“No vax, no food” — ou seja, “sem vacina, sem comida” — é a teoria que anda a ser espalhada por utilizadores de várias redes sociais, relativamente à política de ajuda de emergência à população na Ucrânia, durante a invasão russa.

No Facebook, uma publicação partilhada a 7 de maio mostra um screenshot de uma mensagem partilhada no Telegram com o link de uma suposta notícia que detalha a política de financiamento às pessoas mais afetadas pela guerra no país. Esta é uma de muitas publicações que partilham a teoria “no vax, no food”.

Mensagem no Telegram "no vax, no food" na Ucrânia

Mensagem partilhada no Telegram sobre a teoria “no vax, no food” em torno das ajudas de emergência disponibilizadas na Ucrânia

Na mensagem, pode ler-se que “o governo ucraniano anuncia pagamentos de emergência para os que estão a sofrer com a guerra” mas que esses pagamentos estão limitados a pessoas que tiverem “as duas doses da vacina” contra a Covid-19. Além disto, esta ajuda, que teria o objetivo de ajudar as pessoas mais afetadas pela guerra a comprar bens essenciais, só seria feita “através de um novo sistema de moedas digitais”.

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A mensagem remata com: “A verdade vem sempre ao de cima. Agora conseguimos ver a realidade deste conflito.”

Esta publicação não é a primeira que alega que apenas os cidadãos vacinados contra a Covid-19 estão a ter acesso à ajuda de emergência anunciada pelo Governo ucraniano. Outras partilham um vídeo com o anúncio do primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal a apresentar o plano de apoio do governo ucraniano.

Governo ucraniano anuncia “pagamentos únicos” para os mais afetados pela guerra

A 6 de março, o chefe de governo ucraniano anunciou o plano para a “transição para economia de guerra” e “pagamentos únicos para aqueles que perderam o emprego”. De acordo com a versão em inglês do anúncio oficial, Shmyhal explica que, “com este programa, cada funcionário, cada empresário que perdeu o seu trabalho durante a guerra terá direito a um pagamento de 200 euros”. No anúncio, o primeiro-ministro ucraniano revelava que este programa de ajuda social ia funcionar de “forma semelhante aos pagamentos pela vacinação” contra a Covid-19, com a ajuda da aplicação Diia.

Foi esta citação que levou à explosão da teoria “no vax, no food”, segundo a qual apenas os cidadãos completamente vacinados contra Covid-19 teriam direito à ajuda de emergência do governo ucraniano.

Vamos por partes. A aplicação digital Diia existe de facto e, de acordo com o portal oficial do governo ucraniano, tem como objetivo tornar “100% dos serviços públicos disponíveis online”. A aplicação tem mais de 3,6 milhões de utilizadores e disponibiliza mais de 50 serviços governamentais online, incluindo o acesso a documentos como o cartão de cidadão, o passaporte, cartão de estudante, carta de condução e certificado de nascimento.

A aplicação Diia é também usada pelo Governo ucraniano para oferecer incentivos à população que receba as duas doses da vacina contra a Covid-19, na ordem dos 30 euros. O programa acabou por ser suspenso em abril de 2022, já depois da invasão russa da Ucrânia.

Apesar disto, se consultarmos o discurso na íntegra do primeiro-ministro ucraniano no dia 6 de março, é possível compreender que Denys Shmyhal estava a explicar que este apoio de emergência a desempregados podia ser pago através da mesma aplicação que pagou os incentivos à vacinação, a Diia. Que é a aplicação que tenta concentrar uma larga maioria de serviços governamentais na mesma plataforma online.

Ao analisar o discurso na íntegra, podemos verificar que não há qualquer referência à obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19 para ter direito à ajuda financeira do governo ucraniano.

Ainda antes, um anúncio na página da presidência da Ucrânia esclarece que não há requisitos de vacinação para os destinatários da ajuda financeira. No comunicado pode ler-se que “cada cidadão da Ucrânia que a Rússia impediu a oportunidade de trabalhar vai receber 200 euros, sem quaisquer condições”.

Conclusão

As publicações que acusam o governo ucraniano de fazer depender a atribuição da ajuda de emergência durante a guerra às vacinas contra a Covid-19 estão a distorcer as palavras do primeiro-ministro do país.

A teoria “No vax, no food” apenas existe nas redes sociais. Denys Shmyhal explica que o pagamento de emergência na ordem de 200 euros a pessoas que perderam o emprego durante a guerra seria feito através da aplicação Diia, que disponibiliza 50 serviços governamentais online, incluindo o pagamento de incentivos à vacinação contra a Covid-19, na ordem de 30 euros.

Tirando o método de pagamento semelhante, não há qualquer referência à obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19 para ter direito à ajuda financeira do governo ucraniano. 

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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