Uma pergunta1 é, às vezes, como uma andorinha, indiciadora da chegada da primavera da curiosidade2. Nestes casos, geralmente é inocente3 & engraçada. Em alguns contextos, as perguntas servem para ensinar. E também para aprender. São, juntamente com a observação do mundo que nos rodeia e com a lógica4, ou estrutura racional do pensamento, o que de mais precioso temos na vida intelectual.

As perguntas também podem ser um instrumento de mudança & revolução: até recentemente, i.e. até há uns quarenta anos atrás, Question Authority era uma palavra de ordem popular, que podia ser frequentemente ouvida em ajuntamentos de barbudos pançudos & vista em t-shirts, bumper stickers e graffiti. Mas as perguntas também são usadas pela Autoridade5 e pelas forças contrarrevolucionárias. Neste caso, não são verdadeiras interrogações, mas antes um instrumento para impor uma narrativa única, um modo de mandar calar, algo que soa a: “mas diga-me lá, o que é que você percebe deste assunto? Ponha-se mas é lá no seu lugar.”

A que categoria pertencerá Uma pergunta a Alberto Gonçalves? Será uma verdadeira pergunta? Ou será antes uma afirmação de fé?

Alberto Gonçalves escreveu num artigo de opinião6 que “[p]or mim, não sei se o mundo está a aquecer ou a arrefecer. Não sei se qualquer das hipóteses nos é alheia ou provocada pelo homem, essa excrescência que convém extirpar à natureza. Não sei se, a provar-se, a influência antropogénica tem retorno, e o que é que, descontado o folclore, o retorno implica.” (enfase acrescentada) É, claramente, uma opinião agnóstica. Para já não dizer, um não-dar-opinião (o que poderá por em causa o seu estatuto como opinador-mor do Observador). A ser uma opinião, será uma que é moderada, entre o extremismo afirmacionista e o negacionismo militante. E para mais, é uma opinião que é baseada em razões claramente explicitadas no texto, nomeadamente:

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  • No estilo de vida do jet-set ambientalista, que liberta mais carbono num dia que o aparelho digestivo de uma manada de vacas num ano, o que permite por em dúvida a seriedade do dito jet-set no seu apelo ao combate às alterações climáticas, e desta falta de seriedade poder-se-á deduzir-se algum ceticismo privado relativamente à publicamente propalada gravidade do fenómeno;
  • Na incrível capacidade de cientistas climáticos & afins em fazer previsões apocalípticas & apocalipticamente erradas, o que permite por em dúvida a bondade dos modelos que usam, seja na especificação dos sistemas de equações empregues, ou na escolha dos parâmetros introduzidos nas ditas ecoações;
  • No engenho & criatividade dos ditos ‘cientistas’ em arranjar explicações, ou teorias, a estabelecer uma relação de casualidade entre a humanidade e as suas atividades, seja através da libertação de aerossóis, ou de carbono, ou nitratos, plásticos &tc, e as “mudanças climáticas”, teorias que nascem, crescem e tipicamente morrem repentinamente numa colisão com a realidade—mas sem que o funeral seja reportado na imprensa;
  • Em casos históricos concretos, como o dos ziguezagues climatéricos de Stephen Schneider.

Poder-se-ia objetar que o primeiro e quarto destes argumentos são ad hominem, e portante irrelevantes num debate intelectual, filosófico ou científico. No entanto nem o artigo de Alberto Gonçalves apareceu no Science, nem Alberto Gonçalves parece apresentar-se como comentador científico. Argumentos ad hominem têm sido aceites como legítimos desde a mais alta antiguidade, quer chinesa, quer grega, em disputas políticas e forenses e amplamente usados por personagens tão famosas como Marco António (83—30 a.C., tal como retratado por Shakespeare) e Mário Soares (2017—1924 a.C., tal como retratado pelo Diário de Notícias).

E, atendendo a que o debate, ou melhor, a propaganda sobre as alterações climáticas tem sido estruturada à volta de um imperativo ético, a conduta dos militantes ambientalistas torna-se um argumento não só legitimo, mas relevante. Se as alterações climáticas são devidas ao consumismo descontrolado, então porque é que que o jet-set ambientalista tem um life-style tão carbono-intensivo como o que é reportado nas televisões & jornais? Se a causa ambientalista é moralmente assim tão nobre, porque se comportam os seus militantes de um modo tão bárbaro, desumano & selvagem, como gatunos que partem montras, arruaceiros que furam pneus e vândalos que destroem obras de arte? Se a realidade e causas das alterações climáticas são assim tão bem conhecidas & tão cientificamente comprovadas porque é que os cientistas climáticos estão sempre a desdizer-se e a saltitar de teoria em teoria & de previsão calamitosa em previsão hecatombica?

