Nesta altura muitos jovens estão prestes a candidatar-se ao ensino superior. Depois de muitos anos de investimento na sua formação, muitas famílias interrogam-se sobre qual será o curso que garantirá um melhor futuro. O investimento na educação dos filhos é, a par do investimento em habitação, o maior investimento das famílias ao longo da sua vida. Um professor, economista, quando olha para os alunos que tem à sua frente na sala de aula (ou para os seus filhos!) não consegue deixar de pensar no valor do investimento que tem à sua frente. Uma parte desse investimento é o tempo dedicado pelos pais à sua criação e educação: desde os 9 meses na barriga da mãe, aos primeiros anos da alimentação do bebé e todos os cuidados para garantir o seu crescimento saudável, até aos transportes diários para a escola, em muitos casos o pagamento dessa escola e de explicações, e todas as atividades extracurriculares.

Só neste século a grande maioria das famílias portuguesas apostou verdadeiramente na educação. Na minha geração, nascida nos anos 1970, apenas uma minoria das famílias percebia os benefícios de estudar – apenas cerca de 30% dos jovens estudaram além do 9º ano. Também apenas uma minoria tinha meios para financiar os estudos dos filhos. Ou seja, a maioria das famílias tinha dúvidas das vantagens de estudar ou não tinha condições económicas para o fazer. Naquela altura, para além da falta de informação sobre os benefícios de estudar, as empresas portuguesas eram sedentas de trabalho jovem e pouco qualificado, isto é, trabalho barato. Garantir mão-de-obra barata para a indústria e construção civil foi provavelmente o grande motivo para que se adiasse o aumento da escolaridade obrigatória do 9º para o 12º ano, que só viria a acontecer em 2009. O outro motivo terá sido a pressão das instituições de ensino superior, que viram no alargamento da escolaridade obrigatória uma forma de aumentarem a procura dos seus cursos, numa altura em que se começavam a sentir os efeitos negativos da queda da taxa de natalidade. O aumento da escolaridade obrigatória foi uma reforma estrutural, que permitiu que a taxa de abandono escolar caísse de cerca de 30% em 2010 para 6% em 2022, um valor bastante inferior à média da União Europeia (9,6%). Foi também aquela mudança que permitiu que hoje mais de 50% dos jovens de 20 anos estejam matriculados num curso superior.

No entanto, a publicação do relatório anual da Fundação José Neves (FJN), Estado da Nação – Educação, Emprego e Competências em Portugal 2023, veio levantar questões muito importantes sobre o retorno do enorme investimento que as famílias portuguesas têm feito em educação. O relatório da FJN mostra que a diferença entre o salário médio de um jovem adulto com um curso superior e com o ensino secundário diminuiu de 50% em 2011 para 27% em 2022. Este resultado é em parte esperado e explicado pelo enorme aumento do número de diplomados que chegaram ao mercado, o que reduz o seu valor relativo. No entanto, há um dado mais preocupante naquele relatório: entre 2011 e 2022, o salário real médio dos trabalhadores com ensino superior diminuiu 13%.

Tendo em conta estes dados, valerá a pena as famílias continuarem a fazer um enorme investimento em educação? Antes de respondermos a esta questão é importante termos presentes alguns factos sobre a inserção dos trabalhadores diplomados no mercado de trabalho.

Em primeiro lugar, é importante salientar que os dados mostram que, apesar da diferença de salário entre trabalhadores com diploma do ensino superior e os trabalhadores com apenas o ensino secundário ter diminuído, continua a existir uma vantagem salarial significativa para aqueles que prosseguiram os seus estudos para além do 12º ano. Em segundo lugar, os dados apresentados pela FJN são valores médios para os licenciados, isto é, não distinguem entre cursos e instituições. Como sabemos, existem diferenças muito significativas entre áreas de estudo e também entre instituições na empregabilidade e nas condições salariais. Por exemplo, as áreas das Ciências, Tecnologias, Engenharia e Matemática (CTEM) têm maior procura, dando melhores perspetivas de empregabilidade e salariais. Assim, é cada vez mais importante dar informação detalhada às famílias sobre a empregabilidade e sobre os salários dos diplomados por curso e instituição. Em terceiro lugar, o relatório da FJN confirma os resultados de outros estudos em relação à existência de um desajustamento entre as qualificações oferecidas e a procura de qualificações pelas empresas, indicando que mais de 20% dos jovens trabalhadores têm qualificações superiores às exigidas pela sua ocupação. Este dado mostra mais uma vez a necessidade de alinhar a oferta formativa com as necessidades da economia. O relatório da FJN alerta também para a importância das competências que são obtidas ao longo dos ciclos de estudos, salientando a importância das competências digitais: em 2022, 66% das ofertas de emprego pediam pelo menos uma competência digital. Concluindo, o investimento em educação pode ter um retorno muito baixo quando as competências adquiridas estão desligadas da procura do mercado. É fundamental ir alinhando a oferta com a procura e melhorar a comunicação entre instituições de ensino, famílias e empresas.

Mais uma vez, como no caso dos rankings das escolas, é fundamental promover a transparência sobre as competências e a futura empregabilidade dos cursos. Como no caso dos rankings das escolas, esta informação é ainda mais importante para as famílias de rendimentos mais baixos, que são aquelas cujo esforço é maior para que os seus filhos completem um curso superior. O investimento em educação continua a ser o melhor caminho para alcançar níveis de bem-estar mais elevados no futuro. No entanto, temos de melhorar o sistema de ensino e o funcionamento do mercado de trabalho para conseguirmos retirar mais benefícios desse investimento para as famílias, para as regiões e para o país.

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