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IL e AD estão numa relação, mas é difícil: Luís Montenegro fez ghosting a Rui Rocha

Rocha e Montenegro nunca esconderam que pode vir aí um casamento por conveniência, mas na campanha mostram estados anímicos diferentes: IL quer assinar papéis, AD vai fazendo de conta que não conhece.

O noivado entre a Iniciativa Liberal e a Aliança Democrática já foi assumido pelas duas partes, mas a preparação e organização da cerimónia, que esperam que possa realizar-se a 11 de março, está a ser uma grande fonte de stress. Rui Rocha quer muito consumar o enlace, mas tem embatido contra um muro de gelo chamado Luís Montenegro. Não que o líder social-democrata hostilize abertamente Rui Rocha. Até ver, aliás, Montenegro ainda não fez diretamente um apelo ao voto útil daqueles que, à direita, possam estar inclinados a votar nos liberais – tem centrado as suas atenções nos potenciais eleitores do Chega e nos desiludidos com o PS.

Mas, das vezes em que Rocha tentou provocar uma reação em Montenegro, o líder social-democrata tem deixado o seu potencial parceiro sem resposta. Simplesmente não responde. Mais: à medida que a campanha vai avançando, as figuras que se vão juntando à corrida da AD vão começando a beliscar a Iniciativa Liberal. Todos os votos contam e, olhando para os sinais que vão sendo dados por quem se vai juntando à campanha da coligação à direita (coligação que a IL não quis integrar antes das eleições), o apelo ao voto útil tornar-se-á ainda mais evidente.

Luís Montenegro tem ignorado as tentativas do presidente da Iniciativa Liberal para manterem um diálogo em público

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Assumir uma aliança nesta fase prematura da corrida não seria fácil para nenhuma das partes. Para começar, ninguém está em condições de garantir se haverá mesmo casamento. Depende, em primeiro lugar, do equilíbrio de forças que resultar das eleições legislativas. No PSD, toda a gente vai torcendo para que AD e IL consigam um resultado suficientemente forte para, juntos, estarem em condições de formar uma maioria parlamentar e tornar o Chega absolutamente irrelevante. Mas a prioridade da AD é vencer as eleições e ficar em primeiro lugar – e os votos que fujam para os liberais podem fazer a diferença.

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[Já saiu o primeiro episódio de “Operação Papagaio”, o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir também o trailer aqui.]

Além disso, é preciso não esquecer que existe um parceiro júnior chamado CDS, um partido que luta pela sobrevivência e que precisa de recuperar o seu espaço à direita – espaço esse que (também) foi ocupado pelos liberais; um romance público com a Iniciativa Liberal num momento em que o PSD ainda vai andando de mão dada com o CDS tornaria a posição de Nuno Melo muito difícil.

O ex-vice-presidente do CDS não fez qualquer referência aos liberais, mas o apelo ao voto útil foi evidente: “Se a AD não ganhar, se a AD não ficar em primeiro lugar, o que nos espera são mais quatro anos de socialismo”. O facto de Adolfo Mesquita Nunes, que nas últimas eleições disse que votava na IL porque tinham ocupado o “espaço do reformismo sensato”, ter falado em “experimentalismos” e “liberdade” na mesma frase não terá sido inocente.

Ao contrário do que acontece à esquerda, onde se está a tornar quase irrelevante a proporção de forças entre PS, CDU, BE e Livre — desde que juntos alcancem maioria, e onde os quatro partidos têm assumido uma comunicação que quase parece combinada entre todos — à direita e no centro-direita, a AD e a Iniciativa Liberal não podem dar-se ao luxo de viver em quase lua-de-mel antecipada. Pelo contrário: Luís Montenegro porque só fica se vencer as eleições; a Iniciativa Liberal porque precisa de ter força para conseguir ser relevante e assim subir ao poder. A este drama conjugal acresce o regime do casamento: será por separação de bens (no caso, os eleitores) e a necessidade de fazer as partilhas antecipadas obriga a uma competição permanente entre AD e IL (mais dos segundos do que dos primeiros) para arregimentar indecisos.

Os argumentos de Adolfo Mesquita Nunes para trocar a IL pela AD

Não que Montenegro assista de braços cruzados à campanha da IL. Este domingo, o líder social-democrata deixou à solta Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado, antigo vice-presidente do CDS e uma das vozes mais respeitadas do espaço liberal – nas últimas eleições legislativas, de resto, já desfiliado do CDS, anunciou o apoio a João Cotrim Figueiredo.

