O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, criticou esta quinta-feira qualquer tentativa de reunião oficial com o regime bielorrusso de Alexander Lukashenko, considerando que tal equivale a “legitimá-lo”.
“É preciso ter consciência de que qualquer encontro direto com Lukashenko o ajuda, porque legitima o seu regime”, disse o chefe do Governo polaco à imprensa.
As declarações do primeiro-ministro nacionalista polaco referem-se a encontros da chanceler alemã, Angela Merkel, com o Presidente russo, Vladimir Putin, e com Lukashenko, seguidos de uma chamada telefónica a Morawiecki.
“Sublinhei junto da senhora chanceler [Angela Merkel] que nenhum acordo envolvendo a Polónia e toda esta situação poderá ser concluído sem a nossa participação”, indicou.
Merkel e Lukashenko discutiram ajuda a refugiados e crise na Bielorrússia em chamada rara
A ação de Merkel, procurando uma solução para a crise migratória nas fronteiras orientais da União Europeia (UE), foi recebida com duras críticas por parte dos representantes do poder nacionalista polaco.
Na quarta-feira, o Presidente polaco, Andrzej Duda, comentou o assunto numa reunião com o seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier.
Somos um país soberano que tem o direito de decidir os seus próprios assuntos e vamos manter-nos intransigentes quanto à defesa desse direito”, insistiu Duda.
Por sua vez, a ex-primeira-ministra nacionalista polaca Beata Szydlo considerou na rede social Twitter que, ao falar por iniciativa própria com Minsk e Moscovo, “a chanceler alemã está a violar todos os princípios da UE. A sua atitude faz pensar nos piores momentos da história, quando os países da Europa central eram considerados objetos de negociatas políticas”.
Horas antes, a Presidência bielorrussa tinha indicado que estão atualmente cerca de 7.000 migrantes na Bielorrússia, mais de 2.000 dos quais na fronteira com a Polónia, adiantando que Minsk irá trabalhar para repatriar 5.000 pessoas “se assim o desejarem”.
Esta quinta-feira, um avião iraquiano transportando 431 migrantes que estavam retidos na fronteira da Bielorrússia com a Polónia partiu de Minsk e aterrou no aeroporto de Erbil, no Curdistão iraquiano, região de onde muitos deles são originários.
A porta-voz da Presidência bielorrussa, Natalia Eïsmont, anunciou também que a chanceler alemã ia negociar com a UE a criação de um “corredor humanitário” para levar os restantes 2.000 migrantes e refugiados para a Alemanha, uma solução que, segundo Minsk, foi abordada esta semana com Merkel, e que Berlim entretanto desmentiu.
“A UE vai criar um corredor humanitário para 2.000 migrantes que estão no acampamento [na fronteira da Bielorrússia com a Polónia] e iremos, na medida do possível e caso as pessoas o desejem, repatriar os outros 5.000″, afirmou a porta-voz.
Estas declarações foram feitas um dia depois de Merkel ter falado ao telefone, pela segunda vez em três dias, com o Presidente bielorrusso sobre a crise migratória em curso na fronteira oriental da UE.
De acordo com a porta-voz de Lukashenko, cerca de 2.000 migrantes estão atualmente num acampamento improvisado na fronteira com a Polónia, enquanto entre 200 e 500 outros migrantes estão espalhados ao longo da fronteira.
Uma informação que difere em muito do que disse na quarta-feira à Lusa Natalia Gebert, representante do Grupo Granica — que reúne 14 organizações não-governamentais (ONG) que trabalham na área dos direitos humanos e apoiam refugiados e migrantes na Polónia —, segundo a qual o número de migrantes acampados na fronteira bielorrussa à espera de entrar em território polaco ultrapassa as 10.000 pessoas.
O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, desmentiu esta quinta-feira, durante uma visita oficial a Varsóvia, que a Alemanha se tenha comprometido a acolher um contingente de 2.000 migrantes procedentes da Bielorrússia.
“É uma notícia falsa”, declarou Seehofer, numa conferência de imprensa com o seu homólogo polaco, acrescentando que em situações de “ameaça híbrida”, referindo-se à crise fronteiriça com a Bielorrússia, abundam as informações fraudulentas.
O ministro defendeu que é necessário fornecer ajuda humanitária às pessoas retidas na fronteira, uma vez que são “instrumento de uma pérfida estratégia”, e que prestar assistência está em consonância com “os valores europeus”, mas sempre em território bielorrusso.
“O que não faremos será deixá-los entrar, ceder à pressão e dizer que admitiremos refugiados na União Europeia”, frisou, dando a entender que isso significaria fazer o jogo do Presidente bielorrusso.
Seehofer pronunciou-se ainda sobre as duras críticas de que Merkel foi alvo por parte do Governo polaco devido às suas conversas telefónicas com Lukashenko, acusando-a de agir sem ter em conta o seu país.
“Tudo o que fazemos é coordenado, é discutido, e não fazemos política de costas voltadas aos nossos parceiros, isso é claro”, sublinhou o ministro alemão, vincando também que a Polónia age em nome da União Europeia e conta com o total apoio da Alemanha.
O ministro do Interior alemão indicou, por último, que não está nos seus planos a introdução de controlos fronteiriços fixos na fronteira entre a Polónia e a Alemanha, como pedem alguns sindicatos policiais alemães, em resposta ao fluxo migratório procedente da Bielorrússia.
Desde o início de 2021, foram intercetados na Alemanha cerca de 10.000 migrantes dessa rota migratória.
“Estamos de acordo quanto ao facto de que isso não solucionaria o problema, estamos de acordo quanto a manter fronteiras abertas”, declarou Seehofer.
O seu homólogo polaco, Mariusz Kaminski, insistiu também na unidade de atuação dos dois países vizinhos, afirmando: “O problema é grande, estamos a resolvê-lo juntos, passo a passo, e fazemos uma avaliação conjunta do que está a acontecer”.
Kaminski frisou ainda que se trata de um “problema político”, já que “o regime de Lukashenko está a tentar criar uma rota artificial para a União Europeia”.
A UE acusa Minsk de ter atraído estas pessoas, sobretudo oriundas de países do Médio Oriente, para a Bielorrússia e de as ter transportado para a fronteira com a Polónia para provocar uma crise migratória e vingar-se das sanções ocidentais impostas ao regime de Lukashenko, após as eleições fraudulentas que o reconduziram no poder, a repressão violenta de protestos populares contra o resultado do escrutínio, detenções arbitrárias de opositores e o desvio de um avião comercial para deter um jornalista bielorrusso independente.