Confesso que, até às comemorações da revolução de 1974 que tiveram lugar este ano, nunca me tinha apercebido da enorme similaridade entre o 25 de Abril e o 25 de Dezembro. A diferença entre os dois eventos é mesmo muito subtil. Se, por um lado, o Natal é quando um homem quiser, por outro, depois da polémica em torno da presença da Iniciativa Liberal no desfile na Avenida da Liberdade, pelos vistos o 25 de Abril é onde um qualquer homem novo, daqueles que o Che Guevara tinha imensa vontade de criar, quiser.

Ou pelo menos era, que a Iniciativa Liberal lá acabou por também desfilar na Avenida da Liberdade, apesar da comissão promotora das festividades do 25 de Abril não ter convidado o partido para o desfile oficial. Disse a tal comissão que a participação da IL não era possível devido à “situação de excepcionalidade e de limitações relacionadas com a saúde pública que vivemos”. Houve quem se indignasse com esta justificação, referindo que a COVID era uma péssima desculpa, para mais tratando-se de um evento ao ar livre. Só que a dita comissão não estava sequer a pensar no coronavírus. Nada disso. Quando a comissão referiu “saúde pública” tinha em mente, de facto, uma questão sanitária, mas era apenas o nojo que lhe mete qualquer agremiação política à direita do Partido Socialista. Não era a COVID. Era só o asco.

Por falar em PS, saudade dos tempos em que António Guterres declarava a sua paixão pela educação. Bons tempos, esses. A que sucederam os tempos de José Sócrates, de quem António Costa é digno sucessor no que à paixão pela falta de educação diz respeito. Desta vez, em Valença, o primeiro-ministro deixou um trabalhador das Infraestruturas de Portugal, que o tentava interpelar, a falar sozinho. É provável que o raciocínio de Costa tenha sido o seguinte: “Hum, este indivíduo desagradável é bastante mais jovem e encorpado que aquele idoso que eu tentei agredir na campanha eleitoral. Desta feita, talvez seja mais ajuizado pôr-me ao fresco”. E vai daí chamou o Presidente do Conselho de Administração da empresa para tomar conta da ocorrência.

Mas quem acabou por aparecer foi Pedro Nuno Santos. Que, diga-se de passagem, não teve muito mais êxito a acalmar os ânimos do manifestante. Isto apesar de ter garantido, impante, “Faço mais do que qualquer um já fez nestas funções”, o novo Fontes Pereira de Melo. Ou talvez, dado o costumeiro estado de exaltação de Pedro Nuno, o Estão Sempre A Latejar-lhes As Fontes Pereira de Melo. Mas, atenção. Este Ministro das Infraestruturas faz, de facto, mais do que qualquer outro. Basta ver esta inauguração da nova linha de comboio, agora totalmente electrificada, entre Viana do Castelo e Valença. Quer dizer, totalmente electrificada é como quem diz. A obra devia ter sido concluída em 2019, mas na verdade ainda não está acabada. Mas falta só mesmo a sinalização electrónica. De resto está tudo prontinho. E também, qual é o drama de não haver um sistema de sinalização em termos? Qual é o problema dos chefes de estação continuarem a comunicar uns com os outros por sinais de fumo, de cada vez que vem lá um comboio? Nenhum. E até é pitoresco, para os turistas. Aliás, ouvi dizer que o que António Costa e Pedro Nuno Santos foram fazer ao Minho foi mesmo levar um pacote de acendalhas, para os funcionários da CP atearem mais facilmente os lumes.

Acendalhas essas que terão sobrado da fogueira que fizeram lá no PS para chamuscar o sacrílego, Sérgio Sousa Pinto, que teve o desplante de aceitar pontificar num evento do Movimento Europa e Liberdade, onde pontificará também André Ventura. Ui, gravíssimo. É que “Movimento” o PS aprecia e muito, nomeadamente aquelas movimentações com vista a pejar tudo quanto é lugar na função pública com familiares, amigos, amigos de familiares, familiares de amigos e amigos de amigos.  “Europa” tudo bem, para mais enquanto as tetinhas frugais providenciarem sustento para o continuado saque socialista. Agora, “Liberdade”? “Liberdade”?! É torrar já esse herege, camaradas.

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