O democrata-cristão não fez qualquer referência aos liberais, mas o apelo ao voto útil foi evidente: “A AD é a casa do eleitorado moderado, sensato, reformista, que teme experimentalismos, que quer liberdade e segurança, que durante décadas pagou os seus impostos e que agora não vê o retorno devido, que procura um governo que resolva, que aja, mas que o faça com responsabilidade, com sustentabilidade, com garantias. É preciso que se diga: se a AD não ganhar, se a AD não ficar em primeiro lugar, o que nos espera são mais quatro anos de socialismo”. O facto de Adolfo Mesquita Nunes, que nas últimas eleições disse que votava na IL porque tinham ocupado o “espaço do reformismo sensato”, ter falado em “experimentalismos” e “liberdade” na mesma frase não terá sido inocente. E não será exagerado reconhecer que tem um peso relevante junto de quem pode estar indeciso entre a AD e a IL.

Adolfo Mesquita Nunes deixou de apoiar a Iniciativa Liberal e esteve este domingo com a AD

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

De resto, o antigo vice de Assunção Cristas diria mais: nestas eleições, não há espaço para segundas voltas; ou ganha a AD ou ganha o PS e a direita continua arredada do poder. “A todos os que acham que a AD pode ficar em segundo lugar, e depois logo se vê, quero deixar uma mensagem muito clara: se a AD não ganhar, se a AD não ficar em primeiro lugar, o que nos espera é mais socialismo, é mais Estado, é mais centralismo, é mais burocracia. De que nos serve sonhar com mais liberdade, com menos impostos, com mais competitividade, se o nosso voto contribuir para a AD ficar em segundo lugar e o PS voltar a governar? Para termos mais liberdade, mais liberdade económica, a AD tem de ganhar, tem de ficar em primeiro lugar. A todos os que acham que é preciso dar espaço a novas formações políticas porque a alternância não pode ser entre os do costume quero deixar uma mensagem muito clara: para tirarmos de lá os do costume e os do regime, a AD tem de ganhar, tem de ficar em primeiro lugar.”

A perda para a IL, com falta de notáveis: “As pessoas fazem as suas opções”

Na Iniciativa Liberal, houve uma tentativa de desvalorização desta tomada de posição de Adolfo Mesquita Nunes. “Vejo com normalidade”, declarou Rui Rocha. “As pessoas fazem as suas opções. Temos tido muitas pessoas que votaram na AD ou PSD noutras eleições a declararem-nos o seu apoio, porque querem mesmo uma transformação e acreditam que só com a Iniciativa Liberal essa transformação vai acontecer”.

Não houve demonstração de choque nem de surpresa entre os dirigentes da IL, mas é inegável que é uma perda que o partido dispensava, mais ainda no dia em que surge atrás de Bloco e PCP na sondagem do JN/TSF, e crescem as dúvidas sobre o impacto do voto útil no resultado do partido no próximo domingo.

Mais: não há assim tantos notáveis que tenham apoiado os partidos da AD em eleições anteriores e agora estejam a assumir um voto na Iniciativa Liberal, em contraste com a dinâmica seguida por Luís Montenegro, de juntar pesos-pesados diariamente à sua campanha.

A IL vista pela AD: algumas boas ideias mas falta preocupação social

Luís Montenegro tem evitado bater no adversário-aliado e têm sido poucas as referências do líder social-democrata a Rui Rocha. Mas também o tem ignorado. Em Leiria, confrontado com o repto deixado pelo liberal sobre uma eventual aliança entre AD e IL no pós-eleições, Montenegro nem sequer respondeu.

E se Rocha usa Cavaco Silva para pedir mais ambição ao social-democrata, ou se critica a AD por alimentar polémicas em torno do aborto ou do mundo rural, o assunto nem sequer é tema na bolha por onde se vai movendo Montenegro por estes dias – ajuda não haver grande margem para perguntas da comunicação social.

O Presidente da JSD, Alexandre Poço, discursa durante a sessão de encerramento do 27.º Congresso Nacional da JSD, em Almada, 10 de abril de 2022.  RODRIGO ANTUNES/LUSA

Alexandre Poço, líder da JSD, fez um apelo aos jovens indecisos entre a AD e a Iniciativa Liberal para que votem de forma "inteligente"

RODRIGO ANTUNES/LUSA

Nos discursos, o mais longe que Montenegro tem ido na demarcação face ao projeto da IL é quando defende que, para a Aliança Democrática, a redução de impostos não é um fim em si mesmo; reduzir os impostos sobre quem trabalha, vai insistindo Montenegro, é o que permitirá aumentar rendimentos e valorizar, precisamente, o trabalho. “Não aceito uma sociedade em que quem trabalha tenha um rendimento inferior a quem não trabalha”, vai repetindo o líder social-democrata. O mesmo vale para as empresas: ao longo das suas intervenções, Montenegro faz sempre questão de defender que a redução do IRC proposta pela coligação, mais do que um meio para produzir crescimento económico, um conceito abstrato, é uma ferramenta para que as empresas possam aumentar salários de quem trabalha.

