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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Ketamina: o anestésico psicadélico que combate a depressão

Mais de 30% das depressões são resistentes a tratamentos tradicionais. Em Portugal, alguns hospitais públicos e clínicas privadas oferecem um protocolo experimental que pode ajudar estes doentes.

Ana entra no gabinete médico em passo hesitante, a mala apertada contra o corpo. Este nome, que não é o seu, escolheu-o ela para ser identificada. Depois dos cumprimentos polidos, a primeira coisa que diz é “não”. Não quer tirar fotografias nem usar o próprio nome. Pensou sobre o assunto e chegou à conclusão que ia ter de lidar com demasiadas perguntas de demasiada gente. “Francamente, não me apetece.” E, ouvindo depois a sua história, percebe-se porquê: sente que passou a vida a criar e a inventar problemas para si própria e viu-se livre disso recentemente. Não quer retomar um padrão antigo e criar um problema novo onde, por agora, não existe nenhum.

“Não estarei a exagerar muito se disser que toda a vida vivi com uma depressão”, começa. “Toda a vida” nunca é coisa pouca de se dizer, mas é-o menos ainda quando, como Ana, se tem 77 anos. Pelos 20 e poucos, passou um longo período a sentir-se doente. Diz que, se fosse mais velha, talvez tivesse percebido que esta “mania de inventar doenças” era, na verdade, sintomática de ansiedade e de depressão. Como era jovem, passou um ano inteiro a fazer muitos exames com resultados normais até ouvir o médico dizer-lhe: “Vá a um psiquiatra, está deprimida.”

Iniciou um processo de psicoterapia de onde saiu, depois de centenas de sessões e vários anos, a sentir-se bem. Mas, mais anos volvidos, voltou ao mesmo. Pelos 30 começou a tomar os vários antidepressivos que não mais deixou, apesar de nunca se ter sentido livre da doença. Nos últimos três anos, apesar da medicação, piorou muito: a dita “mania das doenças” persistia, agora acompanhada de um terror com a velhice e a morte. Garante que não comia praticamente nada, tinha dificuldade em levantar-se da cama de manhã, não tinha vontade de estar com ninguém. Ser ela própria era muito difícil. Viver também.

Neuroplasticidade. “O cérebro tem capacidade de criar novos neurónios ou novas ligações entre neurónios”, diz o psiquiatra Pedro Castro Rodrigues. Esse efeito tem uma duração entre 24 horas a 7 dias

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

Há cerca de três meses veio bater a outra porta: à do psiquiatra Pedro Castro Rodrigues e da psicoterapeuta Ana Cruz, na Clínica Hugo Madeira, onde fez um tratamento de Psicoterapia Assistida com Ketamina. A substância, embora esteja aprovada como anestésico, sendo usada nas chamadas anestesias gerais, tem, em doses mais baixas, um efeito antidepressivo e também psicadélico, ou seja, induz um estado alterado de consciência, a que vulgarmente se chama trip (“viagem”). E tem sido usada, com sucesso, para tratar depressões que, como a de Ana, não cedem aos tratamentos mais convencionais, estando já a ser utilizada em três serviços de saúde públicos e várias clínicas privadas em Portugal, entre elas a Clínica Hugo Madeira.

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Nas três sessões com ketamina que Ana fez, viajou para muitos sítios: entrou num comboio que parecia o Expresso do Oriente, dançou, voltou de forma vívida a memórias de infância, sentiu uma ligação com o divino, viu imagens de arte abstrata, teve experiências afetivas e sexuais, viveu um parto e, simultaneamente, foi receber o bebé. Houve uma sessão em que também morreu, mas só a fingir: entrava num túmulo, só para enterrar uma pele velha, porque ela, na realidade, continuava a viver. “Foi fantástico.”

Agora, sentada na mesma sala onde fez estas viagens, cerca de um mês e meio depois do fim do tratamento, resume assim a forma como se encontra: “Sinto-me lindamente.” São duas palavras que não usava juntas há muitas décadas.

Preparação, administração, integração

Sentado a alguma distância, o psiquiatra Pedro Castro Rodrigues ouve-a com atenção. Foi ele que supervisionou o tratamento. Além das consultas aqui, na clínica Hugo Madeira, trabalha também no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, onde coordena a Unidade de Depressão Resistente. Nos últimos meses tem usado a Psicoterapia Assistida por Ketamina nas duas unidades, com pessoas que, como Ana, têm depressões resistentes.

