Será preciso fazer um desenho?” (expressão popular)

16 de Outubro de 2017: Bendita chuva!

São Pedro apagava os incêndios que, soprados pelos ventos do furacão Ophelia, deixaram um terrível rasto de destruição, em que se lamentaram 50 mortes, mais de 70 feridos, afetando ainda mais de 1700 casas e mais de 700 infraestruturas industriais, e pintando de negro mais de 200 mil hectares, que somados aos dos meses anteriores, fizeram de 2017 o ano mais negro de uma longa, escura e triste história do fogo.

Nesta história que se vai ciclicamente repetindo, enquanto tragédia, o que mais se ouviu, tal como após os anos infernais de 2003 e 2005, com prejuízos de centenas de milhões de euros e pelo menos 38 mortes, foi que isto não se repetiria.

Mas não se vão melhorando diversos aspectos e não se perseguem outros?

Sim, é verdade. Há mais incendiários presos, há bem menos ignições, há mais meios de combate, tenta-se maior vigilância, melhor cartografia, melhor entrosamento, etc. E agora até haverá dinheiro da “bazuca europeia” (o que não for desviado para as grandes cidades, igualmente sob pretextos ambientais) para melhorar ainda mais as performances.

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O drama? É que isto são questões laterais…

O cerne da questão há muito se aponta. Reproduzo aqui um excerto de um artigo de J. O. Costa n’A Comarca de Arganil nº 6487, a 2 de Setembro de 1969: “O mato – uma calamidade do nosso tempo: Quem noutros tempos atravessou montes e vales à caça e pretenda fazê-lo neste momento, fica espantado com o que observa. O mato atingiu proporções inacreditáveis, selváticas, onde apenas podem passar os animais bravios. É um matorral com alguns metros de altura e quilómetros de extensão. É terra perdida, sem valor, a aguardar o fogo que virá um dia.”

Cinco décadas depois, tudo piorou. Um mundo rural cada vez mais vazio, sem atividades ou justificação económica que consigam sequer estancar, quanto mais inverter, o rumo. O resultado é inevitável.

“A coisa pior que pode acontecer é que a floresta volte a crescer como estava. Todos hoje sabemos bem que deixar a floresta crescer livremente é criar condições para que ela seja combustível” foram as palavras de António Costa, a 28 de junho de 2017, numa reunião com autarcas do Pinhal Interior.

Sr. Primeiro Ministro, passaram-se três anos. E, infelizmente, e não obstante alguns interessantes projetos aqui e ali (muitos de iniciativa cívica e pouco apoiados pela administração pública), “o pior que podia acontecer”… está mesmo a acontecer.

Há três anos, choveu. Duzentos mil hectares foram afetados. Todavia, simulações integrantes do Relatório da Comissão Técnica Independente para um cenário sem chuva, apontavam para mais de 500 mil…

E quando  daqui a uns anos  novo inferno chegar?

Que São Pedro nos valha…