Sem o dizer abertamente, Montenegro vai tentando refletir o que se pensa na AD: algumas das ideias da IL serão acomodáveis, mas falta aos liberais a preocupação social que PSD e CDS querem assumir como peça central da narrativa política destas eleições. Em Famalicão, num comício pensado para os mais jovens, Alexandre Poço, líder da JSD, foi o primeiro e o único interveniente desta campanha a beliscar diretamente e em nome da coligação o partido de Rui Rocha. Falando para os jovens que ponderam votar nos liberais, Poço tentou explicar que “muitas das boas ideias que até atraem os jovens para a Iniciativa Liberal” só verão “a luz do dia” se “a Aliança Democrática ganhar”. “Não é voto útil. É o voto inteligente”, sublinhou o social-democrata. Desde então, não mais o nome da IL foi mencionado.

A AD vista pela IL: das duas velocidades à pressão ilegítima (mais uma “pequena picardia”)

Este domingo, o próprio Rui Rocha respondeu a Alexandre Poço, considerando que “essa pressão é absolutamente ilegítima” e “não é aceitável”. Por um lado porque “os eleitores devem escolher o país que querem”, frisa o líder dos liberais. Por outro lado, ataca o PSD por se opor à criação de um círculo de compensação, que permitiria evitar o “desperdício de 700 mil votos a nível nacional”, sobretudo nos distritos com menos deputados, em que apenas um ou dois partidos elegem representantes.

Mas diz que “não se trata de nenhuma guerra” entre a AD e a IL nesta última semana de campanha, e que vai limitar-se a apresentar as suas propostas para “evidenciar as diferenças”. (No comício de sábado no Porto, já tinha sido o ex-líder Carlos Guimarães Pinto a atacar o voto útil: “Esta urgência de afastar socialistas do poder não deve afastar-nos das nossas convições. A conversa do chamado voto útil é um desrespeito perante a democracia”.)

Quinta-feira à tarde, na cidade universitária, Rui Rocha encontrou muitos jovens adeptos do Sporting, horas antes do derby ali ao lado, em Alvalade. Vários perguntaram-lhe se era do Sporting, e o líder da IL admitiu que sim, criticando outros líderes que dizem que são da Seleção Nacional — uma indireta a Luís Montenegro, que deu essa resposta num vídeo de campanha, em vez de assumir que é adepto do FC Porto. Rui Rocha deixou claro que não era uma crítica a uma eventual falta de coragem de Luís Montenegro, apenas uma constatação — e uma “pequena picardia”

Nas ações de rua, Rui Rocha tem encontrado cada vez mais jovens que admitem essa indecisão entre o voto na AD e na Iniciativa Liberal. Aconteceu na arruada entre o Campo Pequeno e o Marquês de Pombal, em Lisboa; novamente na Cidade Universitária; e outra vez na Bolsa de Turismo de Lisboa. Num dos casos ainda tentou convencer o indeciso mostrando uma simulação num tablet, de quanto pouparia no IRS com as propostas da IL face às do PS e da AD. Nos outros agradeceu a semi-confiança de estarem indecisos e seguiu caminho.

Já se percebeu que na rua o líder da IL não aprecia uma campanha intrusiva que passe por convencer eleitores individualmente a tomarem o seu partido. Mas nas declarações aos jornalistas tem de tentar coisas, para não ficar com os bancos muito desfalcados do lado da igreja que vai à cerimónia a convite dos liberais.

Nos primeiros dias de campanha, Rui Rocha começou por ser cauteloso, ao recusar sempre linhas vermelhas para não se atravessar com demasiadas exigências. Até defendeu Montenegro várias vezes. Como quando disse que o lider do PSD “foi claro, a partir de certa altura” sobre o “não é não” ao Chega, pelo que se recusou a fazer cenários com base em qualquer pressuposto de que Montenegro vá fazer uma coisa diferente — o que mostra um princípio de confiança e lealdade institucional, bases essenciais para se transformar num parceiro responsável. Diferenças só pela positiva: “A IL tem muito mais ambição. Acreditamos que é possível mobilizar o PSD para essa ambição.”

