Recentemente tive oportunidade de trocar algumas impressões sobre o rendimento da cultura do trigo com um dos melhores economistas portugueses (que à semelhança de outros colegas lecciona e investiga numa universidade estrangeira), também distinguido pelas suas contribuições para a macroeconomia na Europa e cujos artigos de divulgação muito aprecio.

Acontece que o distinto académico considerou que em França se têm registado aumentos de rendimento superiores aos alcançados em Portugal Continental, o que atribuiu a uma melhoria tecnológica. Mas, na verdade, estamos a comparar o rendimento da mesma cultura (trigo) em dois países com climas completamente diferentes.

O clima mediterrânico, na nossa variante atlântica (situação quase única na Europa), com chuvas concentradas no Inverno, não proporciona condições favoráveis à cultura do trigo, cujo ciclo tem a duração de 5 a 6 meses. Diferente é a situação no Norte da Europa, a melhor região do Mundo para a cultura em apreço: por um lado sem chuvas excessivas no inverno e com temperaturas baixas que proporcionam uma boa vernalização, e, por outro, com chuvas no verão, que mantém a humidade do solo, e dias longos que aumentam a fotosíntese, de modo que a fase de frutificação é longa, tendo assim o trigo um ciclo com a duração de 10 meses (Feio, 1991).

O que precede vem ao encontro dos que defendem uma ampla expansão da área de regadio em Portugal, que nos permita tirar partido do nosso clima e melhor enfrentar as alterações climáticas, nomeadamente secas extremas e ondas de calor. Mais regadio permite-nos aumentar especialmente as áreas dedicadas às culturas de frutas e hortícolas, onde somos altamente competitivos no espaço europeu, e igualmente também para outras culturas competitivas, com relevo para as nossas duas principais – olival e vinha – e ainda para os cereais para grão, com destaque para o milho e o arroz.

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Só ampliando a área de regadio será possível reduzir o défice da balança comercial de produtos agrícolas e agroalimentares que (exceptuando as bebidas) elevou-se a 5,2 mil milhões de euros em 2022.

Apesar do que precede, não podemos ignorar que, na próspera União Europeia, emergiu uma corrente ambientalista radical que advoga o regresso ao passado (que, entre nós, foi caracterizado pela subnutrição, que bem conheci nos anos pós-II Grande Guerra) obrigando designadamente: (i) a colocar 25% das terras agrícolas em modo de produção biológico (conducente a baixas produtividades e elevados preços ao consumidor) e a (ii) reduzir o uso de factores de produção, nomeadamente produtos fitofarmacêuticos e adubos (pondo em causa a viabilidade económica de diversas culturas, como, por exemplo, o milho-grão e o tomate para indústria, e causando enormes perdas de rentabilidade na generalidade das culturas).

Ainda a propósito do regadio, alguns radicais pretendem restabelecer na UE o curso natural dos rios e rever as licenças de empresamento de águas. Ou seja, eliminar tanto quanto possível as barragens, o que no caso português representaria um desastre. Não me refiro já só à importância estratégica que as mesmas representam para a expansão da área de regadio, mas também para o abastecimento da população. Como seria hoje, por exemplo, o abastecimento a cerca de três milhões de habitantes, de Leiria a Lisboa, se não tivesse sido construída a barragem hidroeléctrica de Castelo de Bode em 1951 e, em 1987, direccionada a água para o abastecimento de Lisboa, representando cerca de 60% do total da água consumida?

A terminar, cito outro exemplo, actualmente em discussão pública na UE, que alegadamente visa proporcionar mais bem-estar às aves, mas que na realidade conduzirá a um aumento substancial dos custos de produção e terá também um enorme impacto negativo em termos de sustentabilidade ambiental.

No momento em que o Governo português alivia os consumidores, dispensado a cobrança de IVA (6%), há quem proponha uma solução que conduziria a um preço mais do dobro do que é actualmente pago pelos consumidores de carne de frango – a proteína animal mais consumida pelos Portugueses. Ademais a proposta em discussão exclui a possibilidade de se criarem os frangos tenros tradicionalmente consumidos em Portugal, geralmente grelhados, pois obrigaria à criação de aves de crescimento lento, também com impacto ambiental negativo, pois exigem o cultivo de mais terra e o consumo de mais água por quilo de carne produzida.

Importa estar atento, caro leitor, e verificar quais os Eurodeputados Portugueses cujo sentido do voto está de acordo com a sua opinião, para assim poder votar em plena consciência.