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PEDRO PINA/RTP

PEDRO PINA/RTP

Quem atacou quem: a noite de "pancada" em Costa

Costa vingou-se da esquerda e tentou diabolizar o PSD, Rio só falou contra Costa e ignorou ataques da direita. A esquerda ficou-se pela autofagia e a direita uniu-se na urgência de derrotar o PS.

Aconteceu o que se perspetivava atendendo ao modelo de debate a nove que veio completar a maratona de debates. Duas horas de televisão, muitas divergências, pouco tempo para discutir com profundidade os temas, uma cola especial: a vontade de bater em António Costa. O socialista foi a jogo preparado para a vitimização e cumpriu o papel na perfeição, aproveitando para apontar à irresponsabilidade da esquerda, diabolizar a direita e, bónus desta noite, dizer claramente que quer mesmo a “maioria absoluta”. Bingo.

Rui Rio também cumpriu o seu papel. Ignorou as provocações dos partidos mais à direita, falou (quase) em exclusivo sobre António Costa e para António Costa — Rio tem todo o interesse em colocar-se num patamar diferente dos demais concorrentes e vestir o fato de (futuro) primeiro-ministro. Pelo caminho, fez o derradeiro apelo ao voto útil e garantiu que não quer “partir tudo” — não hostilizar ninguém e, sobretudo, não assustar ninguém é parte da estratégia de Rio.

À direita e à esquerda estados de espírito diferentes: apesar de umas quantas cotoveladas, CDS, Chega e Iniciativa Liberal estiveram sintonizados no ataque à esquerda; PAN, PCP e Bloco de Esquerda (sobretudo o Bloco) perderam quase tanto tempo a bater em António Costa como a bater na direita. A exceção foi mesmo Rui Tavares, que preferiu bater-se de frente com Cotrim Figueiredo.

António Costa. Levou “pancada de todos”, atacou mais Rio, mas foi pela esquerda que começou

Ataques a Rui Rio: 2
Ataques a Catarina Martins: 1
Ataques a João Oliveira/PCP: 1
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 1
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a Rui Tavares: 0

Não é surpresa que quem está em funções leve “pancada” de todos, como António Costa se queixou, a dada altura do debate, de ter acontecido consigo neste formato com todos. O seu alvo preferencial foi¢ Rui Rio, sobre quem desferiu dois ataques durante o debate. O primeiro surgiu quando falou de Saúde e acusou o social-democrata de “jogar com as palavras. mas apresentou um projeto de revisão constitucional para que o SNS deixe de ser tendencialmente gratuito”.

“O PSD deseja que a classe média passe a pagar os cuidados de saúde”. “Tem uma habilidade sempre que é disfarçar o que propõe no seu programa. Por isso tem facilidade em entender-se com o IL, o Chega nos Açores, o CDS. Este é a realidade”, atirou perante os protestos dos representantes da direita que foram referidos por si.

Voltou a atacar o PSD, aí juntando toda a direita, na intervenção final, dizendo que o debate deixou “clarfo” que “há uma proposta de maioria do Governo, que é a do PS, e depois há uma direita que é alternativa, mas que não é de governo, é uma maioria de desgoverno. Porque só conseguiram chumbar Orçamento com o voto do PCP e BE que obviamente não são capazes de se entender com a direita para uma alternativa de Governo”.

Mas curioso mesmo foi que o primeiro ataque do socialista no debate não tenha sido para essa frente, mas sim para os seus parceiros nestes seis anos. Tinha acabado de ouvir João Oliveira, do PCP, e Catarina Martins, do BE, quando tomou a palavra e fez a vitimização com o chumbo do Orçamento. “Dei a cara há dois anos pela continuação da geringonça, o BE já rompeu com a geringonça no ano passado e não foi por causa disso que não fizemos a atualização do lay off para pagar a 100%”. A medida foi aprovada no OE para 2021, em que o PCP se absteve viabilizando a proposta, pela última vez. E atirou aos dois de uma vez, acusando-os de “falta de vontade política”. Se ela tivesse existido, repete, “o Orçamento teria passado à especialidade”, queixou-se.

Quando interveio tentou sempre passar números da sua governação — fez isto na Saúde e na Economia — dizendo que durante esse período, o país “cresceu mais” e “investiu mais” no SNS. Esquivando-se a perguntas mais concretas. Por exemplo: porque é que o país está a crescer mas foi ultrapassado por outros europeus? “A história explica mas temos de nos focar no futuro”. Rejeita o PSD de entendimentos pós-eleitorais? “Os portugueses ainda vão votar”. As PPP na Saúde são para continuar? “Na avaliação feita, uma foi recusada, as outras duas positivas mas os privados não quiseram renegociar. A questão não é essa, é que temos de ter um SNS que seja público e aqui há diferença muito grande entre a nossa posição e a do PSD”.

