Netflix)

A sexta temporada de "Black Mirror" está disponível na Netflix

“Expectativa é tudo na vida.” é frase que não me canso de repetir. E se talvez seja demasiado duro considerar esta nova temporada de Black Mirror uma desilusão, é preciso perceber que quando se trata de uma das mais relevantes e disruptivas séries já produzidas e que há quatro longos anos não nos dava novos episódios, é natural que essas expectativas estivessem irrealisticamente altas. Na verdade, quatro dos cinco episódios são, no mínimo, entre o “bastante interessante” e o “genuinamente bom”, um rácio admirável para a maioria dos produtos televisivos. O que me incomodou nesta temporada de Black Mirror foi a chocante maneira como Charlie Brooker abandonou, nos dois últimos episódios, o conceito central da série que criou.

O fio condutor que sempre uniu as histórias tão diferentes em género, estética, mensagem e tom produzidas desde 2011 ainda para a BBC foi a tecnologia e como esta é não apenas uma ferramenta para o ser humano usar mas um reflexo do seu lado mais sombrio. Sejam invenções futuristas (mas assustadoramente credíveis de tão perto que estamos de existirem) ou o desenterrar de tecnologias já obsoletas (como no sinistro Loch Henry, segundo episódio desta mesma sexta temporada), era a cola que unia este fascinante universo. Ora nos episódios 4 e 5 – Mazey Day e Demon 79 – Brooker desvia-se por caminhos do paranormal que destoam do profundo desconforto que os episódios clássicos provocam precisamente por serem tão próximos da nossa realidade. E se Demon 79 ainda consegue apresentar uma divertida história (de alguma coisa que não é Black Mirror) com boas interpretações, Mazey Day é um vazio de ideias e intenções com pouco que se aproveite. Ainda assim, destaque para Beyond The Sea com Aaron Paul e Josh Hartnett numa impecável história de ficção científica que salva a temporada.

Susana Romana

MELHOR SÉRIE: “Succession”, temporada 4 (HBO Max)

E à quarta temporada, Sucession saiu de cena, sem se arrastar pelo repetitivo ou implausível, capaz de deixar o melhor para o fim. A última temporada dos Roy e da sua sempre violenta disputa sobre quem fica com o bilionário negócio de família foi feita com uma mestria que fará escola, sobretudo aquele episódio. Sim, aquele em que (os spoilers já caducaram?) morre a personagem principal, numa das mortes mais importantes da história televisiva recente, e esta nem sequer é mostrada ao público — ficamos claustrofobicamente em cima dos filhos, sem os largar, num plano de sequência de 28 minutos. O ataque cardíaco de Logan Roy a bordo de um avião privado, é uma lição de como tornar inesperada uma morte que, como espectadores, sabemos que vai acontecer desde o primeiro episódio (pelo tema da série e por a personagem em questão ter 84 anos). Na gramática televisiva, está num sítio com o qual ninguém contava (logo ao terceiro episódio), levando assim o restante da série para uma narrativa muito diferente das outras temporadas. Até ao último episódio, não sabemos quem ganha, quem perde, quem de facto se ama. Há discussões (como a épica entre Tom e Shiv na varanda), há momentos amorosos (os irmãos em modo infantil, a fazer um batido nojento que Kendall manda pela goela abaixo), há empatias inesperadas (entre as várias viúvas de Logan), há frases que ficam (“I’m the eldest boy!”) e há traições shakespereanas (querem mesmo que conte o fim?). Succession é a melhor série de 2023 e, provavelmente, a melhor série da década. Aguardamos, de whisky caríssimo na mão.

