Recordo a minha infância e em nenhum momento me lembro de ter sonhado ser professora. No entanto, hoje sou. Porque num determinado momento da minha vida descobri a profissão que me faria feliz. Professora.

No início do ano civil de 1996, tinha eu 26 anos, já com três anos de experiência no sector  empresarial, com uma componente na formação profissional, decidi experimentar ser professora.

Fiquei colocada em miniconcurso, com um horário de 6 horas, para lecionar Biologia, perto de Entre-os-Rios, no distrito do Porto.

Em março do mesmo ano tinha já horário completo e horas extraordinárias, para lecionar Ciências e Matemática. Mas, na verdade, não me sentia ainda professora. Para mim era apenas uma licenciada em Ciências da Nutrição que dava umas aulas.

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No ano seguinte, voltei a concorrer e fui colocada no Porto. Fiquei a lecionar na escola onde havia sido aluna, ainda que com um horário incompleto. Curiosamente, a delegada de disciplina fora minha professora de Biologia. Na mesma escola, mas agora do outro lado, isto fez com que a minha percepção como professora tenha mudado face à que tinha enquanto aluna.

Nessa altura, percebi que, se queria ser professora, teria de voltar para a universidade e recomeçar a estudar. Percebi que para  ser professora não me bastaria ser licenciada. Então com 28 anos, decidi voltar à faculdade e iniciei o primeiro ano do Curso de Matemáticas Aplicadas. Como durante o curso estive sempre a trabalhar, dando formação profissional, terminei o curso aos 35 anos. Em 2005, tomei a decisão de trabalhar e viver em Lisboa, cidade que já na época tinha escassez de professores. Achava que ficaria nos quadros em pouco tempo. Mesmo existindo falta de professores, e tendo quase sempre horários completos e anuais, só fiquei efetiva 13 anos depois, em 2018.

Atualmente, quando vejo que o desenho de habilitações para a docência se está a reconstruir de acordo com as necessidades do mercado de trabalho, recordo o meu percurso.

Não posso deixar de enviar uma mensagem aos que ambicionam ser professores: o meu conselho é que devem experimentar estar na sala de aula, lidar com os jovens e, só depois, decidir se querem investir tempo e dinheiro na formação enquanto docente.

Em conclusão, 22 anos depois de ter decidido ser professora e de ter ficado efetiva com 48 anos, posso dizer que faço aquilo que me faz feliz, ensinar.