Deixou uma coisa que nunca tinha detalhado com tanto pormenor. Se perder sai, sim, mas logo no dia seguinte. “O PS, depois, prosseguirá o seu processo”.

Rui Rio. Não hostilizar a direita, não assustar o centro, só medir forças com Costa

Ataques a António Costa: 6
Ataques a Catarina Martins: 1
Ataques a João Oliveira: 0
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a André Ventura: 0
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Não fosse um rápido remoque irónico dirigido a Catarina Martins e à ideia (para Rui Rio, infundada) de que é possível baixar todos os impostos de uma vez, e o líder social-democrata tinha conseguido uma estratégia que se antecipava: criticar em exclusivo António Costa e ignorar todos os demais intervenientes no debate.

De resto, a primeira intervenção de Rui Rio foi precisamente nesse sentido: forçar a bipolarização da campanha eleitoral e dizer claramente que a escolha dos portugueses é entre ele e António Costa, deixando a habitual nota que tem dominado todo o discurso do presidente do PSD e que passa por manifestar total disponibilidade para encontrar soluções de governabilidade com o PS caso perca as legislativas e por pressionar os socialistas a comprometerem-se com o mesmo caso percam as eleições.

Mais uma vez, António Costa voltou a não dizer o que fará o PS caso fique em segundo nas legislativas e Rio voltou a aproveitar para se tentar afirmar como verdadeiro abre-latas do sistema. Quanto ao resto, Rio repetiu as críticas já dirigidas ao modelo de governação socialista (receita económica que conduz à estagnação, o estado a que chegaram os serviços públicos e a falta de soluções para a Saúde) e deixou uma certeza: “Não quero fazer uma revolução. Não quero partir tudo. Quero fazer uma mudança”. Rio sabe que uma parte significativa dos eleitores portugueses tem horror a ruturas; prometer mudança dentro da estabilidade é a melhor forma de não assustar ninguém.

Nota final para a ausência de ataques dirigidos aos partidos à direita do PSD. Apesar de visado várias vezes ao longo do debate, Rio também sabe que não deve hostilizar diretamente o eleitorado desses partidos para que, no escurinho do biombo que protege a mesa de voto, não custe tanto votar útil.

Catarina Martins. Mais ataques ao PS, mas com uma garantia: a esquerda tem de se “entender”

Ataques a António Costa: 8
Ataques a Rui Rio: 7
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 1
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 1
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a João Oliveira: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Sempre que o moderador passou a palavra a Catarina Martins, a coordenadora do Bloco de Esquerda não deu tréguas a António Costa – embora seja também com ele que, como assegurou uma e outra vez, se quer entender e fazer um “contrato de Governo”.

O ataque mais significativo terá, aliás, a ver com a indisponibilidade de Costa para regressar aos tempos da geringonça: começou por disparar contra o líder do PS por não ter querido renovar o acordo em 2019 e dizer que nem Costa se lembrará de uma maioria absoluta que tenha sido positiva para o país; e acabou a criticar esse apelo à maioria absoluta – uma forma de o PS poder “deixar os problemas agudizarem-se”.

Pelo meio, foi somando críticas variadas ao PS: pela falta de médicos de família, por não ter executado o Orçamento Suplementar que o Bloco viabilizou, por ter precisado de corrigir os apoios sociais já depois de o Orçamento para 2021 ter entrado em vigor, por demorar a concordar com a necessidade de criar uma carreira para os técnicos auxiliares de Saúde. No fundo, um somatório das medidas em que PS e Bloco não foram capazes de se entender até agora – e às quais jura querer voltar depois de dia 30 de janeiro, até porque, insistiu em várias intervenções, quando anda na rua as pessoas pedem-lhe que a esquerda se “entenda”.

Quanto à direita, o foco foi sobretudo Rui Rio (criticou a proposta do PSD para criar médicos assistentes quando não houver médicos de família e também a tentativa de bipolarização da corrida). Mas ainda houve tempo para uns quantos ataques mais genéricos à direita – incluindo uma associação dos “quatro líderes da direita” aos tempos da troika que provocou um coro de protestos daquele lado da sala.