Portanto, todos os argumentos de Alberto Gonçalves parecem legítimos, apropriados, razoáveis e a necessitar de uma refutação caso se pretenda demonstrar que a sua muito moderada tomada de posição está, de algum modo, errada.

Não parece que seja esse o objetivo da mencionada pergunta a Alberto Gonçalves. Nota-se, para começar, que o texto que contextualiza a pergunta consiste basicamente no entrelaçar de dois elementos:

  1. Na atribuição da citada afirmação de Alberto Gonçalves ou:
    (a) ao seu “desconhecimento” barra “ignorância”, ou
    (b) ao seu “cepticismo ou menosprezo das fontes científicas”, algo que, afirma-se com alguma deselegância, pode ser classificado como “mero palpite”, “bitaite” ou “achismo”.
  2. Na repetitiva invocação de um tal de “esmagador consenso científico” sobre o “aquecimento global”.

Nota-se, depois, que nenhum argumento é tecido com o objetivo de tentar demonstrar que o agnosticismo de Alberto Gonçalves não tem razão de ser, ou que alguma das razões que apresenta esteja errada ou equivocada. Nenhum argumento? Nenhum, excetuando a mencionada repetitiva invocação da existência algures de um “esmagador consenso científico”.

A este tipo de argumento chama-se “argumento de autoridade”, uma forma de argumentação muito popular nos tempos que correm, e que também foi usado, às vezes, mas com alguma parcimónia, pelos antigos. Mas os antigos, especialmente os escolásticos, usavam-no de maneira diferente. Para começar, só o usavam quando argumentavam com quem reconhecia a autoridade da fonte invocada. O que, como é obvio, não acontece no presente caso. Depois, era usual citarem, ou esquematizarem, as razões dadas pela autoridade invocada, para a afirmação que queriam dar como provada. Uma prática que também aqui não foi seguida. Enquanto o argumento de autoridade era usado pelos antigos para expeditar os preâmbulos da discussão, qual será o objetivo quando é usado deste modo pelos modernos? Não será que dá a sensação de estar a ser usado pra mandar calar o parceiro?

O que levanta uma questão: será que a proclamada causalidade entre humanos e alterações climáticas é algo de tal modo esotérica, complexa, ou mística que não é explicitável num texto de um jornal para totós como é o Observador? Porquê substituir uma explicação racional, simples & explícita do fenómeno em causa por uma invocação de fé num “esmagador consenso científico”, para mais quando a autoridade do ”esmagador consenso” não parece ser aceite pelo interlocutor7?

E porquê, ainda por cima, adicionar uma pergunta a pedir uma invocação de outra autoridade? Será que essa autoridade, a ser apresentada, seria aceite? Cheira a que não, e parece que u debate descambaria numa discussão do tipo “a minha auturidade tem mais auturidade que a tua…” Será este modo de dialogar e interrogar compatível com o espírito científico? Ou não terá antes outra finalidade, algo de mais político8, ou a ver com algum dos outros fatores da motivação humana que não a simples sobrevivência?

Por outro lado, quer a repetida invocação do “esmagador consenso científico”, quer a pergunta a clamar por fontes com autoridade científica, “sérias e sólidas”, parece revelar alguma inocência sobre o estado atual das instituições de pesquiza científica e a pureza de intenções e métodos usados nos meios académicos. Parece desconhecer que denuncias de fraudes & retratações de publicações académicas devidas a “equívocos de ordem ética” & afins são o pão nosso de cada dia, que os meios científicos são cada vez mais presa não só de um egotismo desmesurado de alguns ‘investigadores’, mas também de interesses munetários opacus & ajendas pulíticas muito confessáveis, para já não dizer nada sobre a falta de profissionalismo, e pior de tudo, do ressurgimento contemporâneo do Reflexo Semmelweis9 (de que a pergunta a Alberto Gonçalves parece ser um triste exemplo). Alguma dúvida? Leia-se, com regularidade e paciência, não como fontes com autoridade mas meramente informativas, não publicações negacionistas, mas colunas da ortodoxia woke como o Chronicle of Higher Education ou o NYT, apenas para citar duas fontes sem simpatia nenhuma por JFK Jr.

