Mesmo depois das vendas à banca espanhola e do pretenso resgate da Caixa Geral de Depósitos sem aumento do défice estatal, a saga dos bancos portugueses prossegue. É por aí, provavelmente, que passará uma nova crise financeira que se anuncia à medida que o «boom» económico mundial afrouxará com o fim do «dinheiro barato» promovido pelo Banco Central Europeu.

Quanto ao défice sistemático do orçamento estatal, não só persiste desde que aderimos ao «euro» em 2002, na grande maioria dos anos acima do máximo de 3% do PIB exigido pela disciplina da UE, como excedeu a promessa do actual governo em mais 2% (3% acima do PIB total em 2017) devido ao financiamento à CGD. Vale a pena chamar a atenção para o facto negligenciado de a soma dos défices anuais se acrescentar ano após ano desde 2002 a 2017. O milagroso ministro Centeno não mudou isso!

E como era de recear, 24 horas depois de protestar em vão contra Bruxelas que decidiu inscrever no orçamento do Estado português os milhares de milhões dados à CGD para tapar os enormes calotes criados na época do Sr. Sócrates enquanto levava o país à bancarrota e continuando por saldar, o milagroso Centeno descobriu que ia ter de abrir os cordões da bolsa dos contribuintes num mínimo de 800 milhões de euros para ajudar a cobrir o défice contínuo do chamado «Novo Banco» entregue por tuta e meia ao fundo-abutre Lone Star.

Melhor do que ler as notícias caridosas dos «media» nacionais, será melhor consultar um periódico como o Financial Times. Aqui ficamos a saber que «o BCE tem vindo a empurrar os emprestadores da eurozona a acelerar o oneroso processo de limpar os empréstimos ‘non-performing’», isto é, «limpar os calotes». E conclui: «Segundo os termos da venda de 75% do Novo Banco à Lone Star, o fundo de resolução do banco comprometeu-se a providenciar até 3,9 milhares de milhões de ‘euros’ do capital caso o seu rácio caísse abaixo de determinado limiar devido a perdas com o «portfolio» de 7,9 milhares de milhões de empréstimos problemáticos».

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Vamos lá a ver por quanto tempo o ministro-milagre conseguirá empurrar com a barriga as dívidas prováveis que o fundo-abutre nos obrigou a pagar… Entretanto, o governo terá de lidar, como tem vindo a fazer, com a trapalhada do caso Montepio, que ficaria mais barato se fosse vendido a preço de saldo ao primeiro comprador, mas que por quaisquer razões o PS persiste em financiar, uma vez mais, com dinheiro dos contribuintes ou das IPSS, tais como a Misericórdia de Lisboa, que são entidades financiadas pelo Estado e servem, em princípio, para ajudar os «pobres» e não banqueiros de duvidosa credibilidade como Tomás Correia. Confirma-se, pois, que a pouca banca portuguesa que ainda sobra continua a ser «um queijo gruyère», conforme escrevi há dois anos!

Com uma dívida a descer com os juros baixos e a subir de novo com o défice orçamental de sempre, o mago das finanças já anuncia uma baixa do crescimento económico de que o país tem beneficiado graças ao «boom» internacional. No fim do ano passado, o BCE previa que «o crescimento real do PIB [da euro zona] deverá abrandar de forma gradual, passando de 2,4% em 2017 para 1,7% em 2020, à medida que os efeitos de uma série de factores que apoiam o crescimento se desvanece lentamente».

Ora, isto arrisca-se a apanhar os actuais partidos do governo numa situação de quebra do crescimento em pleno ciclo eleitoral. A avaliar pelas trapalhadas sem fim em que o PS se tem metido nas últimas semanas, tudo parece estar a correr mal desde os incêndios que nos ameaçam de perto e todas as medidas parecem estar a falhar, até à remota Rússia com a qual o governo decidiu pactuar quando todos os grandes da EU uma tomaram posição clara perante o atentado perpetrado em Inglaterra contra antigos espiões russos.

E é de duvidar que a «geringonça» saiba equilibrar-se numa provável baixa da economia. Não haverá mais nada para ninguém. Aliás, já não há e daí a repetição do défice apesar dos baixos juros da dívida. Daí, em suma, as queixas e as reivindicações que partem das corporações acarinhadas pela, começando pela falta de investimento e acabando nos cortes no sistema de saúde com o que isto significa com uma população cada vez mais envelhecida. A ausência de imigração e o baixíssimo índice de fertilidade são sinais indiscutíveis de que as luzes dos semáforos deixaram de estar verdes para passar a amarelo e, daqui até às eleições, talvez a vermelho. Qualquer escorregadela do triunvirato que nos governa será punida. Nem Centeno conseguirá suster os ventos que se levantem. Neste momento, a única ajuda ao governo é a falta de comparência da oposição, sobretudo do PSD…