Ao longo da campanha na estrada, Rui Rocha tem feito sempre um esforço para se equilibrar entre atacar mais o PS do que o PSD, mas deixando claro que só o PSD não chega. O exemplo claro é a ação no Hospital Central do Algarve, adiado há 23 anos. Culpa maior do PS, que esteve mais tempo no poder, mas culpa também do PSD, por não ter conseguido avançar nos anos em que esteve no poder.

Quando estalou a polémica sobre Passos Coelho e a imigração, Rui Rocha atacou as políticas do PS e até admitiu que votou no ex-primeiro-ministro em 2011 e 2015 (admitiria mais tarde também que votou em Cavaco Silva para Presidente).

O presidente do partido Iniciativa Liberal (IL) Rui Rocha (C) discursa durante um comício no Hard Club no Porto, 2 de março de 2024. O Presidente da República decretou a 15 de janeiro a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas para 10 de março, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, apresentada em 07 de novembro, por causa da Operação Influencer, e de imediato aceite pelo Presidente da República. JOSÉ COELHO/LUSA

No comício do Porto, este sábado, Rui Rocha voltou a desafiar Luís Montenegro — que continuou a ignorá-lo

JOSÉ COELHO/LUSA

Sobre a polémica do aborto introduzida por Paulo Núncio na campanha, Rui Rocha começou na quarta-feira por mostrar a certeza de Luís Montenegro nunca viabilizaria novo referendo, mas na sexta, apenas dois dias mais tarde, voltou ao tema para desferir afinal um violento ataque à AD: “Este é o partido que não aceita retrocessos, mulheres perseguidas e mulheres na clandestinidade. Diferenciamo-nos nisso e em muitas outras coisas”. Até parecia que ia continuar de forma mais agressiva, mas depois mudou de alvos.

Foi uma primeira amostra de alguma radicalização inconstante. Outro exemplo: na quinta, quando saiu a sondagem que dava a AD com seis pontos de avanço e a IL sem crescer, Rui Rocha pediu uma maioria clara para os dois partidos, em comparação com os partidos da esquerda somados. No sábado de manhã, em Braga, dois dias depois, lançou o tal desafio direto a Montenegro, para baixar cem euros por mês no IRS a quem ganha o salário médio de 1500 euros brutos por mês. Voltou a fazer este desafio no comício da tarde, no Porto, tendo de reconhecer que ainda não tinha tido qualquer resposta do líder da AD.

Quinta-feira à tarde, na cidade universitária, Rui Rocha encontrou muitos jovens adeptos do Sporting, horas antes do derby ali ao lado, em Alvalade. Vários perguntaram-lhe se era do Sporting, e o líder da IL admitiu que sim, criticando outros líderes que dizem que são da Seleção Nacional — uma indireta a Luís Montenegro, que deu essa resposta num vídeo de campanha, em vez de assumir que é adepto do FC Porto. Rui Rocha deixou claro que não era uma crítica a uma eventual falta de coragem de Luís Montenegro, apenas uma constatação — e uma “pequena picardia”.

E antes que fosse o início de qualquer escalada, recentrou a conversa: “O país já teve unanimismos. Estamos a sair de uma maioria absoluta e sabemos em que é que resultou. As diferenças de opinião são uma coisa boa em democracia. Termos velocidades diferentes para o país não quer dizer que não sejam compatíveis. Nós queremos mais transformação, mais velocidade, mais intensidade. O PSD quer uma mudança mais modesta. Há-de haver uma maneira de nos encontrarmos”.

A estratégia de dar a entender que Luís Montenegro tem defeitos que Rui Rocha ainda vai tentar mudar durante o eventual casamento entre IL e AD também soa a algo de clássico das relações amorosas. Não dá para destruir, sob pena de a Iniciativa Liberal ficar viúva sem ter direito a nada da herança, mas já dá para moer e tentar defender uma base eleitoral.

O dote tem sido composto e anunciado nas últimas semanas. Primeiro no frente a frente na televisão, em que Rui Rocha mostrou o menu com dez pratos que propõe que façam parte da festa. Luís Montenegro sublinhou logo aí o facto de não constar a privatização da Caixa Geral de Depósitos, uma das principais bandeiras da Iniciativa Liberal, no que pode ter sido uma cedência — como as que têm de ser feitas entre todos os casais para manterem as relações a funcionar — mas também deixa claro que a posição de maior força é obviamente a da AD.