Menções honrosas: “Extraordinary” (Disney+) e “Welcome To Wrexham” (Disney+) — Numa vertigem em que parece que saem 18 novas séries por dia, muita coisa boa fica esmagada pela catadupa de “já viste o…?”. Dois exemplos:

Extraordinary, uma comédia britânica sobre um mundo de super-heróis no qual toda a gente desenvolve um superpoder no momento em que faz 18 anos. Toda a gente menos Jen, que aos 25 continua sem uma aptidão e sem um rumo na vida. Entretanto, vai trabalhando numa loja de disfarces e dividindo casa com Carrie (a melhor amiga, que comunica com mortos) e o namorado desta, Kash, que consegue andar para trás no tempo — mas só dez segundos. No primeiro episódio adota também um gato (será mesmo um gato?) que batiza por Jizzlord. O twist aqui é que todo este universo se apresenta como banal, mundano, o anti-Marvel. Citando a criadora, Emma Morgen, “muitas das histórias de super-heróis focam-se no ser excecional; aqui é uma celebração de ser só OK”. Está na Disney+.

Welcome To Wrexham, cuja segunda temporada estreou este ano também Disney, é um registo documental do que acontece a uma pequena cidade no País de Gales quando o seu clube de futebol, caído na desgraça, é comprado por duas estrelas de Hollywood. Ryan Reynolds e Rob McElhenney adquiriram o Wrexham FC, o clube com o estádio internacional em atividade mais antigo do mundo, com o objetivo de o fazer finalmente subir de divisão. Os episódios são menos sobre jogar à bola e mais sobre pessoas, de jogadores num último sopro de oportunidade a adeptos com vidas complicadas. Organizado e editado com uma mestria fora do comum, tem um efeito estilo Ted Lasso ao nível do cobertor quentinho, com a vantagem de tudo isto ser real. Recomenda-se até a quem não sabe o que é um fora de jogo.

MELHOR EPISÓDIO: “Fishes” (“The Bear”, temporada 2, Disney+) e “Long, Long Time” (“The Last Of Us”, HBO Max)

O episódio "Long Long Time", da série "The Last of Us"

No outro dia passei por uma discussão entre cinéfilos sobre se faz sentido que The Bear esteja nomeado para prémios sempre na categoria de Comédia. De facto, a série sobre os bastidores de um restaurante em Chicago deambula por vários tons, mas talvez penda mais para o drama. Aliás, chegados à segunda temporada, talvez fizesse sentido que pudessem concorrer numa categoria de Melhor Desconforto do Ano. E o episódio à cabeça que tornaria o galardão óbvio é o episódio de Natal, de seu nome Fishes. Como se o fim do ano que agora decorre não fosse lembrete que chegue do que acontece quando famílias se juntam à volta de uma mesa. A ação de Fishes passa-se cinco anos antes do tempo presente, quando o protagonista Carmy, então ainda a trabalhar como chef na Dinamarca, vem a casa passar o Natal com a família. A mãe, Donna (aqui interpretada por uma Jamie Lee Curtis em topo de forma), está a preparar uma refeição baseada no Festim dos Sete Peixes, uma tradição de Natal italo-americana que consiste num banquete de sete pratos diferentes de peixe ou marisco. A tensão escala ao longo da refeição, com pratos de atum a precipitarem guerras civis, garfos pelo ar e carros enfiados dentro da sala de jantar. É um ataque de ansiedade em forma de episódio de televisão, mas estranhamente estamos OK em embarcar nessa montanha-russa para os nervos. Um acidente feito ao milímetro do qual é impossível afastar os olhos.

