A volta do líder do PS na campanha oficial das autárquicas que agora começa é extensa. Vai fazer-se sobretudo de comícios de final de dia e do fim de semana de 18 e 19 mais intenso, mas António Costa só passará por uma única das nove câmaras conquistadas ao PCP há quatro anos — visitou algumas em pré-campanha.

A visita do líder em plena campanha oficial é normalmente marca de aposta forte e derradeiro esforço ao mais alto nível. Costa já explicou que a sua agenda de campanha é condicionada pelo cargo de primeiro-ministro, depois das críticas de eleitoralismo que vieram da oposição, pelo que o entendimento foi reduzir as visitas das últimas semanas apenas às capitais de distrito e às Regiões Autónomas. Em Almada, explica fonte socialista, o líder marcou presença no dia do lançamento da recandidatura de Inês de Medeiros.

Almada, Barreiro, Alcochete, Alandroal, Barrancos, Moura, Beja, Constância e Castro Verde. Destas nove localidades que deixou os comunistas menos influentes no plano autárquico em 2017, apenas uma consta do plano oficial de campanha de António Costa, que foi divulgado esta segunda-feira aos jornalistas. A presença de Costa vai ser mais intensa a Norte, nesta reta final, enquanto o Sul — nomeadamente os territórios imediatamente a Sul do Tejo, como Almada, Setúbal e Barreiro — foram visitas de pré-campanha, tendo havido um comício com o secretário-geral do PS no dia 7 de setembro em Setúbal, onde Costa não se coibiu de afirmar: “Ainda há quatro anos, poucos acreditavam que o PS ganhasse no Barreiro, em Almada, este ano vamos voltar a ganhar no Montijo, Alcochete, Barreiro, Almada e vamos ganhar em Setúbal”. Ficou dito ali, no terreno próprio mas onde Costa não voltará agora.

Havia um outro evento do socialista previsto para Barreiro e Almada, na sexta-feira passada, mas acabou cancelado (devido a agenda pessoal de Costa, sendo que a morte do antigo Presidente da República Jorge Sampaio veio, depois, suspender todos os planos). Estas localidades de peso não foram entretanto incluídas na agenda que foi oficializada esta segunda-feira, ao contrário do que aconteceu com Lisboa, por exemplo, onde o líder socialista era para ter ido esta segunda-feira, tendo a participação de Costa sido cancelada por causa dos três dias de luto nacional, mas vai voltar mais do que uma vez na campanha. O Observador questionou o PS sobre se ainda está a ser estudada a inclusão de algumas destas localidades no plano, mas a resposta foi que a agenda “para já está fechada”.

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Assim, e por agora, na campanha oficial não há passagem prevista pelas nove localidades, com Costa apenas a pisar os distritos de Évora (onde fica o Alandroal) e Beja (onde ficam Barrancos, Moura, Castro Verde e Beja) ao final do dia 21 (com um comício às 18h em Évora e outro às 21h em Beja), encerrando as presenças no Alentejo. É precisamente nesta última visita que acabará por passar no único território que conquistou ao PCP onde vai em período campanha: Beja.

Já o distrito de Setúbal (onde ficam Almada, Barreiro e Alcochete) foi visita apenas em pré-campanha. Almada e Barreiro, por exemplo, duas setas duramente cravadas no peito comunista desde 2017, não estão no roteiro. No caso de Almada, Costa passou por lá apenas em julho, como já foi referido, marcando presença na sessão de apresentação pública da recandidatura de Inês de Medeiros à presidência da Câmara Municipal de Almada.

Orçamento não está em causa. Mas mais vale prevenir?

Há quatro anos, os comunistas perderam dez câmaras — às já referidas soma-se Peniche, que passou para as mãos de independentes — e, nos dias imediatamente a seguir às eleições o líder do PS chamou até o líder comunista, Jerónimo de Sousa, para uma reunião em São Bento. Na altura havia um Orçamento do Estado em negociação e Costa quis tomar o pulso ao parceiro parlamentar depois daquela sangria autárquica para o PCP onde o carrasco tinha sido precisamente o seu partido.

Sempre que são questionados sobre consequências para negociação orçamental trazidas por um resultado eleitoral mais desfavorável, tanto PS como PCP têm garantido que os dois planos estão separados e que uma coisa não depende da outra, ainda assim, não há ofensivas do PS em terreno sensível para o PCP neste período de campanha que começa esta terça-feira.

E tudo acontece quando ainda esta semana, em entrevista à Rádio Renascença, o líder do PCP admitiu que reconquistar câmaras como Almada ou Barreiro nestas autárquicas “teria um grande significado” para o partido.

A volta do líder socialista vai terminar no Porto, ao lado do candidato do partido Tiago Barbosa Ribeiro, depois de um processo de escolha de candidatura conturbado e que não agradou ao líder do PS. Costa tinha preferido o seu secretário de Estado da Mobilidade, mas Eduardo Pinheiro acabou por desistir depois do impacto que a sua escolha teve nas estruturas locais que preferiam outro nome. Apesar de desagradado com o processo, Costa irá ao Porto fazer o encerramento, depois de passar por Lisboa e participar na tradicional descida do Chiado ao lado de Fernando Medina que, em 2014, lhe sucedeu na CML — desta vez não haverá o não menos tradicional almoço socialista na Cervejaria Trindade que está em obras.

Medina contará com Costa mais duas vezes nas próximas duas semanas: a primeira será já na próxima quinta-feira, ao final do dias, e a segunda a meio da segunda semana, na quarta-feira ao início da tarde. Tem também uma longa lista de comícios noturnos, em alguns casos dois numa mesma noite, que vão passar por Aveiro (terça-feira), Coimbra (quarta), Faro (quinta), Viana do Castelo (sexta). Na próxima semana, a receita será a mesma e depois de arrancar a segunda-feira numa iniciativa de campanha na Amadora (onde o PSD de Rui Rio está a apostar muitas cartas), o líder socialista voará para o Funchal para o comício da noite, nos dias seguintes terá também intervenções à noite em Évora e Beja (terça), em Castelo Branco e Portalegre (quarta), Ponta Delgada (quinta) e Odivelas (sexta).

Será no fim de semana entre as duas semanas de campanha, dias 18 e 19, que o programa do secretário-geral do PS vai adensar-se: passará por 13 localidades em 48 horas. No sábado começa em Póvoa do Lanhoso, segue para a terra de Marcelo Rebelo de Sousa, Celorico de Basto, depois para Vizela, Famalicão, Barcelos e termina o dia em Braga. No domingo vai para Marco de Canaveses, Penafiel, Paredes, Valongo, Maia, Matosinhos, Gondomar e fecha o dia em Vila Nova de Gaia. Na manhã seguinte já estará na Amadora.