A trágica marcha dos refugiados em 2015

Os números de pessoas que chegavam ilegalmente à Europa já tinham aumentado de forma alarmante nos últimos anos, especialmente devido ao agravamento do conflito na Síria. No entanto, em 2015, os europeus olharam com mais atenção para os centros de acolhimento em Lampedusa e nas pequenas ilhas gregas que recebem diariamente milhares de migrantes. Em abril, o naufrágio de um navio com 900 pessoas alertou a sociedade civil e em setembro, a fotografia de um menino, Aylan Kurdi, criou uma onda de solidariedade por todo o continente.

A ação política seguiu-se à indignação dos cidadãos e em Estrasburgo, o presidente da Comissão Europeia apresentou um plano para os 28 coordenarem o acolhimento das pessoas que acorriam às fronteiras da Europa. O sistema de quotas foi rejeitado, começaram a fechar-se fronteiras por toda a Europa Central. O jornalista João de Almeida Dias encontrou “um inferno” na Hungria, presenciou o medo dos migrantes na Sérvia e esteve numa aldeia entre estes dois países onde ninguém os quer acolher.

Esta rejeição espalhou-se pela região e a Hungria fechou as suas fronteiras e utilizou métodos violentos para afastar os imigrantes. Outros países como a Áustria também encerraram as fronteiras e suspenderam os acordos de Schengen. Ao mesmo tempo, Angela Merkel, chanceler alemã, anunciou que a Alemanha iria acolher os migrantes que chegassem às suas fronteiras, esperando que totalizassem um milhão de pessoas. No entanto, as dificuldades logísticas do acolhimento de tantas pessoas levaram ao encerramento das fronteiras do país e a controlos apertados sobre a identificação dos migrantes.

Em Portugal, a onda de solidariedade foi crescendo, mas o antigo Governo alertou para a importância de ter condições financeiras para receber os refugiados que cá chegassem. Foi constituída uma plataforma de várias organizações não-governamentais para ajudar na receção e acompanhamento dos refugiados. As primeiras pessoas trazidas dos hotspots da Grécia e de Itália chegaram a Portugal no final de dezembro e a demora em reinstalar 160 mil pessoas nos vários membros da UE tem levado a críticas do sistema implementado pela Comissão. Entretanto. Vários países têm recusado receber refugiados e a União fez um acordo com a Turquia para maior vigilância da sua costa e maior apoio aos campos de refugiados.

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Em 2015, terão entrado ilegalmente na Europa 1,55 milhões de pessoas e o fluxo de pessoas só abrandou devido às condições meteorológicas no Mediterrâneo, esperando-se uma nova vaga de migrantes logo em março de 2016. O Observador criou uma etiqueta especial para acompanhar todas as notícias relacionadas com a crise dos refugiados.

Refugees crisis in Greece

Volkswagen apanha mundo desprevenido com fraude nas emissões poluentes

Há vários anos que quem lida com setor automóvel sabe que as estimativas de consumos e emissões poluentes não correspondem, por regra, a situações reais de utilização pelos automobilistas. O que, por sinal, ninguém esperava é que fosse possível um escândalo de fraude como o que rebentou em setembro. E dificilmente alguém adivinharia que no centro dessa fraude estaria a gigante alemã Volkswagen, a marca que em julho mais vendia em todo mundo.

Com epicentro nos EUA, a fraude foi descoberta por acaso, garantem os investigadores que avisaram o regulador norte-americano. O caso espalhou-se, rapidamente, para todo o mundo – envolvendo 11 milhões de motores diesel – e levando à demissão do presidente Martin Winterkorn que, ainda assim, se dizia “chocado” e enjeitava quaisquer responsabilidades no sucedido. O caso dos kits fraudulentos teve atualizações quase diárias ao longo de vários meses, enquanto as ações afundavam em bolsa e abalavam os mercados financeiros na Europa.