A história de uma coligação que não aconteceu (outra vez). E o implacável Hugo Soares

A verdade é que Luís Montenegro e Rui Rocha mantêm boas relações. Conhecem-se há muitos anos e respeitam-se mutuamente – quando era ainda conhecido como Nuno Garcia da Rocha, o liberal trabalhou em Espinho, no mesmo escritório de advogados de Joaquim Pinto Moreira, um dos amigos mais antigos de Montenegro. Parece ter sido noutra vida, mas, em maio de 2023, um dia depois de António Costa ter forçado a manutenção de João Galamba contra a vontade expressa de Marcelo Rebelo de Sousa, os dois foram almoçar e deixaram-se fotografar para passar a mensagem de que havia uma alternativa à direita pronta para governar.

Desde aí, no entanto, muita coisa mudou. Depois da queda de António Costa, a 7 de novembro, houve ainda expectativa de que os dois partidos se pudessem juntar numa coligação pré-eleitoral, mas a Iniciativa Liberal cortou a eito qualquer pretensão nesse sentido. Os liberais entenderam sempre que uma aliança antes das legislativas seria contraproducente, frustraria as expectativas dos militantes do partido e deixaria ao Chega e a André Ventura o monopólio da alternativa à direita, como explicava aqui o Observador.

Inicialmente, a reação do PSD foi dura. No congresso do partido, a 25 de novembro, na ressaca do chumbo do orçamento nos Açores, para o qual a IL contribuiu decisivamente, foram várias as figuras do partido a lamentar a recusa dos liberais e a lembrarem o exemplo de Lisboa: ao ter decidido ficar fora da Aliança Democrática liderada por Carlos Moedas, a IL quase frustrava as hipóteses de derrotar Fernando Medina e acabou por ser penalizada nas urnas, não conseguindo eleger qualquer vereador. Nesse congresso, Paulo Rangel lamentou a falta de cooperação da IL, Miguel Pinto Luz falou em “arrogância e sobranceria”, e António Leitão Amaro condenou as prioridades trocadas dos liberais.

“Se dependesse de mim eu queria ter os deputados todos e portanto ele [Rui Rocha] não seria eleito. Porque eu não quero desperdiçar um voto, não quero correr o risco de que o PS possa continuar a governar”
Hugo Soares, cabeça de lista da AD em Braga, onde concorre diretamente contra Rui Rocha

No frente a frente entre Montenegro e Rocha, o social-democrata não deixou de recordar o currículo dos liberais nessa matéria. “A IL não faz parte da AD por vontade própria, que é respeitável. Foi uma decisão que não foi nova, já tomou a mesma decisão nas eleições autárquicas na candidatura a Lisboa. Não inviabilizou a vitória, mas foi um bocadinho mais apertada do que podia ter sido. E tomou a iniciativa, juntamente com todos os demais partidos, inclusivamente PS, Chega, BE e PAN, de inviabilizarem o prosseguimento da ação governativa dos Açores, o que desembocou numa eleição antecipada que culminou com uma vitória histórica da AD. As consequências sobre essas atitudes naturalmente responsabilizam os dirigentes da IL”, sugeriu o social-democrata.

“Voto útil, voto útil. Creio que os portugueses já perceberam que a proposta do PSD não é suficiente para a transformação necessária do país. Portanto, há um voto estratégico, de mudança e o voto que muda mesmo o país é o voto na IL”, devolveu Rui Rocha, antes mesmo de entregar um documento com dez desafios ao PSD, que o social-democrata recolheu sem fazer grande caso. Todavia, até esse ajuste de contas desapareceu da agenda de Luís Montenegro. Sentindo que estão na frente, os sociais-democratas sabem que precisam que a Iniciativa Liberal cresça para que tenham alguma margem de governabilidade. Mas também não serão eles a dar combustível à máquina liberal.

Hugo Soares, cabeça-de-lista do PSD por Braga — onde concorre diretamente com Rui Rocha — deixou isso bem claro ao Observador este sábado de manhã, no mercado de Braga, onde AD e IL estiveram em campanha. Um dos temas em Braga é se há o risco de Rui Rocha não ser reeleito, uma vez que a Iniciativa Liberal apenas conseguiiu um deputado neste distrito, ou se, pelo contrário, até há hipótese de eleger a número 2, Olga Baptista.

“Se dependesse de mim eu queria ter os deputados todos e portanto ele não seria eleito. Porque eu não quero desperdiçar um voto, não quero correr o risco de que o PS possa continuar a governar”, afirmou Hugo Soares, implacável. Mas nada que prejudique o enlace anunciado. “O combate eleitoral e a diferença de ideias e de programas fazem parte das campanhas. Não significa que depois não se possam fazer entendimentos.”

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