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O alerta do incêndio foi dado pelas 15h por um vizinho, os bombeiros dirigiram-se ao local e foram surpreendidos com tiros e explosões
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O alerta do incêndio foi dado pelas 15h por um vizinho, os bombeiros dirigiram-se ao local e foram surpreendidos com tiros e explosões

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

O alerta do incêndio foi dado pelas 15h por um vizinho, os bombeiros dirigiram-se ao local e foram surpreendidos com tiros e explosões

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

Nelas. Fogo, tiros e explosões: vizinhos já tinham alertado polícia para disparos. Suspeito não terá aceitado divórcio

Provocou um incêndio com explosões e baleou cinco bombeiros e um militar da GNR. O homem detido em Nelas era conhecido na zona por não aceitar o divórcio, tornando-se "agressivo e revoltado".

O cheiro a queimado sente-se no ar, o som dos pássaros confunde-se com o latir de dois cães Serra da Estrela que reagem à presença dos militares da GNR. Neste terreno em terra batida, situado em Vale de Madeiros, no concelho de Nelas, na manhã desta quinta-feira viam-se ainda manchas de sangue e por elas passavam vizinhos com baldes de água nas mãos ou a conduzir motas modestas. O portão de ferro verde estava coberto com a fita da Polícia Judiciária e do outro lado via-se o local do crime: um armazém em pedra completamente ardido, rodeado por um terreno de vegetação com árvores de fruto. Havia vidros no chão, numeração romana escrita nas paredes, uma escada, um atrelado e uma betoneira enferrujada.

“Ele pegou fogo a isto e depois escondeu-se ali atrás daquela janela pequena, quando os bombeiros chegaram cá e começaram a controlar as chamas não sabiam de onde vinham os tiros”, recorda um militar da GNR ao Observador na manhã desta quinta-feira, acrescentando que o dono do terreno vivia naquele “barraco”. “Pelo menos a morada oficial que tínhamos dele era aqui.”

Fogo e explosões em Nelas: homem barricou-se em armazém e ameaçou pessoas com explosivos. Há pelo menos 5 feridos

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Horas antes, no mesmo local, esteve Vítor Santos, vive em Vale de Madeiros há mais de 40 anos, mas garante que nunca viu um cenário de fogo, tiros e explosões como aquele aconteceu na tarde desta quarta-feira. “Isto é uma zona pacata e sossegada, nunca se passa nada. Estava a trabalhar, só cheguei há uma hora, mas já percebi que foi grave”, começa por dizer ao Observador pelas 21h desta quarta-feira, a caminho de casa, logo após a GNR retirar as fitas que durante seis horas limitaram o perímetro de segurança. No local, uma estrada rodeada por algumas vivendas, um homem de 62 anos provocou um incêndio, originando várias explosões, ferindo a tiro um militar da GNR e cinco bombeiros.

No interior do armazém de José Guerra encontrava-se um veículo ardido e várias ferramentas enferrujadas

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

A caminho de casa, Vítor olha com atenção os últimos carros da GNR, da Proteção Civil e das várias corporações de bombeiros, cujas luzes iluminavam a estrada já escura. Diz conhecer bem a zona, inclusive a família de José Guerra, o homem que acabou detido pela Polícia Judiciária, bem como os dois bombeiros de Canas de Senhorim que ficaram gravemente feridos naquela tarde.

“Conheço os dois irmãos mais novos dele, a irmã não sei o que faz, o irmão tem uma oficina de carros em Nelas. O José não aparece muito por aqui, é mais calado e arrogante, sei que morou vários anos em Lisboa, mas atualmente trabalhava como taxista em Viseu”, explica, enquanto aponta para uma casa branca, cuja fachada está coberta por dois carros dos bombeiros. “Ele tem um armazém de serralharia ali ao fundo desativado, às vezes ia trabalhar para lá. Nunca ouvi dizer que era violento, que tinha armas ou explosivos ali dentro, por isso, nunca esperei que acontecesse uma coisa destas.”

O morador tentou contactar os irmãos de José Guerra quando soube do incidente, mas sem sucesso. “Resta-me ir descansar e amanhã vejo melhor o que realmente se passou.” A meio do caminho, Vítor encontra Fábio Campos, um vizinho de longa data. “Então, já sabes o que aconteceu?” Já sabia.

Durante a tarde desta quarta-feira estiveram no terreno mais de 90 operacionais em 41 viaturas

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

Fábio vive “a dois passos” daquela zona há três décadas, é um “conhecido” de José Guerra e não arredou pé do local durante toda a tarde, tendo presenciado inclusive os tralhados no terreno da brigada de explosivos da GNR. Enquanto acende o último cigarro do maço, conta que José tem duas filhas e divorciou-se da mulher há vários anos, tendo com ela uma luta judicial antiga.