A Volkswagen fez uma provisão multimilionária para resolver este problema mas os custos podem ser vir a ser muito mais altos. Além disso, ainda não é totalmente claro, nomeadamente para muitos proprietários de carros afetados em Portugal, qual será a solução para os seus veículos. Certo é que a recuperação está a ser difícil, como se previa, o que continua a amargurar a cidade de Wolfsburgo e a colocar um ponto de interrogação sobre as reais consequências futuras para a Autoeuropa. Um escândalo, portanto, que nasceu de uma cultura de competição da qual todos estarão a tirar lições.

Volkswagen shares down more than 9 per cent as scandal spreads

Tragédia nos Alpes

Há vários acidentes de avião todos os anos, mas o do voo A320 da GermanWings foi infelizmente especial. 150 pessoas morreram porque o copiloto, Andreas Lubitz, fechou-se no cockpit e atirou deliberadamente o avião contra uma montanha. No dia 24 de março, um avião da GermanWings, companhia subsidiária da Lufthansa, descolou de Barcelona a caminho de Dusseldorf Quando passava os alpes franceses iniciou uma descida que, durante oito minutos, encaminhou o avião contra uma montanha. O copiloto tinha-se trancado na cabine e acelerou várias vezes de modo a provocar um embate em alta velocidade.

A tragédia impressionou pela dimensão, mas também pelo descuido: um piloto que lida diariamente com tantas vidas viveu episódios depressivos e foi considerado apto. O resultado deste ato foi a obrigatoriedade de manter sempre dois pilotos no cockpit e a realização de exames médicos regulares aos membros das tripulações para tentar despistar distúrbios neurológicos.

Também a GermanWings, empresa que ficou com o nome amaldiçoado por causa de Lubitz, está prestes a fechar. A Lufthansa começou a passar as rotas para a EuroWings logo a seguir à tragédia e até o site da empresa será desativado nos primeiros dias de 2016. O memorial que foi erigido em Le Vernet, perto do local da tragédia, serve para preservar a memória do acidente – cujas consequências serão ainda dirimidas em tribunal visto que os representantes das vítimas rejeitaram o valor proposto pela companhia alemã para compensação financeira.

SEYNE, FRANCE - MARCH 26: In this handout image provided by French Interior Ministry, the Rescue workers and gendarmerie continue their search operation near the site of the Germanwings plane crash near the French Alps on March 26, 2015 in La Seyne les Alpes, France. Germanwings flight 4U9525 from Barcelona to Duesseldorf has crashed in Southern French Alps. All 150 passengers and crew are thought to have died. (Photo by Francis Pellier MI DICOM/Ministere de l'Interieur/Getty Images)

Terrorismo, morte e violência abateram-se sobre Paris

O dia 13 de novembro de 2015 podia ter proporcionado mais um serão normal de lazer em Paris. Mas, em poucas horas, um grupo de terroristas ligado ao Estado Islâmico semeou o pânico e a morte na capital de França. No rescaldo dos ataques mais sangrentos de sempre na Europa, 130 pessoas perderam a vida pelo simples facto de terem decidido sair de casa para fazer uma refeição fora, assistir a um concerto de música rock ou ir a um estádio de futebol ver uma partida. No dia em causa, entre as seleções francesa e alemã.

Na sala de espetáculos do Bataclan, pereceu o maior número de vítimas. Os atacantes entraram na sala e começaram a disparar as Kalashnikov sobre a audiência que assistia a um concerto dos Eagles of Death Metal. Depois, procuraram os elementos da banda, pelo facto de se tratar um grupo de origem norte-americana. Queriam caçar os “ianques”. Empurradas contra as janelas, diversas pessoas serviram de escudo humano. Os assaltantes queriam, desta forma, travar as tentativas das forças policiais para entrar no recinto e colocar um ponto final na carnificina. No fim, 89 apreciadores dos Eagles of Death Metal jaziam, mortos, num chão que testemunhas do massacre afirmaram estar cheio de corpos e poças de sangue.