O processo começa sempre por uma consulta de avaliação, em que estão presentes o psiquiatra e a psicoterapeuta Ana Cruz. É uma sessão onde conhecem o doente e a sua história e avaliam se reúne critérios para o tratamento, já que alguns problemas físicos e mentais são fatores de exclusão. “São de evitar pacientes com doenças cardiovasculares graves, como enfarte do miocárdio recente ou aneurisma diagnosticado, e, do ponto de vista psiquiátrico, excluímos pessoas com história de psicose, diagnóstico de esquizofrenia, demências e perturbações da personalidade graves, como doença borderline, entre outras”, explica Pedro Castro Rodrigues.

Nos últimos três anos, apesar da medicação, a depressão de Ana piorou muito: a “mania das doenças” persistia, agora acompanhada de um terror com a velhice e a morte. Não comia praticamente nada, tinha dificuldade em levantar-se de manhã, não tinha vontade de estar com ninguém. Ser ela própria era muito difícil. Viver também. 

Depois, o paciente passa para as mãos da psicóloga clínica Ana Cruz, que faz duas consultas de preparação para a experiência. São sessões que servem para ambientar a pessoa relativamente ao que se vai passar, reduzir a ansiedade e estabelecer uma relação de confiança. “É necessário fazer algo a que chamamos ‘trust, let go and be open’ (‘confiar, deixar ir e ser aberto’), porque a pessoa precisa de estar disponível e ter uma atitude de curiosidade perante a experiência que possa ocorrer, seja ela agradável ou menos agradável.”

Em termos práticos: se durante a experiência surgir uma porta fechada, a ideia é ir abri-la; se houver um buraco escuro que parece assustador, o ideal é ir lá espreitá-lo. Fugir do que assusta, por norma, é aquilo que a pessoa tem feito toda a vida e, a certa altura, isso passa a fazer parte do mecanismo de manutenção da doença: ninguém consegue resolver os seus problemas durante muito tempo fugindo deles. Uma das ideias do tratamento com ketamina é precisamente explorar o que é difícil num ambiente seguro.

Feita esta preparação, nas sessões semanais de dosagem, que, na clínica Hugo Madeira, podem ser entre três e sete e duram cerca de duas horas e meia, o psiquiatra administra a ketamina através de uma injeção intramuscular – como uma vacina – e fica presente junto ao paciente, que está deitado, tipicamente com uma venda dos olhos, a ouvir música. O papel do médico é fazer uma supervisão clínica, mas também acompanhar – interferindo o menos possível –, dar segurança e oferecer apoio e tranquilização, enquanto o paciente faz a sua viagem.

No fim, faz uma primeira conversa que começa a ajudar o doente a integrar o que viveu e, no dia seguinte, há uma sessão de psicoterapia com Ana Cruz, que prossegue o trabalho de integração. “Habitualmente a sessão começa sempre pela recordação dos conteúdos da experiência e, depois, dependendo de quão fácil é a tradução da experiência para a sua vida, posso sugerir uma ou outra técnica que ajude a encontrar um significado ou a fazer uma resolução da situação”, diz a psicóloga.

A experiência do tratamento com ketamina muda de pessoa para pessoa e de viagem para viagem mas também depende do ambiente da sessão – que deve ser o mais tranquilo possível

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Para mim foi muito importante esse trabalho de refletir depois das viagens”, diz Ana. “Por um lado, as conversas com o Dr. Pedro, no fim da sessão, depois ir para casa e fazer a minhas próprias elaborações e, por fim, a sessão de integração no dia seguinte. É essencial este trabalho de nos pormos a jeito para aparecerem os significados.”

Pode haver vivências durante as sessões com ketamina que são mais óbvias: há pessoas que têm oportunidade de voltar a um momento traumático e revivê-lo de forma segura. Outras têm uma conversa com um familiar que morreu de quem não tiveram oportunidade de se despedir, sentindo-se assim mais pacificadas. Mas também há significados que se constroem a partir de subtilezas. Ana exemplifica: “A minha primeira sessão foi dominada por imagens e movimentos em linha reta e, a última, completamente dominada por curvas. Depois, acordada, pensei: ‘o que é que isto quererá dizer?’”

Foi então, conta, que se lembrou do Poema da Curva, do arquiteto brasileiro Óscar Niemeyer. Foi procurá-lo.
“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”
Ana sorri e conclui , em jeito modesto, mas orgulhoso: “Acho que fiz uma evolução: fui da inflexibilidade para a liberdade.”

Uma substância, três efeitos

A investigação sobre a ketamina mostra que a substância parece ter três mecanismos de ação neste contexto. O mais imediato é o efeito farmacológico de redução dos sintomas depressivos, que ocorre quase de imediato após a administração – e que é particularmente importante em casos de risco de suicídio, já que os antidepressivos tradicionais demoram, no mínimo, quatro a seis semanas a surtir efeito.