João Oliveira. tenta distanciar-se do Bloco e tem como alvo (quase) exclusivo o PS

Ataques a António C0sta: 3
Ataques a Rui Rio: 0
Ataques a Catarina Martins: 0,5
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 1
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 0
Ataques a André Ventura: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Não fosse um ataque à posição do CDS sobre o Serviço Nacional de Saúde e o puxar dos galões da diferença que a CDU faz quando consegue pressionar o governo — num autoelogio que fere o Bloco de Esquerda — e poder-se-ia dizer que João Oliveira foi a debate para se dedicar em exclusivo aos ataques a António Costa.

Apostado em vincar a diferença e já a ensaiar um discurso de oposição, que importa manter caso o resultado das eleições seja favorável ao PS e lhe permita uma maioria sem precisar dos comunistas, João Oliveira atacou António Costa por três vezes.

Lembrou a noite das eleições de 2015 quando Costa chegou a dar os parabéns a Passos Coelho e a Paulo Portas pela vitória, “mandando a toalha ao chão”, e criticou os governos de maioria absoluta que António Costa já vai pedindo sem qualquer reserva “as vidas das pessoas com governos de maioria absoluta são o mais instáveis possíveis”.

Insistindo nas críticas ao PS, João Oliveira fez questão de repetir que só a CDU garante “respostas aos problemas” e que mesmo o crescimento do país na legislatura anterior se devem “às medidas arrancadas a ferros ao PS”. Olhando ao detalhe, além do autoelogio nesta crítica ao governo de Costa cabe também um elogio ao parceiro de geringonça Bloco de Esquerda.

Francisco Rodrigues dos Santos. À desfilada a bater na cabeça de Costa e Rio

Ataques a António Costa: 9 
Ataques a Rui Rio: 4
Ataques a Catarina Martins: 2
Ataques a João Oliveira: 2
Ataques a Inês Sousa Real: 3
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 2
Ataques a Rui Tavares: 0

Francisco Rodrigues dos Santos entrou — como o próprio diria num jargão à Colégio Militar — à desfilada no debate. Ainda não estava a falar há dez segundos quando iniciou o primeiro ataque a António Costa, quando lhe disse que se vai sair se perder as legislativas “era bom que trouxesse Pedro Nuno Santos para estes debates”, que filiou como membro da “ala bolchevique do PS”.

Atacou depois Costa com tudo o que podia: a promessa falhada de médicos de família, o ministro da Educação que disse que um aluno do público gasta mais do que no privado, a responsabilidade no inverno demográfico ou, mais indiretamente o PS pelo “atraso económico do país”. Quando secretário-geral do PS falou em “continuar a fazer o país crescer”, interrompeu com um aparte em tom irónico e entre sorrisos: “Continuar, ahahaha, continuar, ahahahha…”

O mais atacado a seguir a Costa é com quem disputa eleitorado: Rui Rio. Mas também aí, o maior ataque é pela proximidade a Costa. Falou no “Bloco central de interesses”, visando ao mesmo tempo Rio e Costa, mas também avisou que o “voto no PSD ir parar ao bolso de António Costa”. Atirando novamente ao PSD, juntando-lhe a IL, disse que era o único partido de direita que recusa acordos com o PAN. E do PAN já se sabe o que se pensa: insistiu em chamar ao partido ditatorial com aquilo que quer impor ao mundo rural.

A esquerda também teve os seus mimos por não permitir ao português anónimo (pobre), que ficcionou, o “Manuel”, escolher um hospital ou uma escola privada financiado pelo Estado. Aquilo a que também chamaria de “país de Costa, Jerónimo, Catarina e, a espaços, de Inês Sousa Real”, o mesmo “onde trabalhar não compensa”.

Para a IL e Chega as acusações que tem repetido: o partido de Cotrim Figueiredo é aquele que tem “agenda igual à do Bloco de Esquerda”; e o partido de André Ventura foi colado ao “fanatismo”.

Inês Sousa Real. Nem ao ataque, nem à defesa e sem explicar afinal se prefere Costa ou Rio

Ataques a António Costa: 1
Ataques a Rui Rio: 2
Ataques a Catarina Martins: 1
Ataques a João Oliveira: 1
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 1
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 1,5
Ataques a Rui Tavares: 0

A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, foi contida nos ataques dirigidos aos seus adversários, acabando assim a ser igual a si mesma. Sem surpresas, não entrou em despiques nem foi praticamente chamada à conversa durante o frente a frente de duas horas. Mas foi João Cotrim de Figueiredo o alvo escolhido pela cabeça de lista por Lisboa, já na sua segunda intervenção da noite. “É curioso ouvir a Iniciativa Liberal dizer aqui, e cito, que devemos subir na vida a trabalhar. Mas recordo que, de quem está em situação de pobreza, 30% trabalha e é pobre” – um ataque que rapidamente entrou por um ouvido de Cotrim de Figueiredo e saiu pelo outro à mesma velocidade.

