Desde meados do Séc. XX, que a assunção do racismo como convicção, se encontra confinada a grupos específicos que defendem a existência de uma ou várias raças inferiores. Que não a sua, claro. Este tipo de afirmação faz parte do discurso tradicional dos grupos da supremacia branca e desta atitude, consciente e confessada, pouco mais tem resultado que a prática de crimes de ódio, segregação ou genocídio. Apesar de ser um facto, que também existem grupos políticos identitários, que não de raça branca, as situações não são comparáveis com um mínimo de honestidade intelectual, pois não se verificam ou são quanto muito historicamente pontuais, crimes de segregação ou genocídio praticados por outra raça- que não a própria- contra a denominada raça branca.

Outra forma de racismo, talvez mais relevante que a anterior, é o preconceito, também conhecido como racismo envergonhado ou encoberto, que se manifesta dissimuladamente sob a forma de crença cultural, de que pessoas de certa cor ou raça são inferiores. Mas como também existe quem continue a acreditar que o planeta é plano, se há algo muito difícil de contrariar, é uma crença.

As questões identitárias voltam a estar surpreendentemente na ordem do dia quando a extraordinária evolução da humanidade conquistada no Séc. XX nos levaria a acreditar que tais preconceitos e crendices já estariam no museu da História. Mas não foi assim que aconteceu e a susceptibilidade com estas questões continua à flor da pele.

Convém pensar serenamente, porque razão tais susceptibilidades, não só continuam presentes, como até têm tendência a exacerbar-se.

Decorreram apenas trinta anos, desde o fim do sistema de Apartheid na África do Sul. Convém relembrar quem não sabe ou está esquecido, que em tal regime era proibido o casamento entre brancos e negros, interdita a livre circulação de negros para fora das suas zonas (nós que ficamos inconsoláveis por não poder sair do concelho num fim de semana) obrigatória a separação de raças nos serviços públicos, fossem de saúde, na escola ou até num banco de jardim.

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As leis de segregação racial nos Estados Unidos vigoraram até 1965 e só nessa altura terminaram – pelo menos na lei — as disposições que desde 1876 exigiam que as escolas públicas e a maioria dos locais públicos, incluindo transportes, tivessem instalações separadas para brancos e negros.

Era vulgar na Europa interditar o acesso de negros a hotéis, restaurantes, ou outros locais de convívio, onde se exibiam nas montras, tabuletas com o anúncio dessa interdição.

E porque acontecia isto? Não sejamos hipócritas e meigos com as palavras: porque os consideravam inferiores.

Não reza a história, que uma vez independente, algum Estado de maioria negra, tenha criado qualquer tipo de regime, sequer longinquamente, parecido com isto, em relação a pessoas de raça branca.

Quando durante uma partida de futebol, num qualquer país africano, um árbitro identificar um sujeito sentado no banco de suplentes, como o white guy, obviamente o dito branco, não se vai sentir ofendido com isso. Vai simplesmente entender que foi um modo expedito de o identificar no meio de uma série de colegas de raça negra.

Pode existir quem entenda, que na mesma situação, em que alguém se refere a um black guy, no meio de um conjunto de brancos, também não deveria conduzir a que tal pessoa se sentisse ofendida.

Pretender esta paridade de comportamentos, é de tal modo absurdo e sem sentido, que a sua aparente lógica preenche todos os requisitos daquilo que vulgarmente se designa por “lógica da batata”. De facto estranho, seria que o visado não se tivesse indignado.