Na semana passada, Trump sofreu a terceira derrota seguida desde que é, na prática, o ‘líder’ do partido republicano: perdeu as intercalares de 2018; foi derrotado nas presidenciais de 2020; e não conseguiu vencer as intercalares deste ano, quando tudo apontava para uma vitória clara dos republicanos.

Biden conseguiu um resultado extraordinário para um Presidente em funções. Reforçou a maioria dos democratas no Senado, e perdeu por uma diferença mínima os Representantes. Este resultado mostra que Trump dificilmente será de novo eleito pelos norte americanos para a Casa Branca. Podemos dizer que Biden conseguiu praticamente a sua reeleição na semana passada, no caso de enfrentar Trump daqui a dois anos.

Mesmo com três derrotas seguidas, Trump não desiste e anunciou na terça feira a sua recandidatura à Presidência. O seu ego está acima da realidade, por isso nunca reconhece qualquer derrota. Há dois anos, houve “batota”; e agora foram os outros que perderam, mesmo no caso em que os derrotados foram escolhas suas (como aconteceu, por exemplo, nas eleições para governador do Arizona, ou para senador da Pensilvânia), e com Trump empenhado na campanha eleitoral.

Veremos o que acontecerá nas primárias do partido republicano. Em princípio, DeSantis também será candidato. Se isso acontecer, Trump e DeSantis serão os favoritos a vencer as primárias, talvez com um ligeiro favoritismo para o antigo Presidente. Mas os republicanos poderão finalmente perceber que com Trump estão condenados a mais uma derrota, e surgir uma maioria que queira um candidato novo como DeSantis.

DeSantis é um conservador, como devem ser os republicanos, liberal na economia, ao contrário de Trump que acredita num intervencionismo económico por parte do Estado. Acredita na democracia e nas liberdades individuais, ao contrário de Trump com os seus impulsos autoritários e anti-democráticos. Está no lado certo na guerra na Ucrânia, ao contrário de Trump e da sua terrível proximidade a Putin. Finalmente, DeSantis não tem a grosseria, a falta de decência e de escrúpulos de Trump. Em democracia, os líderes devem exibir a decência que lhes permita gozar de uma autoridade natural indispensável ao bom funcionamento democrático. Um líder sem decência, como Trump, é uma das principais causas do declínio da qualidade da democracia.

Num momento que é fundamental combater com sucesso ditaduras e regimes totalitários, a democracia na América tem que readquirir a qualidade que lhe permite ser um exemplo a seguir. Não o conseguirá enquanto o partido republicano não se livrar de Trump. Um político que não tem nada de conservador, não tem nada de liberal, e por isso não é um digno representante de um grande partido de direita. A emergência de Trump foi o pior que aconteceu à direita ocidental nos últimos anos. Esperemos que os republicanos sejam capazes de acabar com essa desgraça.

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