Uma sociedade com maior capacidade crítica. Seria a chave para muitos dos nossos problemas se a comunidade em que vivemos começasse a ser mais informada, o que a tornaria mais exigente e menos permeável à propaganda. Uma sociedade mais ativa, com mais vontade de ser livre e menos dependente do Estado, que percebesse que não existem uns “eles” e uns “nós”, mas que todos somos “nós”, com capacidade de induzir mudanças e criar uma classe política mais preocupada com os problemas concretos dos cidadãos e menos focada em jogos de poder. Em que todos começassem a ser mais tolerantes com a opinião e a forma de viver dos outros, rompendo-se a tendência de conservadorismo que se instalou sob a máscara da inclusão.

Partidos capazes de atrair mais qualidade. É um lugar comum dizer que são os pilares de um regime democrático, mas infelizmente estão muito doentes. Os partidos que alternam o poder em Portugal, PS e PSD, parecem incapazes de atrair militantes que estejam focados no bem comum, na resolução de problemas concretos, começando por conhecerem como é a vida do cidadão comum. Viciaram-se em jogos de poder, uns, enquanto outros olham para os partidos como uma forma fácil de ascenderem numa carreira de dinheiro e poder. Os políticos estão em geral com uma imagem péssima junto dos eleitores e, se não queremos ruturas, precisamos que sejam capazes de mudar por sua iniciativa. É preciso que existam menos dúvidas quanto aos seus comportamentos éticos e morais, depois de um tempo em que se considerou que tudo cabia à Justiça para depois se queixaram de justicialismo.

Um elevador social que funcione. Na governação ou nas empresas começamos a assistir a uma perpetuação das elites – “são sempre os mesmos”, em linguagem popular. Andaram nas mesmas escolas e universidades, frequentam os mesmos círculos sociais, estão fechados sobre si próprios, afastando-se cada vez mais da comunidade que os vai tratando como “eles”. A diversidade social, de género, étnica e cultural traz melhores soluções para os problemas e garante maior desenvolvimento. Se as elites funcionarem como uma monarquia estaremos condenados ao subdesenvolvimento e, no limite, a ruturas política e sociais. O facto de quem tem dinheiro estar a colocar cada vez mais os filhos em escolas privadas, e os filhos de quem não tem dinheiro estarem cada vez mais condenados à falta de qualidade da educação pública, vai, aos pouco, avariando o elevador social e impedindo a renovação das elites que todas as sociedades precisam. Temos de ser capazes de inverter esta tendência.

Levar muito a sério as ameaças ambientais. A retórica ambiental está em níveis máximos, mas a pratica parece tardar. O acordo obtido na COP26, contra todas as expectativas, é um sinal de esperança, mas agora é preciso ver se e como se concretiza. A velocidade com que estamos a destruir o planeta é elevada e precisamos de levar muito a sério esse combate. Por aqui, sozinhos, pouco podemos contribuir para inverter a situação. Mas podemos fazer muito mais e não ficar enlevados com as energias renováveis – é aliás tempo de olhar para os seus efeitos nefastos, que também os tem. Tem de se fazer uma aposta séria nos transportes públicos, que hoje estão pior do que no passado. Temos de tratar urgentemente dos resíduos, temos de ter a coragem de reduzir o consumo de plástico e, em suma, apostar na economia circular. Estes últimos anos foram anos perdidos.

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Um mundo que continue livre e com menos guerras. Os reajustamentos geopolíticos a que estamos a assistir prometem um mundo que ainda não sabemos bem como será. Mas as guerras na Ucrânia e de Israel com o Hamas deixaram a Europa sob ameaça externa e interna. A tendência geral é de conflito e insegurança no espaço europeu de uma União marcada por divisões e cada vez mais burocratizada. As dinâmicas não são animadoras, mas é sempre possível invertê-las com sociedades exigentes, conscientes dos desafios e capazes de fazer as melhores escolhas para dirigir os seus países. As novas gerações têm o direito de herdar um mundo tão aberto e livre como aquele em que vivemos praticamente desde os finais do século XX.

Sim, parece uma lista de desejos impossíveis. Mas se conseguirmos perceber os problemas que enfrentamos temos uma parte do caminho percorrido para desejarmos e encontrarmos as soluções.

Feliz Ano de 2024