Uma publicação partilhada por um utilizador do Facebook sugere que “os privados todos trabalham e estão de portas abertas”, assim como “os supermercados estão abertos ao público, as fábricas estão a produzir, a construção civil está a avançar, os agricultores estão a trabalhar nos campos, ‘alguns’ médicos, enfermeiros e auxiliares também estão a trabalhar”, enquanto, no entender este utilizador, “os ditos funcionários públicos que são pagos com o suor do povo trabalhador, estão de portas fechadas”. A alegação está errada.

A publicação continua com considerações sobre os atrasos em serviços como as Finanças (na foto) ou a Segurança Social, sugerindo que, para conseguir um simples documento, é preciso fazer marcação por telefone e, mesmo assim, “demora mais de um mês para que seja atendido pessoalmente”. Não é verdade que os serviços públicos estejam fechados, mas é verdade que, com a pandemia da Covid-19, é aconselhável fazer marcação prévia para ser atendido. A publicação que se tornou viral nas redes sociais — e que já teve mais de 16 mil visualizações — não corresponde à verdade.

Publicação partilhada nas redes sociais diz que serviços públicos estão fechados devido à Covid-19 enquanto privados estão de portas abertas

O Governo aprovou, a 30 de abril, em Conselho de Ministros, um plano detalhado de desconfinamento dividido em três fases. Nesse plano, estava previsto que os serviços públicos desconcentrados, como as repartições de finanças e as conservatórias, abrissem a 4 de maio, logo na primeira fase de reabertura da economia. As lojas do cidadão, de maior dimensão, só abririam no mês seguinte, a 1 de junho, na terceira fase.

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Tal como se pode ver na tabela divulgada na altura pelo Governo (em baixo), a reabertura para atendimento presencial dos balcões de atendimento ao público foi acompanhado de duas normas: o uso obrigatório de máscara, tal como nos transportes e nos espaços fechados como o comércio, e a necessidade de marcação prévia para o atendimento. Isto, para evitar filas desnecessárias e, como tal, concentração de pessoas.

Plano de desconfinamento apresentado pelo Governo a 30 de abril, com o calendário dividido por três fases

Assim, é falso dizer que os funcionários públicos destes balcões desconcentrados de atendimento estejam de portas fechadas, como sugere a publicação em causa. Estão abertos desde o dia 4 de maio. Mas é necessário agendamento prévio. Há, de facto, vários relatos que demonstram alguma dificuldade na marcação dos serviços e dificuldades nas linhas de atendimento telefónico, mas tal não quer dizer que os serviços estejam fechados. Em vários casos, e dependendo dos serviços e dos concelhos do país, os agendamentos conseguem-se de um dia para o outro.

Ou seja, é falso dizer que os serviços estão fechados, mas é verdade que o atendimento tem sido limitado pelas regras da pandemia. Além disto, por funcionários públicos entende-se também os funcionários das escolas públicas, da polícia, trabalhadores dos serviços municipais e até dos hospitais públicos que, ao contrário do que sugere a publicação, têm-se mantido a trabalhar, inclusive durante o período de confinamento em que outros serviços privados estariam fechados ao público.

Conclusão

Não é verdade que os serviços de atendimento ao público estejam de portas fechadas, por oposição aos trabalhadores do privado. Os balcões de atendimento, como os das Finanças ou as conservatórias, abriram portas a 4 de maio, depois do período de confinamento, como mostra a resolução do Conselho de Ministros de 30 de abril, mas com necessidade de agendamento prévio para evitar concentração de pessoas. Numa primeira fase, os serviços podem ter tido mais dificuldades em lidar com as limitações das regras da Covid-19, havendo maior dificuldade no atendimento das chamadas telefónicas e no agendamento atempado, mas não é verdade que estejam de portas fechadas e sem nada para fazer.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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