Se o jogo de vídeo The Last Of Us é um marco incontestável na narrativa para jogos de vídeo, a adaptação a série televisiva cimenta-a como um portento. Capaz de chegar até públicos que mal sabem jogar Puzzle Bubble e que não estavam nem aí para uma história que envolve uma pandemia (sim, sou eu, prazer), The Last Of Us na sua versão HBO mergulha-nos num negrume desconfortável que encontra algum alívio na história de amor do seu terceiro episódio. Jogada essencial para mostrar que a série é tão mais do que rebentar cabeças de fungos feitos zombies, Long, Long Time vai buscar o seu nome à música de 1970 de Linda Ronstadt, que serve de tema para o romance entre o teórico da conspiração Bill (desempenhado por Nick Offerman de Parks And Recreation) e o descontraído Frank (Murray Bartlett, da primeira temporada de White Lotus). A relação amorosa entre ambos é inesperada, mas funciona como um bálsamo, mostrando um casal que encontra a felicidade exatamente enquanto o mundo desaba lá fora, tocando piano, comendo bife e bebendo vinho. O final, como The Last Of Us nos habitua, é trágico. O episódio funciona quase como uma história à parte (a ligação é que Joel e Ellie, os protagonistas, viajam em busca de ajuda de Bill) e foi muito polémico junto da franja pró-Trump de fãs do jogo. É que no plot original, não só não existe indicação de que Frank e Bill sejam um casal, como Frank é percecionado como um republicado extremo. Tentaram que o episódio fosse retirado. Azarucho, que a história da televisão já estava feita e o brilhantismo de escrita e interpretação de Long, Long Time fará parte das suas páginas.

MELHOR PERSONAGEM: Elizabeth Zott (Brie Larson) em “Lessons In Chemistry” (Apple TV+)

Brie Larson como "Elizabeth Zott" em "Lessons in Chemistry"

Originalmente um livro de sucesso da autoria de Bonnie Garmus, Lessons In Chemistry estreou-se na Apple TV+ com a discrição a que a maioria das séries dessa plataforma parecem estar destinadas, como se fossem quase segredos para passarem de boca em boca. Lessons In Chemistry é uma boa série (o seu último episódio é um pouco apressado, como de repente tivessem de enfiar o Rossio na Betesga em 40 e tal minutos), mas o que a torna mesmo digna de menção é a sua protagonista. Elizabeth Zott é uma brilhante química, que numa sociedade patriarcal dos anos 60 não consegue ser mais do que assistente de tipos bem menos talentosos. Depois de uma história de amor com um final trágico, de uma gravidez inesperada e de um despedimento injusto, acaba a apresentar o programa diário de culinária Supper at Six, transformando-o num fenómeno que junta noções básicas de química e uma frontalidade atípica para as donas de casa da época. Zott é soberbamente interpretada por Brie Larson, vencedora do Óscar de Melhor Atriz em 2016, pelo filme O Quarto, a atual Capitã Marvel no universo cinematográfico do mesmo nome. É uma protagonista fria, analítica, sem filtros, na tradição dos melhores peixes fora d’água — e carrega Lessons In Chemistry aos ombros.

DESILUSÃO DO ANO: “The Crown”, temporada 6 (Netflix)

A sexta (e última) temporada de "The Crown" está disponível na Netflix

Como leitora ávida de fichas técnicas de filmes e séries, sobretudo no que diz respeito a guionistas e showrunners, estava capaz de apostar o meu dedo mindinho em como esta temporada não podia ter sido escrita pela mesma pessoa que assinou o restante The Crown. Felizmente, não levei essa aposta a um notário, ou neste momento estaria estupidamente em défice de mindinhos — foi mesmo o criador Peter Morgan quem voltou a escrever todos os guiões da despedida da série que acompanha as várias décadas do reinado de Isabel II. Mas se me tivessem dito que tinha sido inteligência artificial a parir aquelas páginas desinspiradas, repetitivas e ridículas, eu teria acreditado. O que é que aconteceu à subtileza dos diálogos, ao puzzle montado com cuidado, à escolha de pequenos momentos para simbolizar grandes efemérides da História? No arranque da sua última temporada, apenas duas (fracas) ideias se destacam: a de que Diana era uma criança grande idolatrada e a de que Carlos é um ser humano incrível, o único com cabeça e coração naqueles corredores cheios de candelabros. Parece que, de repente, Morgan percebeu que Carlos agora era rei e convinha passar-lhe uma manteiguinha, que nunca se sabe o dia de amanhã. Há quem diga “ah, The Crown transformou-se numa telenovela”. Quem me dera. Ao menos entretinha e empolgava. Assim é só uma chatice pateta com muito orçamento.

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