O segundo é este estado modificado de consciência – a viagem –, que dura cerca de uma hora, e que, depois de integrado, pode ter um potencial transformador. Esta “sensação” psicadélica, explica Pedro Castro Rodrigues, “é uma alteração temporária, mas profunda, da percepção, das emoções e do pensamento que, frequentemente, tem um efeito a que chamamos dissolução do ego”. É um estado em que a nossa consciência deixa de ser marcada pelo nosso próprio monólogo interno e faz com que as fronteiras entre o “eu” e o resto do mundo se esbatam ou desapareçam. “A pessoa experiencia-se a si própria, não como uma entidade estanque, demarcada do resto do mundo, mas de uma forma mais dinâmica, mais fluida e em união com o que está volta”, resume o psiquiatra. Esta experiência subjetiva muda muito de pessoa para pessoa, de viagem para viagem, mas também dependendo das expectativas e do ambiente da sessão (conhecidos por set e setting), razão pela qual a preparação e o ambiente tranquilo são tão importantes para ter uma boa experiência.

“A dada altura, a pessoa com depressão resistente já não sabe o que é sentir prazer, alegria, sentimento de pertença”, lembra a psicóloga Ana Cruz. Não é que não saiba que estas emoções existem e não é que não entenda que também tem essa possibilidade, mas não as sente. E isso, deprime-a mais. 

Parte desta viagem também passa pelas sensações corporais, sejam elas de tristeza, raiva ou, pelo contrário, de bem-estar. “A dada altura, a pessoa com depressão resistente já não sabe o que é sentir prazer, alegria, sentimento de pertença”, lembra Ana Cruz. Não é que não saiba que estas emoções existem e não é que não entenda que também tem essa possibilidade, mas não as sente. E isso, deprime-a mais.  Poder estar em contacto com essas sensações, “senti-las no corpo”, diz a psicóloga, abre a porta a um trabalho psicoterapêutico onde se pode ajudar a pessoa a encontrar formas de saber regressar a esse lugar de bem-estar.

E isso é feito nas sessões de integração, no dia seguinte, usando aquele que é o terceiro efeito da ketamina: a neuroplasticidade. “O cérebro tem esta capacidade de criar novos neurónios ou novas comunicações entre neurónios, que está estabelecido que tem uma duração entre 24 horas a 7 dias”, esclarece Pedro Castro Rodrigues. “Quando a pessoa está nas sessões de psicoterapia, no dia seguinte à administração, o cérebro está num estado mais plástico. A pessoa tem maior flexibilidade: é capaz de pôr hipóteses que não poria numa psicoterapia convencional.” E isso abre espaço para que novas aprendizagens possam ser feitas de forma eficaz.

“Isto não é uma cura milagrosa. Não é ter a experiência e tudo está diferente para sempre”, diz Ana Cruz. “Exige trabalho de casa e o trabalho da psicoterapia e de integração passa por isso: de que forma é que traduzimos, na vida prática e no quotidiano das pessoas, os insights adquiridos com a experiência psicadélica? De que forma é que os vamos operacionalizar? Isto é que vai trazer garantias de uma mudança eficaz e sustentada no tempo.”

Um problema gigante

Embora Ana tenha passado muito tempo a sentir-se sozinha e pouco normal, o seu problema está longe de ser uma raridade. A depressão resistente, geralmente definida como aquela que se mantém depois de terem sido experimentados pelo menos dois medicamentos antidepressivos, atinge um terço das pessoas com depressão. A outra má notícia é que, para quem já experimentou pelo menos dois antidepressivos e não melhorou, a probabilidade de o antidepressivo seguinte as ajudar se situa apenas nos 10%.

Já há algumas alternativas, como a Estimulação Magnética Transcraniana (uma técnica de estimulação cerebral não invasiva através de campos magnéticos) e a Terapia Eletroconvulsiva (um procedimento que provoca alterações na atividade do cérebro através de corrente elétrica), mas também não resultam para toda a gente.

A ketamina tem um efeito antidepressivo e psicadélico. Induz um estado alterado de consciência, a que vulgarmente se chama trip ("viagem"). E tem sido usada, com sucesso, para tratar depressões que não cedem aos tratamentos mais convencionais, estando já a ser utilizada em três serviços de saúde públicos e várias clínicas privadas em Portugal.