Mas a pergunta feita a Alberto Gonçalves não revela apenas uma inocência virginal, provavelmente só possível a quem nunca pôs os pés num research centre, ou uma veneração algo primitiva por uma mítica Autoridade, mesmo que algo confusa & inconstante, mas também aquilo que parece ser um viés epistemológico bastante questionável. Ou será que é apenas a climatologia que produz “esmagadores consensos científicos”? No apuramento da responsabilidade & culpabilidade da Mulher pelas alterações climáticas, sejam elas para cima ou para baixo, não será de ter em conta o que as outras disciplinas científicas nos dizem sobre a agência humana no assunto? Ou será que há ciências mais científicas que as outras?

Será que o  esmagador consenso científico de que a racionalidade humana é de tal modo deficiente & limitada que as mulheres não têm nem verdadeira liberdade nem, consequentemente, qualquer responsabilidade pelo que fazem & dizem, não é considerado relevante, ou pode ser ignorado nesta discussão? Como é do conhecimento geral, as descobertas feitas no âmbito das behavorial sciences durante os últimos cinquenta anos demonstram inequivocamente, & não sendo exaustivo, que:

  1. A perceção sensória humana não é fiável, estando sujeita a múltiplas ilusões e enganos que comprometem a validade de qualquer experiência empírica;
  2. O raciocínio humano está sujeito a múltiplos e sérios vieses estruturais, de natureza fisiológica, como os que dão origem ao paradigma de Deese-Roediger-McDermott, a vieses de ancoragem, a correlação ilusória, vieses retrospetivos, heurística da disponibilidade, vieses confirmatórios, etc & etc, que comprometem irremediavelmente a sua fiabilidade;
  3. O raciocínio humano está igualmente sujeito a múltiplos e sérios vieses estruturais de ordem cultural, como os embutidos pelo homo-patriarcado europeu branco que, entre outros, não permite aos afetados fazer independentemente a distinção entre feminino e masculino apenas através da inspeção dos órgãos genitais de cães, gatos & de outros animais, vieses que também comprometem irremediavelmente a racionalidade & validade do seu raciocínio;
  4. Estes problemas com a perceção sensória e vieses de raciocínio privam os humanos, não só às mulheres, mas também aos homens, da sua suposta racionalidade e, consequentemente tiram-lhes qualquer agência e responsabilidade pelo que fazem ou pelo que dizem.

Sendo, pois, os humanos, natural & intrinsecamente inimputáveis, qualquer acusação de que são responsáveis pelo aquecimento global é, obviamente, improcedente. Esta tese exculpatória que, volta-se a frisar, goza de um “esmagador consenso científico” de modo algum inferior ao que estabelece a relação entre a libertação de carbono com as alterações climáticas, embora recente, enquadra-se perfeita & harmonicamente no determinismo histórico do materialismo dialético que domina a intelectualidade tuga.

Embora não se conheça qualquer evidencia científica “séria e sólida”, que infirme estes factos, e as implicações deles resultantes, reconhece-se que tem havido algumas, poucas, vozes discordantes que põem em causa este “esmagador consenso científico”. Umas, de natureza religiosa, como João Paulo II, na sua encíclica Veritatis Splendor (1993), põem em causa a validade das implicações éticas desta evidência. Mas será que se deve misturar religião na ciência?

Outras, revestidas de alvas togas científicas, simplesmente as ignoram arbitrariamente quando fazem perguntas a Alberto Gonçalves, como também desprezam as razões muito razoáveis por ele avançadas para o seu ceticismo. Não será essa atitude “fazer da ciência” religião? Será legitimo invocar uma perna da evidencia científica ignorando a outra? Não será antes isso uma amputação monstruosa, um abuso vergonhoso & inadmissível que é feito à Ciência?

