Gosto muito de ver aqueles grupos de adolescentes que, antes ou depois dos concertos dos seus ídolos nesses festivais rock que hoje em dia há em todo o lado, são entrevistadas pela televisão e cantam as músicas favoritas deles. Naquelas idades, a experiência da música é muito a experiência da repetição e, sobretudo, a experiência de uma comunidade de gosto que é quase uma exigência de unanimidade, que, de uma maneira geral, governa as amizades nessa altura. E aquele entusiasmo que se vê naquelas caras e naquelas vozes diz precisamente isso nos seus momentos felizes.

Com a idade, essa exigência de unanimidade vai-se, graças a Deus, perdendo, embora subsista sempre em nós, em matéria de gosto, uma reivindicação tácita de universalidade, que aprendemos, pelo menos na aparência, a dominar. Noutros domínios, como o político, a exigência de unanimidade é mais superficial, menos originária, e mais facilmente controlável. E, quando não o é, o feroz desejo de um acordo integral conduz a resultados que não são nunca bons, para falar delicadamente.

O meu desconhecimento da música pop contemporânea roça desgraçadamente o absoluto, embora de vez em quando faça um esforço ridículo para ganhar alguma ciência no capítulo. De qualquer maneira, isso não interessa. Li no outro dia, numa história da música soul, o excerto de uma entrevista de uma cantora gospel (gosto muito de música gospel), Cissy Houston (a mãe de Whitney Houston), onde ela dizia que “quando se fala sobre uma coisa viva – e eu acredito que a música é uma coisa viva, que respira – temos de compreender que ela avançará e mudar-se-á para sobreviver”. A música pop de hoje em dia, sobre a qual nada sei, passado há muito o transcendente saber dos meus treze anos, é certamente o resultado dessas metamorfoses necessárias à sua sobrevivência. As formas desenvolvem-se, sem que seja por qualquer necessidade própria determinável, mas a partir de invenções de profundidade variável, umas a partir das outras. O importante é que dêem prazer.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.