Inês Sousa Real manteve-se fiel nas suas intervenções, ao reclamar para si “várias causas” trazidas pelo PAN “para a agenda”, como o caso da lei de bases do clima, a igualdade de género ou o acesso à habitação jovem. Mas foi quando falou da proposta do seu partido para o fim dos estágios não remunerados que a líder apontou a mira a praticamente todos os adversários ali presentes – seria assim o segundo ataque da noite. Reclamou que “a Assembleia da República não permitiu” que essa iniciativa “subisse ao plenário” nesta legislatura, ressalvando contudo que a IL se absteve na votação. Um ataque para todos (exceção feita ao Livre) e meio ataque para o partido de Cotrim de Figueiredo.

Neste frente a frente a nove, houve também tempo para falar sobre política fiscal e defender o desdobramento dos escalões e ainda uma redução na incidência da taxa, que “deve ser feita entre o terceiro e o sexto escalão e não apenas no terceiro e sexto escalão”. Mas foi no tema da tauromaquia que a porta-voz do PAN tentou puxar dos galões, desta vez contra Rui Rio – ainda que num tímido ataque.

Antes disso, garantiu que retomar apoios a essa atividade, sejam diretos ou indiretos, “é sem dúvida uma linha vermelha”, mas não foi clara sobre se não alinharia num governo PS ou PSD caso o partido em questão não quisesse proibir as touradas. E foi então que Sousa Real chamou o líder social-democrata para a conversa. “Ainda hoje Rui Rio veio falar no apoio à tauromaquia, esquecendo-se de que no Norte não há tauromaquia, não há tradição tauromáquica”, apontou a líder do PAN, que logo de seguida ouviu ecoar um “não é verdade” de Cotrim de Figueiredo, que acrescentou que Inês Sousa Real “não conhece o país”. De Rio, interesse nulo em responder à adversária.

Inês Sousa Real não alinhou de resto nos muitos ataques feitos ao socialista António Costa pelos restantes líderes, continuando assim na estratégia de deixar a porta aberta a eventuais coligações pós-eleitorais, tanto com António Costa como com Rui Rio. Aliás, a líder do PAN até foi questionada sobre qual dos dois, afinal, prefere. Se Inês Sousa Real tem dois amores, não tem dito de qual gosta mais, e hoje não foi exceção. “A coligação que o PAN quer fazer é com o país”, desconversou, ao mesmo tempo que, perante a insistência na pergunta, afirmou apenas que o PAN “constrói pontes e não muros”. Voltou ainda a rejeitar o apelo ao voto útil ao afirmar que uma “maioria absoluta ou um bloco central não servem os interesses” do país e garantiu: “Quem respeita os animais vai votar PAN nestas eleições”.

André Ventura. Quando um debate a nove trava a estratégia de um frente a frente

Ataques a António Costa: 4
Ataques a Rui Rio : 3
Ataques a Catarina Martins: 2
Ataques a João Oliveira: 0
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 1
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Habituado ao confronto, ao bate-boca e a uma tática em que tenta controlar os debates (e os adversário) pelo tom aceso, André Ventura não fica tão à vontade quando se depara com um debate a nove, com um cronómetro mais certeiro e em que não tem hipótese de defesa direta e imediata. Talvez por isso tenha tido um discurso mais virado para as propostas do Chega e não tanto para os ataques — praticamente impossíveis de contar em alguns frente a frente, tal foi a cacofonia.

Ainda assim e com o aproximar do dia das eleições, a questão repete-se: André Ventura está ou não disponível para viabilizar um governo de direita? Depois de várias contradições em vários dias, Ventura tentou ser claro sobre o que fará no dia seguinte às eleições: caso o Chega consiga 7% dos votos, a hipótese que existe de viabilizar uma maioria à direita é com presença do Governo. Se houver outros cenários ou premissas em cima da mesa no dia 31 de janeiro, Ventura não se compromete e coloca o ónus no PSD. Até porque há o fantasma dos Açores, que não esquece, não repete e fez questão de o recordar no debate.

