O dia 7 de Novembro é sem dúvida um dia pesado para a história da democracia em Portugal, e ainda mais pesado para a vida de António Costa. Chegou ao fim um longo ciclo com uma tomada de assalto do “Castelo do Rei”.

Quando hoje acordámos de manhã não pensávamos que o dia mais se fosse parecer com um episódio de alguma série de um thriller político em final de temporada. Todavia foi mesmo o que se sucedeu. Chegou ao fim mais uma temporada do Partido Socialista no poder que, como é tradição, nunca acaba bem.

Creio que já todos esperávamos mais um escândalo ou outro, mas nunca nada desta dimensão, e que directamente envolvesse António Costa. O que é certo é que aconteceu, e Costa demitiu-se e saiu pelas traseiras. Agora, que futuro? É sem dúvida a questão para 1 milhão de euros. Com este fim surpresa de Costa, o País fica em suspenso sem saber quem vai para o leme. Da oposição em sentido formal (PSD) pouco se dá o conhecer qual é a alternativa e a mais-valia para os destinos de Portugal. E da oposição em sentido material (Chega!) vemos, ouvimos e lemos a demagogia do costume que também pouco ou nada apresenta de alternativa para além de uma verborreia corriqueira.

Em suma, da dita oposição não há grande esperança de mudança. E do PS? Considero que talvez seja no seio do Partido Socialista que se nomeie um novo maestro, uma vez que mesmo depois destes escândalos e do fim de uma era, é o que apresenta mais alternativa. Quando olhamos para Pedro Nuno Santos ou Fernando Medina observamos um pensamento mais sistemático do que em Luís Montenegro ou André Ventura. É triste, mas é a dura da realidade. Os dois homens forte do PS sempre têm alguma ideia para o País, ainda que não me reveja minimamente nela. Além disso, o PS continua a ser o partido mais bem posicionado eleitoralmente. Eventualmente poderá decair, e o PSD subir, mas a cerca sanitária ao Chega dificulta muito a matemática parlamentar. O país está mesmo afundado no lodo deste pântano socialista. Cumpre, agora de seguida, atentar em todas as restantes questões que ficam também na ordem do dia. Quão sistémica é a corrupção em Portugal? Quão grande é a correlação entre fenómenos de criminalidade económico-financeira e o Partido Socialista? E, por fim, quão descredibilizadas ficam as instituições político constitucionais?

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Quanto à primeira questão, se algumas esperanças tinha de que o cenário era actualmente mais benigno do que ulteriormente, todas elas se evadiram. É hoje claro que há uma grande teia de corrupção entre as autarquias locais, governo central e grandes grupos económicos. A corrupção é, pois, sistémica.

No que diz respeito à segunda questão, lamento imenso, mas vou recorrer à demagogia de associar o fenómeno da corrupção ao Partido Socialista. Seguramente que desde 2000, de forma ininterrupta, militantes do partido socialista são constituídos arguidos em processos que os acusam de associação criminosa, corrupção activa e passiva, tráfico de influência, etc. O Ministério Público quase que qualquer dia tem de criar uma divisão só para atender às práticas ilícitas do PS! Por conseguinte, muito mal vai uma democracia quando o partido do governo é desta estirpe.

Por fim, a última questão. Mas afinal em que estado ficam as instituições político constitucionais? Diria que com um défice muito grande, de tal ordem que já é dificilmente invertido. Os últimos grandes processos, com a sua respectiva amplificação nos órgãos da comunicação social, têm colocado a democracia portuguesa num estado de total descrédito, e com razões fundadas. Já ninguém acredita na classe política.

Perante tudo isto só tenho a lamentar que seja este o estado das coisas a meses de se celebrar 50 anos de Abril. Mandamos abaixo o Estado Novo, e bem, mas implantámos um Estado com vícios de Velho. Um Estado em que já ninguém acredita. Um Estado falhado.

É este, meus caros leitores, o estado de Portugal.