1. Não faço a mínima ideia sobre os planos de Santana Lopes ou se quer criar um novo partido político. Aceito o argumento daqueles que dizem que, tendo em conta o seu passado, Santana deveria lutar pelo PPD em que acredita dentro do seu partido de sempre. Tal como é legítimo abandonar o PSD e construir novas formas de fazer política, incluindo a criação de um novo partido. Não é nada de novo em muitos países europeus. Mas a sua decisão foi mais uma consequência do modo como Rio tem conduzido o PSD do que a causa da divisão da direita.

Quando Passos Coelho saiu da liderança do PSD, a direita estava relativamente unida. Tinha perdido a maioria e o governo em 2015, mas mantinha uma base de cerca de 40% do eleitorado. Foi um desaire duro, mas a vida democrática é feita de vitórias e de derrotas. O que interessa é o modo como se reage às derrotas. Rui Rio deveria ter construído a sua estratégia política a partir desses 40% de votos. Deveria ter unido o PSD, depois das eleições internas, ter construído uma relação de trabalho construtiva com o grupo parlamentar e tratar o CDS como um futuro aliado de governo. E poderia ter feito tudo isto alterando gradualmente as políticas e até o posicionamento do PSD, o que é inteiramente legítimo para quem conquista a liderança.

Mas Rio não fez nada disto. Dentro do PSD, iniciou uma dupla luta, a mais visível, contra o grupo parlamentar e, a mais escondida, contra a parte do partido que apoiou Santana Lopes. Rio quer reconstruir o PSD de acordo com os seus interesses e preferências, sem qualquer respeito pela sua história e até por grande parte do seu eleitorado. A sua posição no voto sobre a eutanásia mostrou como Rio coloca as suas preferências pessoais à frente de qualquer consideração institucional ou política. A natureza revolucionária da liderança de Rio é clara se recordarmos Sá Carneiro. A primeira AD, construída por Sá Carneiro, foi o verdadeiro momento fundador da direita democrática em Portugal. Foi nesse momento que a maioria dos portugueses deu, pela primeira vez, um mandato democrático de governo à direita em Portugal. E isso aconteceu com uma aliança com o CDS e através de um confronto directo contra o PS. Ninguém dizia que a AD de Sá Carneiro era de centro esquerda. Esse momento fundador da direita em Portugal foi a base para as maiorias de governo de Durão Barroso, de Passos Coelho e para as vitórias nas eleições presidenciais de Cavaco e de Rebelo de Sousa.

No plano externo, Rio ignorou o CDS e aproximou-se do PS. Hoje, a percepção da maioria dos portugueses será de que Rio está disponível para uma coligação com o PS e que só não haverá bloco central se os socialistas não quiserem. Rio recentrou o PS e colocou António Costa no centro da vida política portuguesa, prejudicando mesmo a posição central de que Rebelo de Sousa gozava até ao início deste ano. Rui Rio é hoje o maior aliado de António Costa. Pior do que tudo, isso acontece depois de Costa ter feito uma aliança inédita com as extremas esquerdas. Rio permite que Costa enfrente as eleições de 2019 sem o ónus de estar colado às esquerdas radicais. É absolutamente espantoso.

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Mas o pecado imperdoável de Rio foi o modo como tratou o legado da liderança de Passos Coelho. Em 2011, o governo do PSD e do CDS recebeu do anterior governo socialista um país falido, com uma intervenção externa da União Europeia e do FMI. Com enormes dificuldades internas e externas, o governo de Passos Coelho conseguiu tirar o país da situação terrível em que estava e construiu as bases que permitiram crescimento económico e alguma folga ao actual governo. Rio nunca foi capaz de ter uma palavra de reconhecimento, de elogio a tudo o que o seu partido fez durante um dos períodos mais difíceis da história da democracia portuguesa. Pelo contrário, não perde uma oportunidade para se afastar do legado de Passos Coelho.

Rio ignora a história da direita democrática em Portugal. Não tem orgulho em relação ao que o seu partido fez no governo entre 2011 e 2015. Quer fazer um PSD que só existe na sua cabeça. Em vez de tentar unir as direitas, como compete aos líderes do PSD, foi ele que começou a dividi-las de um modo irremediável. Os factos têm um poder enorme. Passos Coelho herdou o segundo maior partido de Portugal. Rio herdou, de Passos, o maior partido de Portugal. Veremos que partido Rio deixará ao seu sucessor.

2. Quando se trabalha no estrangeiro, valoriza-se ainda mais o reconhecimento profissional dos portugueses para além das nossas fronteiras. Quando trabalhei em Bruxelas, ouvi sempre as melhores referências sobre António Vitorino por parte de quem trabalhou com ele. O sue prestígio é indiscutível. Já em Londres, estive com ele num encontro com investidores estrangeiros na economia portuguesa e assisti ao brilhantismo da sua intervenção. As minhas felicitações pela sua eleição para director geral da Organização Internacional das Migrações e o desejo dos maiores sucessos nas suas novas funções.