Aproveito a semana do 8 de março para dizer que me preocupo muito com esse movimento de parabenizarmos mulheres por serem guerreiras, heroínas, resilientes. Tenho muito medo da glamorização do cansaço e da sobrecarga – em vez de debatermos esse tema urgente. Todavia, o termo heroína torna-se realmente necessário neste texto, sem prejuízo do debate.

O facto é que eu não me canso de me impressionar. De cada vez que falo com a minha irmã, com a minha prima ou com as minhas dezenas de amigas que são mães, sinto uma vontade profunda de abraçá-las. Não apenas pela saudade, mas porque elas estão no limite. Na minha “madrasternidade” a meio tempo, vivi uma bela amostra dos desafios de ter crianças em casa durante a pandemia. Mas na maternidade integral, a coisa muda de figura.

Elas estão, de facto, no limite. Não bastasse o medo do vírus, o pavor pela saúde dos pais, o peso do isolamento e as questões profissionais, elas lidam não só com a dinâmica surreal de ter crianças cheias de energia fechadas dentro de casa, mas também com todo o medo de como isso impactará a vida delas no futuro.

Sim, os pais dessas crianças (ou pelo menos alguns deles) também se preocupam e também estão cansados. Mas sabemos muito bem as diferenças. Quisera eu que já estivéssemos num mundo no qual as tarefas domésticas fossem distribuídas de forma verdadeiramente igualitária dentro dos lares. Não são. E isso reflete-se de forma drástica na vida dessas mulheres.

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O malabarismo de tentar manter o trabalho em dia e bem feito, a criança saudável e entretida, a casa razoavelmente limpa e organizada (em geral sem contribuição equivalente dos companheiros) e o relacionamento pelo menos pacífico e estável é algo, efetivamente, inviável. A conta não fecha. As horas do dia não bastam. Ninguém aguenta mais.

E o pior é que o sentimento que reina entre elas é o de culpa. Culpa por não dar mais atenção aos filhos do que estão dando. Culpa por, algumas vezes, exaustas, deixarem que eles comam qualquer porcaria. Culpa por acabarem pedindo socorro às telas da televisão, do tablet, do celular. Culpa por perderem a paciência. Culpa por não acompanharem a escola online da forma que seria ideal.

Se eu sei bem o que é a angústia de ter que interromper as minhas ligações diárias de vídeo com a minha ex-enteada por ter que entrar em reuniões, o que dizer sobre uma mãe que precisa de fechar a porta para trabalhar, deixando do lado de fora uma criança de dois anos que não entende a circunstância, mas entende perfeitamente a negativa de presença? Como esperar que essa mulher trabalhe normalmente? Que não esteja emocionalmente esgotada todos os dias?

Recebam todo o meu respeito. Eu sei que está realmente muito duro. O medo dos impactos deste período nas crianças, a exaustão, o medo de nada voltar ao normal, o impacto disso tudo nas carreiras, a sobrecarga, a falta de cooperação de muitos companheiros, o risco iminente que paira sobre os relacionamentos e, acima de tudo, a falta de tempo para si mesma.

Está duro, mas tentem cuidar de si mesmas. Uma ligação de vídeo para uma amiga, uma taça de vinho sozinha, uma sessão de terapia, uma barra de chocolate sem culpa por precisar de algum conforto. Coloquem limites no que podem dar. Falem sobre esse cansaço. Vocês também merecem existir.