No passado Domingo assisti, na TVI 24, aos comentadores Constança Cunha e Sá e Ricardo Monteiro concordarem sobre o PSD. Normalmente, quando o consenso prevalece a ligeireza com que se debatem os assuntos fica a pairar como algo que não bate certo, mas que temos dificuldade em distrinçar. Uma impressão sobrejacente ao erro que resulta da falta de contraditório. Domingo passado esta sensação foi-se revelando no decorrer do programa até que um deles, não me recordo qual mas com o assentimento do outro, referiu que a aplicação do programa da troika tinha qualquer coisa como desertificado a área da direita. Foi nesta altura que a impressão se materializou. Porque se a aplicação do programa da troika volatilizou o espaço da direita como é que a direita ganhou em 2015? Como não havia debate, mas mera troca de impressões, esta realidade não foi referida, mas enterrada numa narrativa que se vem construindo, palavras em cima de palavras, até se enterrarem os factos.
Se não me engano, desde 2011 que a grande maioria de comentadores concorda sobre o PSD. Primeiro, que não conseguiria retirar o Estado português da bancarrota, depois que não venceria as eleições em 2015, mais tarde que Passos Coelho teria de sair da liderança do partido para que o PSD pudesse fazer frente ao PS (pelo menos nas sondagens). Que o PSD tinha de aceitar que as políticas do PS eram as correctas, para que pudesse fazer parte da nova narrativa e ter uma hipótese para derrotar António Costa. Agora que à frente do PSD está Rui Rio, um líder dessa linha que esses comentadores tanto recomendaram, o que indicam as sondagens? Que o PSD vai ter o pior resultado de sempre. Mas claro que para os comentadores habituais a responsabilidade não é de Rui Rio. Constança Cunha e Sá chegou mesmo a referir que o PSD não estaria melhor com outro líder. O que por agora se ouve é que este, pelo menos, é honesto, o que é o equivalente a estar de acordo com Costa. Foi logo a seguir que veio a afirmação sobre o vazio da direita ser um resultado do governo da troika. Como normalmente sucede quando não há debate, quando não existe contraditório, quando não existem pessoas a discordarem entre si, as análises saem erradas. O erro vence. Vence mais que o PS; vence mais que a esquerda. Vence qualquer comentador que não se preze.
Agora que a análise consensual a que temos direito sobre a direita se mostra errada há outro ponto que deve ser esclarecido: O PSD que vai a votos a 6 de Outubro não é o PSD que governou entre 2011 e 2015. Não é o PSD de Passos Coelho. É o PSD de Rui Rio. É o PSD de Pacheco Pereira. É o PSD de Manuela Ferreira Leite. É o PSD dos comentadores que concertadamente comentam realidades virtuais: que a economia está excelente, que o perigo de uma nova bancarrota do Estado está longe de acontecer, que a dívida pública está controlada, que a austeridade acabou ou prejudica menos as pessoas, porque talvez nenhum destes comentadores foi a um hospital ou não anda de transportes públicos. Ou foi e anda, mas não altera o discurso porque não há ninguém que o contradiga. E essa é a mais-valia de um debate: depararmo-nos com alguém que nos contradiga, sustente o contrário, nos abra os olhos. Nos desperte para a realidade. A força da democracia está aqui; não se reduz a votar.
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