Foi neste contexto de falta de soluções, não só para a depressão, mas também para outras doenças mentais, que ressurgiu a investigação com substâncias psicadélicas. Muitas delas, como a psilocibina (presente nos cogumelos mágicos), a ayahuasca (combinação plantas usada pelos povos da Amazónia) e a mescalina (presente no cacto San Pedro), são usadas em contextos cerimoniais e místicos, para induzir experiências visionárias ou curativas desde tempos imemoriais. Outras, como o MDMA (metilenodioximetanfetamina, também conhecido por ecstasy) e o LSD (dietilamida do ácido lisérgico) foram sintetizadas em laboratório em 1912 e 1938. Nos anos 1950 começaram quase todas a ser estudadas do ponto de vista das suas propriedades terapêuticas, sobretudo para problemas mentais.

Acontece que a sua generalização ao uso recreativo nos EUA, sobretudo pelos movimentos de contracultura, como os hippies, nos anos 60 do século passado, levou a administração do então presidente americano, Richard Nixon, a declarar uma guerra às drogas. As consequências desta política aconteceram nas ruas, mas também nos laboratórios de investigação: os cientistas ficaram impedidos de continuar os estudos que estavam em curso com substâncias psicadélicas.

“Apesar disso, havia sinais positivos desta investigação muito inicial, em meados do século passado, que levaram a que houvesse [recentemente] um reinvestimento, para tentar perceber a sua utilidade com metodologias de investigação mais atuais e mais modernas”, contextualiza Albino Oliveira-Maia, diretor da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud e Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental. Assim, depois de mais trinta anos de investigação interrompida, no início dos anos 2000, muitos centros de investigação de referência, como o Imperial College London (Reino Unido) e a Universidade Johns Hopkins (EUA) retomaram a investigação, começando a ter resultados considerados promissores.

O tempo de espera para doentes urgentes ultrapassava, às 8h00 desta quinta-feira, as 12 horas no Hospital Beatriz Ângelo

Até hoje fizeram o protocolo clínico completo [com ketamina] no hospital Beatriz Ângelo (HBA) 12 doentes com depressão resistente ao tratamento, sobretudo mulheres, num total de mais de 130 sessões

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Hoje, há duas destas substâncias que têm mostrado bons resultados nos ensaios clínicos realizados. A Psicoterapia Assistida por MDMA parece estar no caminho de vir a ser aprovada para a Perturbação do Stress Pós-Traumático, “porque temos poucas alternativas de tratamento e a evidência que existe para uso de MDMA já é bastante razoável”, explica o psiquiatra. E, por outro lado, a psilocibina poderá vir a ser aprovada para a depressão resistente, depois dos bons resultados de um ensaio clínico internacional, com mais de 200 pacientes, que, em Portugal, foi realizado na Fundação Champalimaud e coordenado por Albino Oliveira-Maia. O ensaio comparou três doses da substância (baixa, intermédia e alta) e os resultados, publicados no ano passado no conceituado New England Journal of Medicine, são impressionantes. “Com a dose mais alta, um terço dos doentes ficou em remissão, ou seja, os sintomas desapareceram em absoluto.”

Embora em países como a Suíça e a Austrália os médicos já possam prescrever estas duas substâncias, no resto do mundo elas só podem ser usadas em contexto de investigação, porque são consideradas drogas e não medicamentos. Com a ketamina, a história é outra: é, para todos os efeitos, um medicamento aprovado. Apesar de estar apenas aprovado como anestésico, e não para depressões ou outras perturbações mentais, pode ser usado pelos médicos através de uma prática chamada prescrição off-label.

Uma utilização ainda experimental

A utilização off-label – que é legal e está regulamentada – acontece quando um médico prescreve um medicamento fora das suas indicações ou especificações terapêuticas aprovadas. É uma prática bastante comum e há especialidades em que se pensa que a prescrição off-label ronde os 30%. Há medicamentos anti-epilépticos usados no tratamento de enxaquecas ou dor neuropática, medicamentos para o cancro usados para doenças oftalmológicas e medicamentos para a hipertensão arterial (betabloqueadores) usados para a ansiedade.

“A sustentação do uso da ketamina no contexto da psiquiatra já conta com vinte anos de investigação, com evidência que provém de ensaios clínicos, tratamento ativo, revisões sistemáticas com metanálise e evidência do mundo real”, explica Pedro Sousa Martins, um dos psiquiatras da clínica SOMA, no Porto — que também usa a ketamina para o tratamento da depressão resistente —, sendo também um dos fundadores da SPACE – Sociedade Portuguesa de Aplicação Clínica de Enteógenos, uma sociedade científica, criada em 2021, que pretende difundir conhecimento acerca das utilizações terapêuticas de substâncias psicadélicas no tratamento de perturbações psiquiátricas, tendo publicado o primeiro livro sobre o tema em português, Psicadélicos e Saúde Mental (ed. Lidel, 2023). A SPACE tem também em preparação um guia de boas práticas para os profissionais de saúde sobre a administração de ketamina, que pretende balizar as intervenções de acordo com a melhor evidência científica.

