riso | s. m.

ri·so
(latim risus, -us)
nome masculino
1. Acto ou efeito de rir.
2. Alegria; graça.
3. Zombaria; escárnio.

Nesta fase conturbada que atravessamos e em todas as que se vão seguir sem qualquer fim à vista, perdoem-me o meu realismo que sei não partilhado por grandes entendidos nestas matérias, segue um apetrecho para usarmos em tempos difíceis. Que apetrecho? O riso.

O riso pode ter múltiplas facetas. Riso como cola social, como ferramenta de promoção da saúde e como conector entre pessoas e gerações. Façam rir os demais e riam-se com os demais. Porquê? Só benefícios: benefícios para a saúde (estabilização da pressão arterial, melhoria do sistema imunitário, redução dos níveis de stress, atuação favorável ao nível do colesterol, regeneração dos pulmões, efeitos benéficos ao nível digestivo, melhoria do desempenho do coração, entre vários outros), benefícios ao nível da estimulação corporal  (é uma ginástica muito importante, mais ainda para vidas sedentárias) e, pelo menos, benefícios próprios e sociais (por propagação).

Os estudos que testemunham a importância do riso são variados e provenientes de incontáveis origens. E chegam a um profundo consenso quanto à mensagem base: é obrigatório usar e abusar do riso, sobretudo em momentos como o atual. E deve haver riso para todos os gostos e feitios e em todas as circunstâncias. Há um dia internacional do riso, há terapias do riso (ou com riso), há coaches de riso, enfim, há inúmeras linhas de ação à volta do riso. Precisamos, agora, que todos os dias sejam dias de riso.

A primeira questão é que o riso se torna basilar em tempos conturbados. É um compensador natural. É um estimulador inato. E é uma incumbência de nós todos para não nos deixarmos ir abaixo, podendo rir sozinhos (e já agora de nós próprios), para os outros e com os outros.

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A segunda questão, é que normalmente os media prestam um serviço devastador à mente das pessoas, a par com o que o que circula nas redes sociais ao nível de desinformação. O que se diz e volta a repetir são ecos da desorientação genérica de todos, de alto a baixo, de lés a lés, sendo simples perceber que, como referia há 15 dias, não nos podemos deixar desaguar no mar da solidão. O riso constitui-se como um grande apetrecho, também, no combate à solidão, estruturando elos sociais, tornando-se um cúmplice de saúde e um estímulo crítico corporal.

Se é certo que há distanciamento social, se é certo que há ou haverá algum tipo de restrições e confinamentos, se é certo que estamos cada vez mais longe uns dos outros, é também certo que devemos, imperiosamente, tirar partido do riso.

O riso é humano, aproxima, descontrai, liberta. O riso é uma importante insígnia da empatia, da simpatia e da construção de um self e de relacionamentos com os outros mais chegados e mais estáveis.

Em vez de usarmos o telemóvel para desinformação, usemo-lo para partilhar com alguém o riso.  Em vez de usarmos uma informação por email, fria, chamemos alguém para partilhar o riso (ainda que à distância física imposta). Em vez de falarmos entre todos com tom de seriedade, intercalemos com momentos de riso.  Em vez de usarmos a televisão enchendo-nos de canais de desinformação, estou certo de que rapidamente encontraremos programação promotora do riso. Em vez de usarmos a apreensão e a consternação geral, há sempre um gracejo a dizer e, à distância, conseguirmos fazer rir, rindo-nos também. Faz bem a todos. Faz bem à condição humana, ao ser sensível que cada um transporta e à sua humanidade.

O riso não está nem será proibido. Mas é vulgar estimular a seriedade e momentos de grande desolação e consternação porque os tempos o impõem. Essa praga vem de todo o lado. Louvem-se, porém, e estimulem-se, nestes tempos, os contrários à corrente geral. Estimule-se quem nos faça rir e a capacidade que temos para fazer rir os demais. E rirmos dos demais e de nós próprios. Porque precisamos, talvez mais do que qualquer vacina que possa não aparecer. Precisamos do riso que não tem contra-indicações, que é gratuito, que não tem pretensões e que nos faz um bem tremendo. Precisamos de rir, rir muito.

Aligeirem, pois, o fácies e olhem para o lado e sorriam. Melhor, riam mesmo. Se o conseguirem, estão a fazer bem aos outros e a vós próprios.

Esta é uma forma simples de lidarmos com as dificuldades e, bem entendido, não coloca em causa a seriedade da situação nem oblitera o momento presente.

E sim, precisamos de Fernando Pessoa n´ “A tua boca de riso / Parece olhar para a gente / Com um olhar que é preciso / Para saber que se sente”. Rir é sentir. Rir é viver. Riam-se, por favor. E se outras disciplinas não quiserem assumir ou aceitar, façam pelo menos da disciplina do riso a vossa disciplina. A bem de todos.