Um Presidente confinado, alguns candidatos presidenciais em isolamento profilático e outros à espera para saber o que dizem as autoridades de saúde sobre o risco de contágio a que estiveram expostos e a que podem expor outras pessoas. Enfim, um retrato bastante aproximado da realidade do país, num momento em que o Governo se prepara para anunciar novo confinamento geral. Foi, aliás, nesse ponto que um dos candidatos às presidenciais, Tiago Mayan Gonçalves, se focou na sua primeira ação de campanha. “Não fui só eu a defender que o país não aguenta um novo confinamento, foi o primeiro-ministro também, foi o Presidente da República”, disse o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal. Afinal, quem defendeu o quê a este respeito?

Contra o socialismo, contra “extremismos”, à procura de eleitores “como o sr. João”: assim arrancou Tiago Mayan Gonçalves

“Há uma coisa que sabemos: não podemos voltar a repetir o confinamento que tivemos de impor durante o período do estado de emergência [de março-abril] e nas semanas seguintes, porque a sociedade, as famílias e as pessoas não suportarão passar de novo pelo mesmo.” Quem disse isto? Sim, foi António Costa. Palavras proferidas em julho do ano passado, quando o primeiro-ministro admitia que os especialistas não afastavam a existência de momentos “tão ou mais difíceis como aqueles que se viveram no início de março em matéria de pandemia da Covid-19”.

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Ora, há meio ano, o que dizia o primeiro-ministro sobre a possibilidade de uma segunda vaga da pandemia em Portugal ser tão ou mais grave que a primeira? Dizia isto: “Temos mesmo de arregaçar as mangas e fazer o máximo possível para assegurar a continuidade do funcionamento da sociedade, designadamente das escolas, das empresas e dos serviços da administração pública, mesmo numa condição tão ou mais adversa como aquela que vivemos em março. Temos de acelerar este processo.” Portanto, não só o país não aguentaria um novo confinamento ao estilo de março como as escolas, as empresas e os serviços públicos precisavam de se manter em funcionamento, ainda que a situação viesse a revelar-se mais grave que a inicial.

Caso único? Vamos ver. 20 de agosto de 2020, António Costa em discurso direto: “Nós não vamos poder voltar a encerrar totalmente empresas e atividades empresariais porque isso significa milhares de postos de trabalho em risco e uma destruição coletiva da riqueza do país e do funcionamento da nossa sociedade.”

Em setembro, o mesmo discurso. E em novembro também. Só em janeiro, já o nível de contágio tinha superado os 10 mil novos casos por dia, foi percetível uma mudança. Mas Mayan Gonçalves não se focou apenas no primeiro-ministro. O candidato às eleições de 24 de janeiro garantiu que também o Presidente da República alinhou as intervenções por essa ideia de que fechar o país seria insustentável. Por isso, antes de analisarmos essa viragem na posição dos principais responsáveis políticos, vamos recordar o que disse Marcelo. Voltemos, então, a puxar atrás a fita do tempo.

De volta a 15 de julho. António Costa acabara de recusar um regresso ao lock down. E o que dizia Marcelo? Seria “muito difícil voltar a repetir o confinamento, portanto, tem de se encontrar fórmulas de antecipar e de substituir uma solução radical, prevenindo essa segunda onda.”

Em novembro, quando o país já se preparava para regressar ao estado de emergência, o Presidente da República reconhecia que a sociedade estava “fatigada” e não havia “consenso” sobre a reintrodução de limitações generalizadas à circulação e à permanência em casa. “Quando se fala sobre um novo confinamento, mesmo que não seja total, a resposta dos partidos é ‘não’”, assinalava Marcelo, em entrevista à RTP. Daí que o estado de exceção que se aproximava teria de ser “muito limitado, de efeitos sobretudo preventivos e não muito extenso”.

Mas o que começou por ser um decreto presidencial com referências a possíveis “confinamentos compulsivos” de doentes infetados rapidamente caminhou para um discurso sobre a inevitabilidade de um novo encerramento total (com eventual exceção para as escolas). O “pacto de confiança sobre o Natal falhou” e, justifica o Presidente da República, isso justifica um regresso a medidas mais restritivas como forma de suavizar o ritmo de novos contágios que atingiu níveis sem precedentes desde o início da pandemia em Portugal.

Conclusão

Tiago Mayan Gonçalves está correto. Tanto o primeiro-ministro como o Presidente da República assumiram, ao longo dos últimos meses, que um regresso ao confinamento seria uma medida demasiado pesada e que o país não aguentaria outra temporada semelhante à que se viveu a partir de março.

Assim, segundo a escala de classificação do Observador, este conteúdo está:

CERTO

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