Maria Heloísa é o nome de duas senhoras que conheço, uma nos sessenta outra já dentro dos oitenta, que nunca tiveram problemas financeiros, eleitoras de sempre do PSD, e que em 2015 votaram Bloco de Esquerda. Fizeram-no para forçar o PSD a se entender com o PS e pôr um fim ao corte nas pensões. Escusado será dizer que se enganaram e ainda hoje se arrependem. As duas senhoras que refiro não se conhecem apesar de terem em comum o nome e o engano. No fundo, sofreram da mesma doença que é o de achar que os partidos se condicionam com os votos que nunca tiveram (e nunca deviam ter). Infelizmente, a síndrome Maria Heloísa continua por aí.

O desafio político para muitos em 2019 não é forçar o PSD a entender-se com o PS, mas retirar influência ao Bloco e ao PCP. Perante o sério risco de a esquerda e a extrema-esquerda conseguirem dois terços do Parlamento e, dessa forma, PCP e BE condicionarem o seu apoio a um governo socialista a uma revisão constitucional feita à luz das teses marxistas, o eleitor de direita tem uma de duas opções: ou vota à direita ou vota PS. Perante o descalabro dos dois partidos da direita, o voto no PS pode bem vir a ser a opção seguida. A ideia subjacente é simples: uma maioria absoluta do PS libertaria os socialistas da extrema-esquerda e permitiria que uma revisão constitucional (a ser feita) seja realizada com um acordo à direita, nomeadamente com o PSD. É a síndrome Maria Heloísa versão 2019.

A tese é simples e, de acordo com as últimas sondagens que dão o PS no limiar da maioria absoluta, parece óbvia. Parece, mas está errada. Porque a análise feita sofre do mesmo síndrome de 2015: o de considerar que os partidos são o que queremos que sejam. Ou que sejam o que ainda consideramos que são. Ora, e conforme tive oportunidade de referir numa crónica que escrevi para o Diário Económico em 12 de Dezembro 2014 (link para o blogue Insurgente pois o site do jornal já não se encontra activo), o PS já nessa altura não era, como não é hoje em dia, o PS do tempo de Guterres. Este PS, e parafraseando o que escrevi em 2014 (ainda no governo de Passos), conta com uma “nova geração de socialistas, profundamente marcada pela queda do muro de Berlim e que, ironia do destino, viu nesse feliz acontecimento, não a confirmação dos erros do socialismo, mas a percepção de que a experiência merecia um acerto. Que, devidamente analisados os erros, se repetisse a dose, com as necessárias correcções. Refiro-me a pessoas que, em 1989, eram demasiados jovens para deitarem fora o sonho de mudar o mundo à sua imagem e que seguiram o seu caminho até ao (…) PS.”

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