Outro palco dos ataques centrou-se no Stade de France. França e Alemanha disputavam um jogo amigável perante bancadas cheias com 80 mil espetadores, entre os quais se incluía François Hollande, presidente de França. Entre a assistência, era suposto estarem atacantes munidos de explosivos destinados a serem acionados no local. Teria sido uma tragédia, mas não aconteceu. Os atacantes misturaram-se nas filas de gente que se preparava para entrar no estádio, mas não chegaram a entrar. As explosões acabaram por se dar fora do recinto desportivo, junto a duas portas de acesso. O ruído provocado pela detonação dos explosivos foi ouvido no interior do estádio, mas a decisão foi a de prosseguir com o jogo, de forma a evitar o pânico.

Os planos dos terroristas não se ficavam por aqui. Entre as ruas de La Fontaine au Roi e Gauburg du Temple, atiradores que se deslocavam de carro começaram a atirar sobre as pessoas que estavam em restaurantes da zona. Os dados mais recentes indicam que, em 20 minutos, foram disparados cem tiros, que provocaram cinco mortos e oito feridos. Outro grupo armado adotava o mesmo procedimento na Rue de Charonne. Alvejou quem se encontrava no restaurante Belle Équipe, deixando para trás 19 mortos e nove pessoas em estado crítico. Calcula-se que tenham sido disparados 400 tiros em 20 minutos.

Os bombardeamentos a posições do Estado Islâmico na Síria e no Iraque foram reforçados na sequência dos ataques em Paris. O estado de emergência, decretado por François Hollande logo a seguir aos atentados na Cidade Luz, ainda se encontra em vigor em França. A tensão e os alertas de ameaças terroristas não cessaram. Ao ponto de muitas pessoas estarem a planear festejar a passagem de ano longe da capital francesa.

A man lights a candle amongst tributes laid to victims of the Paris attacks at the foot of the Monument a La Republique in Paris on November 16, 2015. Islamic State jihadists claimed a series of coordinated attacks by gunmen and suicide bombers in Paris on November 13 that killed at least 129 people in scenes of carnage at a concert hall, restaurants and the national stadium. AFP PHOTO / LIONEL BONAVENTURE (Photo credit should read LIONEL BONAVENTURE/AFP/Getty Images)

Dragão espirrou, o mundo ficou constipado

Depois de anos a puxar por uma economia mundial em crise, chegou a vez de as economias emergentes se engasgarem, em grande parte devido à China. A bolsa chinesa começou a transformar ganhos espetaculares em perdas ainda maiores e o que Xi Jinping já tinha começado a preparar quando foi nomeado o próximo Presidente da China começou a tornar-se realidade: a economia chinesa começou a abrandar.

As importações chinesas há muito que estavam a sustentar a recuperação, ou a impedir quedas maiores, na economia mundial, mas o massivo investimento público, em especial na construção de infraestruturas e imobiliário revelou-se excessivo. Cidades fantasmas foram criadas, o investimento não foi rentabilizado e, por mais que se destruísse e se voltasse a construir, a economia chinesa estava a mudar para uma economia mais sustentada pelos serviços, um setor mais fechado e com menor conteúdo importado. O resultado foram ondas de choque entre os países que mais dependem das exportações para a China, como os países do sudeste asiático, o Brasil e a África do Sul.

O Brasil, que era a economia em maior crescimento e que mais destaque ganhava na América do Sul, já vinha a enfrentar problemas. A estagnação de 2014 deverá, mesmo, dar lugar a uma recessão este ano. O banco norte-americano Goldman Sachs já lhe chama depressão. Com o rating cortado para lixo, o maior défice das últimas duas décadas, uma série de escândalos de corrupção, que envolvem a maior petrolífera brasileira e até Dilma Roussef, e uma inflação galopante, a queda nos preços do petróleo só veio deitar mais achas para a fogueira.

Pela mesma razão, a Rússia, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, que já vinha enfrentando problemas com a sua moeda e o efeito das sanções económicas impostas pela União Europeia e Estados Unidos devido ao seu papel na crise ucraniana, deve acabar o ano com a moeda no valor mais baixo de sempre. Para Portugal, com consequências mais diretas, mas no mesmo lote, está Angola. A baixa dos preços do petróleo está a causar muitos problemas a Luanda e isso tem-se notado nas exportações portuguesas, que caíram quase 30% nos primeiros nove meses do ano.

Temple of Heaven in Beijing, China