No tema da saúde encontrou a possibilidade de lançar as maiores críticas à esquerda, ao ter acusado António Costa de se “sentar no sofá” relativamente às questões do SNS. E o mesmo mote serviu para o ataque a Catarina Martins, numa altura em que defendeu todos os que estavam sentados à direita: “Quem ouvir Catarina Martins pensa que fomos nós os quatro (PSD, CDS, IL e Chega) a aprovar os últimos seis Orçamentos do Estado.” No minuto final, a bandeira da corrupção voltou a ser levantada e, sem referência ao PS, um dedo apontado a José Sócrates, mas também a João Rendeiro e Ricardo Salgado.

João Cotrim Figueiredo. Atirar contra Costa até não dar mais

Ataques a António Costa: 12
Ataques a Rui Rio : 1,5
Ataques a Catarina Martins: 2
Ataques a João Oliveira: 2
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 1
Ataques a Inês Sousa Real: 2
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a Rui Tavares: 1

Nem Chega, nem PAN, nem BE, nem PCP, nem Livre. E muito menos os desejáveis parceiros PSD e CDS. Cotrim Figueiredo foi para o debate de esta segunda-feira na RTP com um só alvo na mira: a prosperidade que o PS de António Costa e seus antecessores não souberam gerar. Para um partido que não se diz de esquerda nem de direita — mas que nos impostos foi empurrado para a direita radical por Rui Tavares —, a “guerra cultural” e de valores não importa. O que importa é outra coisa: como dizia em 1992 o norte-americano James Carville (curiosamente um Democrata, estratega de Bill Clinton), it’s the economy, stupid.

A Iniciativa Liberal foi um dos grandes alvos de Tavares e do Livre, mas Cotrim preferiu a defesa das suas propostas e programa eleitoral ao contra-ataque. Ataques só por iniciativa própria, esporadicamente aos restantes — à esquerda que diz que não sabe pôr a economia a crescer, a todos sem exceção por não terem apoiado a privatização da TAP em 2020 —, mas quase sempre a um PS de que Cotrim já dissera na véspera não querer ser “alternância”, mas verdadeira “alternativa”. Só não se demorou, ao contrário de Francisco Rodrigues dos Santos, na defesa da inutilidade de outro grande adversário da IL nestas eleições: o voto útil (contra o PS) em Rio.

Logo à primeira intervenção Cotrim foi buscar os esqueletos ao armário socialista e lembrou Sócrates, que dez dias antes da vinda da troika pedia o mesmo que Costa agora: “estabilidade”. Procurou isolar o PS, dando a entender que não se entenderá com ninguém. Piscou o olho ao PSD, mas alertando que este precisa do “espírito reformista” da IL. Tentou fazer vingar a ideia de que as suas ideias resultam na Europa abonada. E acabou a apropriar-se da defesa da privatização da TAP, empresa que hoje ninguém quis defender por livre iniciativa, lembrando uma proposta da IL que foi chumbada por esquerda e Chega e não recebeu o voto a favor (abstiveram-se) daqueles com quem disputa eleitorado e que hoje a querem privatizar assim que possível: PSD e CDS.

Rui Tavares. A fé numa nova geringonça à esquerda

Ataques a António Costa: 1
Ataques a Rui Rio: 1
Ataques a Catarina Martins: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Francisco Rodrigues dos Santos: 0
Ataques a João Cotrim Figueiredo: 3
Ataques a André Ventura: 0
Ataques a João Oliveira: 0

Rui Tavares continua a acreditar na geringonça à esquerda e tentou dar uma aula a Cotrim Figueiredo
Quando todos parecem ter desistido — menos o PAN que continua a dizer-se disponível para PS ou PSD — Rui Tavares voltou a acenar com o lenço da paz à esquerda, para que não se perca o foco numa solução governativa, de papel assinado, entre os partidos de esquerda “o mais alargada possível” e a porta não se feche.

Ainda que a grande maioria dos ataques tenha sido mesmo dirigida a Cotrim Figueiredo, numa rajada, o líder do Iniciativa Liberal que teve que ouvir o candidato do Livre a desmontar grande parte das propostas que o partido tem para o país, Rui Tavares deixou ainda para o último minuto o derradeiro ataque a Rui Rio e António Costa, com receio de um bloco central: “a convergência de Costa e Rio não chega [para resolver os problemas do país]”.

E como é com as pontes à esquerda que o Livre quer estar ao longo da próxima legislatura a estratégia passou mesmo por fazer qualquer ataque ao Bloco de Esquerda (com quem até disse concordar totalmente numa das intervenções de Catarina Martins na área da saúde), ao PCP ou mesmo ao PAN. A ecogeringonça tem mesmo pernas para a andar com o Livre e Rui Tavares insiste na ideia, mas para já ficou sem resposta de Costa.

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