As próximas eleições legislativas estão revestidas de um caráter excepcional. Desde logo pelo contexto como ocorreu a demissão de António Costa, portador de uma maioria absoluta inesperada na Assembleia da República.
Entram na corrida outros protagonistas e no Partido Socialista são três os putativos futuros líderes a secretário geral de onde sairá o próximo candidato do partido a primeiro ministro.
Sobre as propostas, e à medida que o tempo avança, elas são genericamente mais ou menos conhecidas de todos.
Porém, os debates televisivos, na minha opinião, revestem-se de alguma importância mormente para os indecisos que as sondagens apontam rondar os 17%.
O modelo que as televisões adoptam, e ao qual estamos habituados, parece não trazer nada de novo quando de facto a sua função é exactamente a aposta.
O tempo é escasso e os interlocutores exageram, propositadamente, nos ataques pessoais e no “sei o que fizeste o verão passado”.
O confronto directo de ideias dá lugar por vezes à mais triste realidade: a demonstração clara que não há qualquer respeito pelos eleitores com o vaguear em temas que carecem de respostas claras e objectivas. Tudo aquilo em que o debate se deve focar a realidade leva-o para um outro caminho, o caminho das respostas vazias e da clarificação superficial dos temas.
O próprio moderador tem grandes dificuldades em controlar a linguagem ofensiva que muitos utilizam, mas o tempo, sempre o tempo, é o grande causador da ligeireza com se faz o debate político que não deixa margem alguma para que o eleitor se sinta esclarecido.
Longe vão os tempo das maratonas do “olhe que não, olhe que não”, um debate televisivo que opôs Mário Soares e Álvaro Cunhal e que durou 3 horas 40 minutos e 52 segundos a 6 de novembro de 1975 , moderado por Joaquim Letria e José Carlos Megre. Este debate terá sido o mais longo da história da televisão portuguesa.
É claro que não se pede que se volte a esses tempos mas é altamente prejudicial que se opte pelos modelos habituais de 30 minutos, mais coisa menos coisa, que não serve para coisa nenhuma.
Um debate sério e esclarecedor, requer tempo, ousadia nas questões e uma moderação adequada. O que hoje temos é falta de tempo, de ousadia nas questões e uma moderação fraca.
A função da comunicação social dentro do contexto eleitoral, em especial a televisionada, é a de contribuir de forma eficaz para que todos possam, com clareza, dar a conhecer o seu programa político e confrontá-lo com os demais. Só assim o eleitor pode retirar as suas próprias conclusões de acordo com o seus princípios.
O eleitor, talvez ao contrário daquilo que muitos poderão julgar, dá verdadeira importância ao debate político e procura nele alguma orientação para a sua escolha.
A pergunta que se impõe então é simples: estará a comunicação social, com o modelo de debate actual, a ir ao encontro das expectativas especialmente daquele eleitorado que não tem a sua posição definida ?
A resposta também é simples: não.
Para se conseguir prestar um melhor serviço ao eleitor é preciso que os debates tenham pelos menos uma a duas horas e devem ter dois moderadores porque não é em vinte ou trinta minutos que se esclarece coisa alguma. Entre piadas de mau gosto e chamadas de atenção, cada interveniente explica ao que vem por dez minutos. Isto não é nada e as televisões sabem disto.
Cabe à comunicação social, como protagonista principal na construção dos modelos de debate em época de eleições, sentir também ela a necessidade de alterar o caminho por forma a torná-lo mais próximo da sua primordial função. Afastar-se desta responsabilidade social, é contribuir também para o degradar da política e da democracia.
É fundamental alterar o paradigma do actual modelo de debate político, quer no seu tempo de duração quer na sua forma, mas só isso não é suficiente.
Há que mostrar, por parte dos moderadores, embora alguns hoje o façam de forma exemplar, uma verdadeira preparação no confronto de ideias e perceber que quando o político não responde directamente à questão, fazendo perder tempo ao debate, chamá-lo à atenção sem medo e sem hesitações para que este perceba onde está e o que está ali a fazer.
Se hoje há quem diga que o quarto poder pertence à comunicação social – na óptica dos três poderes (judicial, legislativo e executivo) – há razões de sobra para se perceber, não só importância dos debates políticos no seio de uma opinião pública com mais dúvidas, mas também entender que nos dias de hoje não faz sentido algum o modelo que se utiliza, que inverte o papel da comunicação. Ao invés de esclarecer o eleitor, afasta-o, contribuindo assim de forma talvez “indireta “ para uma maior abstenção.
Por essa razão, dividir entre todas as estações os debates, é fazer perder tempo a todos.
Nessa medida seria mais vantajoso, do ponto de vista do esclarecimento público, pensar-se num grande debate televisivo com a participação de todos os canais generalistas.
Ou seja, que se faça um debate à séria, à grande, com força democrática onde a comunicação social tem um papel de grande relevância institucional.
Não podemos continuar a aceitar que não se respeitem os eleitores. E é claro que o modelo de debate actual não cumpre a sua verdadeira função: esclarecer, ouvir, opor e debater.
Ou se pensa já para as próximas eleições em alterar a forma como tudo isto é feito ou não vale a pena fazer-se coisa nenhuma. Porque de facto o que se faz é mesmo nada.