Falar em sangue novo a propósito da Comissão Juncker parece quase paradoxal. Mas é a realidade: com uma equipa interessante e constituída por muitos pesos pesados, baseada num modelo de funcionamento ainda por testar, é certo, mas promissor (vice-presidentes, um primeiro vice-presidente, coordenação aberta), e com um programa ambicioso e que em certos aspectos rompe com o passado recente, Jean-Claude Juncker desmente as perspectivas da sua idade e promete à União um futuro mais risonho.

Será assim? Os eurocepticismos transbordam, o Reino Unido prepara um referendo sobre a continuidade na UE, a crise das dívidas soberanas não está ultrapassada, a deflação ameaça, o desemprego está em níveis máximos, a Europa envelhece. Falta alguma coisa para tudo correr mal?

E o que propõe Juncker para tornar a fazer da Comissão Europeia a locomotiva europeia?

Entre muitas ideias, uma Comissão mais política, a funcionar como uma verdadeira equipa.Crescimento baseado em investimento: prometeu apresentar nos primeiros 3 meses de mandato um programa de crescimento, investimento e empregos que gere em 3 anos 300 mil milhões em investimento (ainda não sabe de onde virão, pediu apenas que confiem nele). A disciplina orçamental e as reformas estruturais deverão ser sempre acompanhados de uma avaliação rigorosa dos impactos sociais: as pessoas estão primeiro, defende o novo Presidente da Comissão, que também sublinhou a importância de valorizar a dimensão social na avaliação do desempenho europeu, pois os triplos A não podem ser atribuídos em estrita função dos resultados das contas públicas. Uma nova política energética, tornando a Europa mais autónoma e uma maior solidariedade na política da imigração são outras das propostas apresentadas.

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A equipa de Junckers, apesar de contar com inúmeros antigos primeiros-ministros e ministros, tem alguns pontos fracos, sujeitos a controvérsia no futuro: a relação entre os vice-presidentes e os restantes comissários, no novo método de coordenação aberta a que fiz referência, sendo em princípio um aspecto positivo, carece de teste e confirmação; alguns comissários serão vigiados com particular atenção pelo Parlamento Europeu e pela opinião pública em geral (e os media), como nos casos do espanhol Cañete, do húngaro Navracsics, do inglês Hill (encarregue dos serviços financeiros) ou do francês Moscovici.

O futuro começa agora. Para que a União Europeia recupere parte da confiança perdida por parte dos cidadãos, seria fundamental que a nova Comissão Europeia, cujo mandato se inicia no próximo dia 1 de Novembro, fosse capaz de cumprir as suas promessas. Mas muito dependerá – talvez mesmo exclusivamente – dos resultados na frente da economia; só com um claro desenvolvimento económico, o regresso do crescimento regular e sustentado, com destaque para a zona euro, e uma concomitante redução do desemprego, recuperará a União o lustre perdido e a confiança das pessoas.

Com a chegada de Jean-Claude, sai José Manuel. A herança não é brilhante, ainda que seja injusto atribuir ao português o grosso das responsabilidades, sobretudo a partir do momento em que a crise da zona euro e das dívidas soberanas assolou a Europa. As despedidas no Parlamento Europeu não foram propriamente festivas (o hemiciclo manteve-se tristemente despido de eleitos aquando do derradeiro discurso de Barroso como Presidente da Comissão). Para futuro, fica uma memória ainda por delinear mas que, infelizmente, não será totalmente positiva: falta a Durão Barroso uma grande obra, um dossier indiscutível (e alguns bons houve, como a inovação) que seja recordado como o coroar de 2 mandatos de 5 anos.

Mas isso são contas de outro rosário, agora interessa acreditar que o futuro próximo permitirá à Europa da União…um novo fôlego.

 

Professor da Universidade Católica – Instituto de Estudos Políticos