Portugal e os restantes Estados membros da União Europeia são nos dias que antecedem as eleições europeias — que em vários países já decorrem — alvos concretos para um consórcio de autodenominados “hacktivistas” pró-russos que dizem ter a intenção de atacar infraestruturas no ciberespaço europeu para criar disrupção antes e durante as eleições de 9 de junho.

“Todos os partidos e estruturas de setores vitais de países que vão a votos nas Eleições Europeias são alvos. Portugal será um alvo, mesmo que existam outros alvos prioritários, como a Alemanha ou a República Checa”, afirma ao Observador Diogo Alexandre Carapinha, sub-coordenador do Visionware Threat Intelligence Center. Segundo o mesmo especialista, estes grupos são muito conhecidos no ciberespaço e têm um “poder de ataque assinalável”.

Através do Telegram, o consórcio, que inclui os grupos de hackers “NoName057”, “People’s CyberArmy” e  “HackNet”, assume o objetivo de interferir na votação para a União Europeia, que classifica de “órgão pseudo-democrático e completamente russofóbico”.

“Por causa da russofobia e da duplicidade de critérios das autoridades europeias, a infraestrutura da Internet da Europa vai ser afetada pelos hackers russos”, anuncia o grupo anónimo.

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A promessa foi feita e os ataques já começaram. O grupo europeu ECPM, que representa o movimento político cristão europeu, foi atacado na sequência desta campanha há vários dias. Esta quinta-feira, segundo informa o POLITICO, a meio do dia das eleições europeias nos Países Baixos, vários partidos políticos comunicaram ataques informáticos e, mais tarde, um grupo russo reivindicou a sua autoria.

“Os Países Baixos são o primeiro país a votar para um novo Parlamento Europeu. Por isso, vão ser os primeiros a sofrer ataques ”, escreveu o grupo “HackNet”, num post, em russo, no Telegram.

[Já saiu o quarto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio]

Vários partidos holandeses, entre eles o CDA, um partido político democrata-cristão conservador, comunicaram problemas nos respetivos sites, com falhas que os deixaram indisponíveis durante períodos variados durante a manhã desta quinta-feira. No X, o partido condena o “ataque a eleições livres e democráticas”, informando que comunicou o facto às autoridades competentes, anunciando que o seu site já se encontra novamente disponível.

Já o líder do Forum voor Democratie (FvD), partido de extrema-direita holandesa, Thierry Baudet, afirmou que a sua equipa “está a fazer horas extraordinárias” para combater um “ataque Matrix”.

Grupos são movidos por “ideologias pró-Kremlin, anti-NATO e anti-UE”

Diogo Alexandre Carapinha recorda que a possibilidade de ciberataques por parte de grupos pró-russos é permanente, mas admite um “maior foco e intensidade de perigo no ciberespaço pelo facto de existirem eleições em que a Europa define o seu futuro para os próximos quatro anos”.

Para o especialista em cibersegurança, tanto é possível que venham a ser corrompidos servidores públicos como privados nos próximos dias. “Estes estados — a China e a Rússia — utilizam proxys de grupos ativistas, bem como grupos a nível interno, para ciber atacar estes sites e servidores estrangeiros”, assinala, acrescentando que os ‘hacktivistas’ são “movidos por ideologias pró-Kremlin, anti-NATO e anti-UE“. Já a China utiliza, tendencialmente, as armas do próprio Estado para efetivar os ataques no ciberespaço.

Diogo Carapinha entende que o objetivo principal dos ataques que surgiram (e que se deverão multiplicar) pretendem criar “disrupção nas sociedades europeias” e alimentar a “guerra cibernética que está permanentemente em vigor”.

Além dos tradicionais ciberataques, que roubam dados e afetam a funcionalidade de sites, redes sociais e outros meios online, os grupos de hackers atuam numa “guerra cognitiva” que promove “campanhas de influência e desinformação”, através da disseminação de fake news e teorias da conspiração em larga escala.