O psiquiatra explica que, se as agências reguladoras do medicamento ainda não têm condições para aprovar a substância como antidepressivo, é por falta de mais ensaios clínicos. E se eles não têm sido feitos é porque a patente da ketamina já expirou, sendo agora um medicamento genérico. “Desde 2002 que é uma molécula de domínio público e quaisquer ensaios clínicos para aprovar novas indicações não vão trazer nenhum retorno financeiro à empresa que os realizar”, esclarece Pedro Sousa Martins. Por isso, acrescenta, “a sua utilização em ensaios clínicos está maioritariamente dependente de financiamentos públicos, que são muito limitados”.

A ketamina está aprovada como anestésico e não para depressões ou outras perturbações mentais. Mas pode ser usada para outros fins através da prescrição off-label, uma prática comum e regulamentada. Há medicamentos anti-epilépticos usados para enxaquecas ou dor neuropática, medicamentos para o cancro usados para doenças oftalmológicas e medicamentos para a hipertensão arterial usados para a ansiedade.

A primeira utilização da ketamina em Portugal como tratamento experimental da depressão resistente aconteceu no início de 2021, no Hospital Beatriz Ângelo (HBA), em Loures, dinamizada por João Costa Ribeiro, psiquiatra da instituição à data.

A disponibilização deste tratamento – que os responsáveis do HBA acreditam que foi a primeira num hospital público na Europa — implicou quase um ano de trabalho e de aprovações várias. “Houve reuniões com profissionais do serviço de psiquiatria, serviço de anestesiologia, hospital de dia médico, centro de gestão, comissão de farmácia e terapêutica e comissão de ética para a saúde”, explica a psiquiatra Maria João Heitor, diretora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do hospital.

De todos estes encontros, saiu uma orientação técnica, com todos os detalhes do protocolo em três fases — avaliação prévia, sessões de administração e sessões de preparação e integração psicológica da experiência — e com um especial foco no consentimento informado escrito, voluntário, livre e esclarecido dos doentes.

O uso da ketamina no HBA implicou “reuniões com a psiquiatria, anestesiologia, hospital de dia, centro de gestão, comissão de farmácia e comissão de ética”, diz a psiquiatra Maria João Heitor

Até ao momento fizeram o protocolo clínico completo no hospital 12 doentes com depressão resistente ao tratamento, maioritariamente mulheres, num total de mais 130 sessões de tratamento com ketamina, além das sessões de intervenção psicológica. “Os doentes são selecionados para o tratamento de forma muito criteriosa”, frisa a psiquiatra. “No Hospital Beatriz Ângelo a ketamina tem sido somente utilizada em doentes com depressão resistente a sucessivos tratamentos farmacológicos. Mesmo nestes casos, é sempre ponderada a elegibilidade para tratamento com eletroconvulsivoterapia.”

A Unidade de Terapia Assistida por Cetamina do hospital, refere a diretora de serviço, “tem sido procurada por diversos profissionais dos setores público e privado como um local de eleição para formação”, mas também por muitos colegas que referenciam doentes, alguns fora da área de influência do hospital. “Os pedidos são sempre avaliados pela equipa, que procura dar-lhe o melhor encaminhamento.”

Hoje, mais de três anos depois do início deste tratamento naquela unidade de saúde, o tratamento está já disponível também no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e no Centro Clínico das Janelas Verdes, (Ministério da Administração Interna) e, a nível privado, surgiram já, pelo menos, cinco unidades a aplicar o tratamento: a clínica SOMA, no Porto, e, em Lisboa, a Liminal Minds, a Clínica Hugo Madeira, as Irmãs Hospitaleiras, e a The Clinic of Change. Sendo a ketamina um fármaco de administração hospitalar, todas estas clínicas privadas que fazem este tratamento devem funcionar em instituições de saúde equiparadas a hospitais e/ou cumprir requisitos mínimos de segurança.

Dúvidas, inquietações e polémicas

Este uso da ketamina não tem sido isento de debates. Há, desde logo, dentro da comunidade científica, os mais entusiastas e os mais resistentes. Mas, mesmo entre aqueles que defendem as suas potencialidades, há discordâncias. Sendo um tratamento experimental e sem regulamentação, cada unidade define os seus próprios protocolos de intervenção. E eles são muito variáveis: desde a seleção dos pacientes e das patologias que podem ser tratadas, às doses de ketamina usadas, passando pelo número de sessões de administração feitas, e até mesmo a possibilidade de fazer apenas tratamento farmacológico ou incluir sempre as sessões de psicoterapia de integração da experiência. Esta necessidade ou não de psicoterapia — e que tipo de psicoterapia — para a eficácia do tratamento é, de resto, um dos pontos mais fraturantes.

