A InfluenceMap pegou nos dados da IHS Markit para antecipar como será a evolução da indústria automóvel até ao final da década, tendo em vista a plena electrificação e o combate às alterações climáticas. Até porque, a partir de 2035, será proibido comercializar veículos equipados com motores de combustão nos diferentes estados da União Europeia, conforme proposta já aprovada pelo Parlamento Europeu. Daí que seja curioso traçar o quadro de como se posicionarão os diferentes construtores de automóveis cinco a seis anos da entrada em vigor dessa proibição.

De acordo com a InfluenceMap, o maior construtor mundial de automóveis, a Toyota, é o que está mais atrasado neste “comboio” para a mobilidade eléctrica. Estima-se que, em 2029, só 14% da produção global do fabricante japonês diga respeito a modelos 100% eléctricos. A Honda destaca-se, pela negativa, imediatamente a seguir, com as previsões a apontarem para 18% de veículos eléctricos no final da década. A completar o pódio dos três últimos lugares surge a Nissan, com uma estimativa de apenas 22% de viaturas zero emissões na sua produção em 2029, sendo de recordar que o Leaf chegou a ser o eléctrico mais vendido no mundo – quando era praticamente o único…

Esta análise permite retirar três conclusões. A primeira é que, ao que tudo indica, os construtores japoneses são os que estão mais mal posicionados para responder ao desafio da mobilidade exclusivamente eléctrica. Mazda e Suzuki são duas marcas também nipónicas que nem sequer surgem mencionadas neste estudo, mas a realidade é que a respectiva situação não será muito diferente dos outros fabricantes japoneses, pois a Mazda chegou tarde aos PHEV (o SUV CX-60 é o primeiro e chega apenas Setembro) e tem no MX-30 o seu único modelo eléctrico, para mais partindo de uma plataforma não dedicada e com uma autonomia acanhada (200 km). A Honda também possui apenas um eléctrico na sua gama, o “e”, cujo alcance entre recargas é igualmente pouco apelativo, face à concorrência. Por sua vez, a Suzuki enferma das mesmas opções da Toyota, com quem mantém uma parceria para aceder à tecnologia híbrida. Já a gigante Toyota só agora começa a dar os primeiros passos nos eléctricos a bateria, com os SUV bZ4X e Lexus UX300e e RZ 450e, o que deixa o grupo liderado por Akio Toyoda muito atrás da concorrência, neste domínio.

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A segunda conclusão é que a aposta nos híbridos não favorece a necessária agilidade na transição para os veículos exclusivamente eléctricos. Prova disso é que basta olhar para a oferta actual da Honda e da Toyota para ser evidente que o seu portefólio de modelos se concentra em força nas mecânicas parcialmente electrificadas. Aliás, à parte do citadino “e”, a Honda só disponibiliza motorizações híbridas.

A terceira e última leitura possível para o quadro traçado pela InfluenceMap é que o Japão é favorável a alternativas que não passem maioritariamente pelo recurso a baterias, preferindo o hidrogénio, seja para “queimar” em motores térmicos, seja para alimentar células de combustível e produzir a bordo a electricidade. Esta “inclinação” não deverá ser alheia ao facto de o CEO da Toyota ser, igualmente, o presidente da Associação de Construtores de Automóveis do Japão. Ora, a Toyota e a Hyundai são praticamente as únicas que continuam a apostar no desenvolvimento de fuel cells e a primeira tem em marcha um projecto, juntamente com a Mazda e a Subaru, para validar na competição automóvel o interesse em manter a combustão com a queima de hidrogénio, esgrimindo como trunfo a neutralidade carbónica desta opção. Porém, esse argumento só é válido para atenuar o impacto no efeito de estufa, o mesmo não acontecendo com a emissão de outros gases nocivos.

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Sem surpresas, a Tesla é o construtor que aparece mais bem posicionado nas previsões da InfluenceMap, ou não fosse a marca liderada por Elon Musk exclusivamente eléctrica de “raiz”. Isso permite-lhe, mesmo num horizonte de sete anos, manter uma distância considerável face à concorrência. A Mercedes será a que mais se aproxima, com 56% da produção a corresponder a veículos puramente eléctricos em 2029, com 11% de vantagem face à sua eterna rival BMW. Ainda assim, separada por 44% da Tesla nas projecções da InfluenceMap. O Grupo Volkswagen surge na 4.ª posição, com 43%, e a Stellantis fecha o top 5 (40%). Ford, Renault, General Motors e Hyundai ocupam, por esta ordem, os restantes lugares do ranking da InfluenceMap, que pode ver na galeria.