A guerra interna do PP espanhol deixou-nos estupefactos. A direita está em ascensão em Espanha e o PP deu um verdadeiro tiros nos pés: dividiu-se numa luta fratricida a que apenas a morte de um dos irmãos políticos porá termo. Não sabemos qual é o futuro do PP espanhol, mas o outro partido de direita, o Vox, anda satisfeitíssimo com a possibilidade de o substituir enquanto partido principal da direita espanhola.

O que está a acontecer no PP devia ser um sério aviso para o PSD. As divergências dentro do PSD não se têm resolvido com a mesma violência que as do PP mas, fora esse ponto, são várias as semelhanças: tal como Pablo Casado, Rui Rio não teve vitórias eleitoriais; tal como Casado, Rio nunca conseguiu apresentar uma oposição consistente e credível e, também, tal como Casado não tem pressa em sair da liderança. A teimosia de Casado (que decidiu manter-se à frente do PP por mais um mês) pode comprometer o futuro do PP, tal como o prolongamento até ao Verão da liderança de Rio coloca os sociais-democratas fora da oposição até ao início da próxima sessão legislativa.

O PSD tem-se comportado como se fosse inabalável e inafundável. Eterno. Mas não é. Fora o período de Passos Coelho, o PSD teve muitas dificuldades em apresentar um discurso novo, novas ideias e um programa de governo adequado a responder aos desafios do país. Nos últimos anos o PSD limitou-se a discutir nomes e alianças. Políticas concretas foram poucas. Talvez por isso mesmo os candidatos à liderança tenham sido de segunda linha: Montenegro, Pinto Luz e Rangel estão longe das figuras de Passos Coelho, Cavaco Silva ou até Durão Barroso. Podemos discordar dos últimos três (e Portugal ainda está a pagar a forma como Durão Barroso deixou o governo para ir para a Comissão Europeia), mas as diferenças entre um e outro grupo são abissais.

Este enfraquecimento programático e pessoal do PSD já é visível nos resultados eleitorais: desde 2005 (com exceção dos obtidos com Passos Coelho) que os sociais-democratas não passam dos 30% dos votos. Com Rio conseguiram 27,76% em 2019 e em Janeiro último uns meros 27,83%. Há vários anos que o eleitorado do PSD se cinge ao seu núcleo duro e o partido perdeu a capacidade de ir além desse grupo de resistentes.

Debaixo das vestes da ética e da moral, Rio prepara-se para avalizar a regionalização antes de deixar a liderança do partido. O objetivo será garantir a norte um feudo eleitoral para si ou para os seus. Caso o PSD não se renove rapidamente, é possível que também o seu eleitorado tradicional se canse de esperar. Nesse sentido é importante regressar a Espanha. Como referiu Diogo Noivo, o que que sucede em Espanha costuma repetir-se em Portugal alguns anos mais tarde. Se o PP cair e der lugar ao Vox, será também possível que o PSD dê o seu lugar a outros partidos. Utilizo aqui o plural porque entre nós temos o Chega e a IL, mas também pode ser outro partido que surja para se tornar o representante maior da direita portuguesa. Por enquanto o assunto é uma verdadeira incógnita e depende do que cada um dos três fizer: de como o PSD reage (se se renova ou não) e dos erros e acertos que Chega e IL evitem ou façam.

O que pode acontecer ninguém sabe. Como certo só temos que a direita portuguesa está em crescendo eleitoral e que os próximos meses podem ser importantes na definição de quem se poderá assumir como o seu principal representante. Se formos surpreendidos não será por falta de aviso.

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