Psilocibina, ayahuasca, mescalina, MDMA, LSD. Naturais ou sintetizadas, as substâncias psicadélicas começaram (quase todas) a ser estudadas do ponto de vista terapêutico. Mas a generalização ao uso recreativo nos EUA levou o então presidente Richard Nixon a declarar guerra às drogas. As consequências chegaram também aos laboratórios: os cientistas ficaram impedidos de continuar esses estudos.

Alguns psiquiatras, como Pedro Castro Rodrigues, consideram que a alteração de consciência que a experiência causa faz com seja essencial este acompanhamento, que a relação humana é uma parte essencial do tratamento, que “é a psicoterapia que permite que os efeitos sejam duradouros e não transitórios” e que, no geral, “já se sabe que todos os modelos psicoterapêuticos têm uma eficácia semelhante”.

Outros, como Maria João Heitor, frisam que “face à prática assistencial atual, baseada na evidência científica mais robusta, o efeito antidepressivo central resulta do fármaco ketamina” e, por isso, considera mesmo que “o termo internacionalmente usado, ‘psicoterapia assistida por ketamina’, poderia ser substituído por uma terminologia mais em linha como os tratamentos atuais, como ‘terapia com ketamina combinada com intervenção psicológica’”, colocando a tónica na substância e não na terapia. A psiquiatra refere que são necessários mais ensaios clínicos “para esclarecer até que ponto a adição de psicoterapia à ketamina melhora os resultados em relação ao tratamento com ketamina isoladamente”.

O psiquiatra Albino Oliveira-Maia concede que “a psicoterapia tem sempre benefícios adicionais” para os pacientes, mas entende que é pertinente estudar se é mesmo necessária, em todas as circunstâncias, uma intervenção psicoterapêutica — e qual. “E precisamos de saber isto porque, se for necessário, vai haver questões de acesso e de equidade: é difícil que as pessoas sejam tratadas com intervenções psicoterapêuticas quando isso não depende dos recursos individuais, como acontece no Serviço Nacional de Saúde”, frisa o médico.

Na clínica Hugo Madeira, as sessões de psicoterapia antes da administração da ketamina servem para ambientar a pessoa ao que se vai passar, reduzir a ansiedade e estabelecer uma relação de confiança

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Outra preocupação que tem estado em cima da mesa refere-se ao consentimento informado e à proteção dos doentes num momento de vulnerabilidade. Albino Oliveira-Maia é também um dos autores (a par de outros especialistas portugueses) de um artigo de comentário a esse propósito, publicado recentemente na revista Nature Medicine. O médico entende que há “um certo vazio científico, profissional e legal sobre as proteções que as pessoas precisam de ter naquele momento [de alteração do estado de consciência]”.

Oliveira-Maia frisa que com a proliferação do uso clínico da ketamina para o tratamento de perturbações mentais é essencial fazer uma regulamentação deste uso da substância. Por um lado, para uniformizar a prática clínica considerando a melhor evidência e, por outro, para evitar eventuais abusos. “Não só para proteger os doentes mas também — e esta é uma preocupação muito clara que tenho — para proteger estes tratamentos. Se não conseguirmos proteger os tratamentos de potenciais abusos, o que vai acontecer é que eles vão deixar de ser feitos”, penalizando assim muita gente para quem podem ser úteis.

A primeira utilização da ketamina em Portugal como tratamento experimental da depressão resistente aconteceu no início de 2021, no Hospital Beatriz Ângelo. A disponibilização deste tratamento – que os responsáveis do HBA acreditam que foi a primeira num hospital público na Europa — implicou quase um ano de trabalho e de aprovações várias. 

Sobre esta necessidade de regulamentação pedida por muito psiquiatras, o Observador contactou o Infarmed, não tendo a instituição respondido até à data de publicação deste artigo. O organismo tem tido, no entanto, uma posição pública, refletida numa circular de 2010, na qual esclarece que, em relação ao uso off-label de medicamentos que “não compete ao Infarmed pronunciar-se sobre a utilização dos medicamentos para uma indicação terapêutica diferente das que constam nos respectivos RCM (Resumos das Características dos Medicamentos)”, acrescentando ainda que “a utilização de um medicamento fora do âmbito das indicações terapêuticas aprovadas é da inteira responsabilidade do médico prescritor” e que “é competência das comissões de farmácia e terapêutica e/ou de ética, de cada instituição, pronunciarem-se sobre a correção da terapêutica prescrita aos doentes”.