“Hoje chegou um solicitador para fazer as partilhas e ele passou-se”, revela ao Observador, acrescentando que, além de provocar um incêndio no armazém onde se encontrava, tendo depois ocorrido várias explosões, o homem detido tinha também “umas quatro ou cinco armas”, incluindo caçadeiras, que começou a disparar mal se percebeu da presença de bombeiros e de elementos da GNR.

Segundo o morador, esta já não é a primeira vez que os vizinhos alertam as autoridades para os comportamentos agressivos de José, desconhecendo, contudo, se a posse de armas por parte do detido era legal. “Os vizinhos já chamaram a polícia umas três vezes porque ele pega nas armas e começa a disparar para o ar, mas sem magoar ninguém. Nunca o tinham apanhado em flagrante. Olhe, foi hoje.” Depois de duas horas barricado, José Guerra foi detido às 18h30 pela GNR, tendo sido transportado para a PJ de Coimbra já perto das 22h30.

Pelas 22h30 José Guerra saiu algemado do Posto da GNR de Canas de Senhorim e foi transportado para a PJ de Coimbra

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

Um incêndio urbano que se transformou numa operação policial

Uns metros à frente dos dois vizinhos a conversar estavam alguns elementos da corporação de bombeiros de Canas de Senhorim. Enquanto aguardavam que os inspetores da PJ terminassem os trabalhos de perícia no armazém, uns recolhiam as mangueiras para os carros, outros enviavam mensagens de telemóvel com um semblante de preocupação.

“Estamos a tentar saber o estado de saúde dos nossos colegas, dois estão mal, um já está no bloco operatório e vai ser operado aos olhos”, diz um bombeiro que preferiu não ser identificado, acrescentando que um outro colega ficou ferido na zona abdominal e um militar da GNR teve cortes provocados por estilhaços numa das pernas. “Viemos combater um incêndio urbano e isto acabou por ser uma operação policial, até porque o homem tinha um arsenal militar escondido no armazém”, sublinha, destacando que a habitação vizinha ficou “completamente intacta”.

Joaquim Amaral, presidente da Câmara Municipal de Nelas, contou ao Observador que chegou ao local pouco depois das 15h e que ainda viu “uma coluna de fumo” no ar. “Ocorreram explosões, mas não nos pudemos aproximar do armazém”, recorda, garantido que este é um cenário inédito naquela zona. “Dizem que a origem desta situação é um conflito relacionado com partilhas de bens familiares, mas não conheço a pessoa em causa.”

Mas nem todas as teses coincidem. No rescaldo do incidente, Miguel David, comandante distrital Proteção Civil de Viseu, garantiu que existiam “engenhos explosivos” no armazém, dizendo desconhecer “a sua origem e a sua categoria”, por outro lado, vários elementos da GNR no local revelaram ao Observador que “não existiram explosões”, apenas “um incêndio e vários tiros”.

Manuel Monteiro conhece o detido desde miúdo e revela que com o divórcio o homem tornou-se mais agressivo e revoltado

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

A noite foi de tensão e a manhã trouxe a normalidade. Eram 9h desta quinta-feira e Manuel Monteiro, outro morador de Vale de Madeiros, já estava de boina na cabeça e garrafa de água na mão a tentar ajudar as autoridades no que fosse necessário. “Conheço o José desde miúdo, trabalhei com o pai dele numa oficina, a mãe já está velhinha e mora ali mais à frente, até lhe cortei o cabelo quando era miúdo”, começa por partilhar com o Observador.

Explica que o detido é o segundo mais velho de quatro irmãos, não se dá especialmente bem com eles e desde que se divorciou “nunca mais ficou bom da cabeça”. “Casou-se com uma mulher de Lisboa, as filhas acho que ainda vivem por lá, compraram este terreno e passavam férias aqui. Depois separaram-se e começou uma guerra”, afirma, referindo-se ao já antigo processo de partilha de bens.

“Agora acho que morava sozinho naquele barraco, não sabia que tinha armas, mas os vizinhos mais próximos diziam que ouviam uns tiros e chamavam a polícia, mas ele fugia. Eu próprio quando passava por lá sentia que ele se escondia de mim.” Manuel acrescenta ainda que José “bebia uns copos a mais” e quando conduzia a sua mota “perdia um bocado o juízo”, ainda assim o cenário desta quarta-feira era difícil de prever. “Nunca pensamos que as coisas podem acabar assim, não é?”

Esta quinta-feira o Centro Hospitalar Tondela-Viseu confirmou ao Observador que deram entrada na unidade hospitalar cinco bombeiros e um militar da GNR. “Dos feridos, dois foram considerados graves e deram entrada no bloco operatório. Atualmente, um utente já foi transferido para a enfermaria e o segundo encontra-se na unidade de cuidados intensivos. Os restantes elementos, considerados feridos ligeiros, foram observados na sala de urgência, tendo tido alta pouco depois.”

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