Finalmente será bom frisar que parece evidente que, à luz de TODA a evidencia científica disponível, não se pode imputar qualquer responsabilidade pela pergunta feita a Alberto Gonçalves aos seus nominais autores. Ela surge, seja devido a ilusões sensórias ou a vieses político-culturais insuperáveis, ou a uma judiciosa mistura de ambos, cuidadosamente planeada pelo Caos10 Primordial, de um conjunto de fatores condicionantes que totalmente determina as perguntas dos seus autores, o seu timing e conteúdo, e de que estes certamente não estarão conscientes & portanto não são responsáveis. Tal como, se seguirmos a ciência, TODA a ciência, não se pode imputar qualquer pontinha de responsabilidade pelo aquecimento global ao resto da humanidade.

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

Disclosure: este lexicógrafo admite que o climate change possa ser real, que possa ser parcialmente devido à agência humana, mas que tal não justifica nem medidas impostas por parte de poderes públicos que desrespeitem a dignidade humana, nomeadamente pelo seu carater totalitário, nem atos bárbaros, desumanos & selvagens praticados por militantes ambientalistas, nem tentativas de impor um pensamento único sobre qualquer assunto.

  1. Pergunta: um tipo de inquisição; ato de tentar desnudar a mente de outra pessoa do seu conhecimento, crenças & intenções e que pode tomar várias formas, desde o simples incitamento ao strip, até ao tease da violência verbal.
  2. Curiosidade: defeito moral do caráter feminino; o interesse intelectual em determinar quão curiosa uma mulher será é uma das mais nobres qualidades do carater masculino e uma das bases do desenvolvimento do espírito científico.
  3. Inocência: estado de desenvolvimento intelectual & moral de quem acredita no político que diz que se for eleito não roubará; estado presumível de quem vê a acusação que lhe foi feita prescrever; veredito passado a um criminoso cujo advogado subornou o juiz.
  4. Logica: a arte de raciocinar em estrita conformidade com a artificialidade das regras da tolice humana; o raciocínio ilógico, esse, mantém a naturalidade desregrada da tolice humana; — da batata: vegetarianismo intelectual.
  5. Autoridade: entidade intelectual de carácter ditatorial sem qualquer contrapoder que o de uma potencial pergunta; entidade política de carácter ditatorial sem qualquer contrapoder que o de uma potencial revolução; em ambos os casos, suprema entidade representativa do pensamento muscular repressor da atividade físico-química neuronal.
  6. Opinião: a base mais solida das diretivas da Direção Geral da Saúde durante a pandemia Covid-19; a opinião de que tudo é opinião é uma opinião interessante, mas que é opinável.
  7. Interlocutor: centro de depressão intelectual numa sala de debates.
  8. Político: classe zoológica de que fazem parte o passarão e vários tipos de invertebrados e parasitas; verme que vive na lama que cobre a superestrutura societária; parasita que quando se contorce confunde a própria vibração com a da estrutura social que, enquanto a ardor da comichão é sofrível, o suporta; sanguessuga fiscal e cuco empresarial; comparado com o estadista tem a desvantagem de ainda estar vivo.
  9. Reflexo Semmelweis: parafraseando o Webster’s Galactic Dictionary, é o comportamento de zaragalhada, encontrado entre primatas e hominídeos larvais em planetas subdesenvolvidos, em que a descoberta de um facto científico importante, ou o por em causa de uma ortodoxia científica dominante, é punida11.
  10. Caos: estado natural & usual de organização estruturada V gerida por warxistas; estado libertário primordial em que a matéria ainda não tinha sido sujeita à tirania da lei & ordem natural; pandemónio12.
  11. Punição: celebração feita em comemoração de certos tipos de atos; distinção especial conferida a quem cumpre o seu dever social de desobedecer a lei ou regulamento injusto ou desproporcional; o processo de punição padece no nosso país de arbitrariedade, lentidão, também ela arbitrária, e favoritismo clientelar como já foi denunciado repetidamente, e muito bem, pelo sr. dr. Sócrates; enquanto no socialismo a confissão e arrependimento posterior não diminuem a punição, antes aceleram a execução, no Cristianismo basta a contrição perfeita para a remição total da pena, não só nesta vida mas também na outra.
  12. Pandemónio: reserva natural estabelecida para a proteção dos demónios que, descontentes com os deficientes benefícios providos pelo do estado social, fujiram todos, uns para o ps, outros para o sns, ministèrio da educaxão, tap e xistema judixial, encontrando-se o local atualmente ao abandono tal como a maioria do restante imobiliário propriedade do estado.