Uma questão de comunicação

Em meados de julho, abriu em Portugal mais uma clínica privada que oferece tratamentos de psicoterapia assistida por Ketamina — mas, neste caso para várias perturbações mentais e não apenas depressão. A The Clinic of Change tem uma protoloco de coloboração com o ISPA e, a nível internacional, com a Awakn Life Sciences – uma empresa que tem unidades semelhantes licenciadas em Londres, Oslo, Trondheim, Nova Iorque, Los Angeles e Toronto e que  tem conduzido investigação sobre o papel da ketamina no tratamento de várias perturbações, sobretudo relacionadas com as dependências de substâncias.

A Awakn Life Sciences está associada a dois nomes de peso nesta área: Celia Morgan, professora de Psicofarmacologia na Universidade de Exeter, é a diretora do departamento de Psicoterapia Assistida por Ketamina aplicada às adições; e David Nutt, diretor do Centre for Psychadelic Research do Imperial College (Londres) é o responsável pelo departamento de investigação.

Com a proliferação do uso clínico da ketamina para o tratamento de perturbações mentais é essencial fazer uma regulamentação deste uso da substância, alerta o psiquiatra Albino Oliveira-Maia

Alexandre Azinheira/Fundação Champalimaud)

A chegada da clínica a Portugal, que foi anunciada em vários meios com vigor, gerou, no entanto, algumas controvérsias que fizeram surgir novos debates na área. Desde logo porque se apresentou como a primeira clínica de ketamina em Portugal. Depois, porque fez uma campanha de comunicação no site, redes sociais e cinemas, com o mote “tratamentos de curta duração com efeitos para a vida” que levou a que, no início de Agosto, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tenha iniciado uma avaliação à comunicação da clínica e o Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos tenha emitido um parecer no qual, entre outros esclarecimentos, frisa que sendo o tratamento off-label, “não deve ser promovido publicamente e não deve ser publicitado do ponto de vista comercial por médicos e/ou por clínicas”. Por fim, porque a comunicação refere o tratamento como solução para uma quantidade muito vasta de indicações, incluindo o burnout.

Sentados em duas das poltronas de uma das salas de tratamento da The Clinic of Change, no número 12 da Rua de Picoas, em Lisboa, Paulo Cleto Duarte, ex-presidente da Associação Nacional das Farmácias e um dos fundadores, e Vítor Amorim Rodrigues, psiquiatra e diretor clínico, começam por dizer que entendem o debate.

“Respeitamos muito todos os trabalhos individuais, quer no sector público, quer no privado”, diz Paulo Cleto Duarte. Mas reitera que “somos a primeira clínica com um protocolo científico validado e testado” através da parceria e consultoria da Awakn Life Sciences, “uma empresa líder internacional na investigação sobre este tratamento, que cumpre protocolos de investigação científica desenvolvidos com o Imperial College de Londres, a Universidade de Exeter e o serviço nacional de saúde britânico”.

“A sustentação do uso da ketamina no contexto da psiquiatra já conta com vinte anos de investigação, com evidência que provém de ensaios clínicos, tratamento ativo, revisões sistemáticas com metanálise e evidência do mundo real.”

Quanto à avaliação em curso na Entidade Reguladora da Saúde, o fundador diz que se inspiraram noutros sites, portugueses e internacionais, e que “muitos dos conteúdos foram resultantes da própria parceria com a Awakn”, frisando que em nenhum momento pretenderam apresentar o tratamento como uma espécie de milagre, que sabem que não é.

“Podemos não ter sido totalmente felizes”, diz o fundador. Mas vê a avaliação da ERS como “muito positiva, porque vai clarificar uma área que, de facto, é sensível”, nomeadamente acerca de como comunicar bem e, simultaneamente, cumprir as regras do ponto de vista da proteção das pessoas. “Esse equilíbrio nem sempre é fácil.” Paulo Cleto Duarte frisa ainda que subscreve o parecer do Colégio de Psiquiatria e que, por isso, já fizeram adaptações ao site e redes sociais. “E estamos disponíveis e a trabalhar para aperfeiçoar os nossos materiais de comunicação, para nos adaptarmos mais e cumprirmos com esses objetivos.”

Também Vítor Amorim Rodrigues reconhece que “pode ter havido exageros” e que a comunicação “foi musculada”. “Mas o que está feito, está feito” e agora, feitos os devidos esclarecimentos, o diretor clínico espera que o assunto possa ser encerrado e ficar pacificado, até porque estão “disponíveis a seguir as melhores indicações nessa área”.

