Sim, morreu no dia em que o PS fez a geringonça. António Costa trocou reformas pelo poder. Será que quem ainda acredita no centro reformista não reparou no que se passou em Portugal desde 2015? A desistência das reformas que a sociedade e a economia portuguesa precisam foi o preço da aliança com o PCP e o Bloco de Esquerda, os partidos mais anti-reformistas e reacionários que existem em Portugal. Para o PS, só há uma linha vermelha que a aliança com as extremas esquerdas nunca poderá ultrapassar: o descontrolo das contas públicas.

Mas não vale a pena pensar que o PS se converteu às virtudes da disciplina fiscal. Os governos de Costa controlam as contas públicas por duas razões. A primeira porque sabem que é a condição para beneficiarem do financiamento europeu indirecto, via BCE. Este financiamento é vital para Portugal. Em segundo lugar porque receiam que o descontrolo das contas públicas pode mesmo levar a uma nova derrota eleitoral. Ou seja, a ‘disciplina fiscal socialista’ tem a ver com o dinheiro europeu e com o poder politico. Os comunistas e os bloquistas sabem isso, e por mais barulho que façam aprovam sempre os orçamentos (ou quase sempre no caso do Bloco). Apesar da sua retórica radical, as extremas esquerdas percebem a importância do dinheiro europeu e do poder socialista. Beneficiam muito de ambos.

Mas os custos de ‘disciplina fiscal socialista’ são enormes: carga fiscal muito elevada e investimento público muito reduzido. É o que acontece a um país que não produz riqueza suficiente.

Há três razões que levam os não-socialistas a continuarem a acreditar na ilusão do ‘centro reformista’. A primeira resulta do reconhecimento do papel do PS na história da democracia portuguesa. No entanto, o PS de hoje não é o partido de Mário Soares. Vejam o caso de Francisco Assis, uma das figuras centrais da ala social democrata do PS, e que foi muito crítico da geringonça. Até Assis já percebeu que para manter a possibilidade de um dia se candidatar à liderança do PS, precisa de abraçar muito do radicalismo que um dia atacou. Como Presidente do CES, está a construir a sua geringonça.

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O poder do PS constitui a segunda razão. Quase ninguém acredita na possibilidade de reformas sem o maior partido político. Mas essa é outra ilusão. O poder actual do PS deriva, em grande parte, da aliança com o PCP e com o Bloco. Ou pelo menos Costa decidiu que essa seria a base do poder socialista. Para fazer reformas, o PS teria que romper com esses aliados. Nunca o fará, enquanto Costa for PM.

A terceira razão é a fraqueza da direita. Olhando para os actuais PSD e CDS, quase ninguém acredita que tenham força para reformar o país. Alguém acredita que uma direita fraca convence um governo socialista, aliado à extrema esquerda, a fazer reformas? Quem acreditar nisso, não vive neste mundo.

Há duas condições essenciais para Portugal voltar a ter um governo reformista. Antes de mais, o PS terá que pagar o preço político pela aliança com os partidos de extrema esquerda. Há sinais que a abertura do PS ao radicalismo pode provocar divisões no partido. Curiosamente, aquele que fez a geringonça, Costa, é quem mais quer fechar a porta ao radicalismo no PS. Para Costa, a geringonça serviu para chegar a São Bento. Mas não deve servir para radicalisar o PS. Costa precisou da geringonça, mas não a quer deixar como a sua herança política.

É isso que separa Costa de Pedro Nuno Santos. Para o PM, a aliança com o PCP e o Bloco foi instrumental. O aspirante a líder quer impor uma ruptura ideológica ao PS. Costa e PNS já não escondem as divergências. Foram claras nas eleições presidenciais, com o PM a apoiar Marcelo Rebelo de Sousa e PNS ao lado de Ana Gomes. São estas divisões que acabarão por derrotar o PS. Só não sabemos quando.

Do outro lado, na direita, é necessário um líder que saiba unir todo o espaço não-socialista. Mas, ainda mais importante, um líder com talento para mobilizar a maioria da população portuguesa. Até esse líder surgir, não haverá uma maioria reformista em Portugal. Mais, quem no PSD, no CDS ou na IL, acreditar que pode fazer reformas com o PS (o Chega não acredita, mas também não sabemos que reformas quer para o país), significa que na verdade desistiu de uma agenda reformista.

O centro reformista não existe, nem existirá com este PS. Só há uma maioria reformista possível em Portugal: uma aliança entre o centro direita e o povo português. Até isso acontecer, Portugal continuará um país paralisado e a empobrecer. Não é uma opinião. É uma evidência.