“Sinto-me, sobretudo, normal", diz Ana, um mês e meio depois do final do tratamento. "Quando é suposto estar triste, estou triste, e quando é suposto estar alegre, estou alegre. Mas tudo isto me parece natural, e não doentio, como eu sentia antes”.

Quando às questões relacionadas com o leque de indicações do tratamento, o psiquiatra admite que, fora do campo da depressão e da perturbação do uso do álcool, “a evidência é menos robusta”, mas que, ainda assim, “continua a ser suficiente para, em consciência, e de acordo com as indicações da Awaken” o tratamento poder ser usado em perturbações do comportamento alimentar, stress-pós traumático e perturbações de ansiedade. “A partir do momento em que o clínico percebe que o tratamento está validado, ficar à espera que a burocracia [de aprovação] funcione, enquanto temos pessoas em sofrimento e sabemos que estes tratamentos funcionam, seria até desumano”.

Sobre a indicação mais polémica, o burnout, esclarece: “Aqui ninguém é aceite só porque tem burnout. É preciso que haja uma expressão depressiva ou ansiosa, que é resistente a outros tratamentos, muito significativa”.

“Sinto-me normal”

Voltemos – finalmente – a Ana. O que mudou, então, para ela, depois deste tratamento? Sorri com a pergunta e, depois de uns momentos de silêncio à procura das palavras, dá uma resposta pungente: “Estaria a dizer-lhe a verdade se dissesse que mudou tudo. Mas também estaria a dizer-lhe a verdade se dissesse que não mudou nada.”

E as duas coisas são verdade porque a grande mudança não aconteceu do lado de fora, mas do lado de dentro. O que mudou, no essencial, foi a forma como olha para ela própria, para o mundo, para as suas ansiedades e tristezas. “Sinto-me, sobretudo, normal. Quando é suposto estar triste, estou triste, e quando é suposto estar alegre, estou alegre. Mas tudo isto me parece natural, e não doentio, como eu sentia antes”. Também começou a relativizar as preocupações em relação à saúde, os tais problemas que criava. “Dantes, tinha uma dor de costas e inventava logo que era um cancro. Agora, se tenho uma dor de costas, até posso pensar isso na mesma, mas, logo em seguida, quase consigo rir-me dessa ideia.”

A “sensação” psicadélica “é uma alteração temporária, mas profunda, da percepção, das emoções e do pensamento que tem um efeito a que chamamos dissolução do ego”, diz Pedro Castro Rodrigues

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

Voltou a comer. Levanta-se de manhã sem esforço. Está com as outras pessoas com prazer. Reconciliou-se com o corpo e com o envelhecimento. “A velhice confronta-nos com a nossa mortalidade. Além disso, enruga e encarquilha e, nos últimos anos, isso era uma coisa que me afligia imenso: eu tinha aversão a ser velha.” Uma das ideias que saiu das sessões foi fazer fotografias do próprio corpo. Tornou-se uma espécie de hobbie que lhe dá prazer. “A minha barriga, por exemplo, com o envelhecimento, com a magreza, com as estrias dos partos, quando é fotografada parece, ora uma casca de árvore, ora um deserto com pequenos canais. Isto tem-me divertido imenso. Acho que posso dizer que a vergonha de ser velha desapareceu.”

“Em psicoterapia, não mudamos a história da pessoa, nem as suas circunstâncias de vida. O que fazemos, na maioria das vezes, é permitir que a pessoa mude a perspetiva que tem sobre si própria, sobre a sua vida e sobre o mundo”, contextualiza a psicóloga Ana Cruz. E dessa mudança interna surge — também — uma mudança de comportamentos. É por isso que, para ela, a melhor definição de saúde mental é a ausência de rigidificação dos pensamentos e comportamentos, “a flexibilidade de mudar de perspetiva e ser capaz de dar novas respostas a velhos problemas”.

Antes de voltar a levantar-se para sair, e depois de mais uns momentos de silêncio, Ana retoma o tema da mudança. “Eu vivi a minha vida toda, que é longa, numa espécie de luta de vida ou de morte para me livrar das coisas que me magoaram. Havia uma aversão em relação a muitas coisas, mas, sobretudo, em relação a mim própria. E aquilo que eu talvez tenha conseguido com este tratamento é uma coisa que almejava há muito tempo sem ser capaz: aceitar-me como sou.” Dessa aceitação nasceu-lhe a capacidade de viver, com alegria, a sua vida como ela é. Sorri de novo e remata: “Parece facílimo, não é? Mas eu levei uma vida inteira para aqui chegar. Foram 77 anos.”

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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