É um dos meus momentos preferidos do Verão. Todos os anos, num sábado de Agosto, dois primos nomeados no ano anterior organizam uma reunião de primos na terra dos avós, bisavós e assim sucessivamente. Obrigamo-nos, assim, uns aos outros a regressar a Monfortinho, onde tantos já não têm família directa, mas onde guardam ainda muitas memórias e uma grande raiz familiar. Somos sempre muitos, não contando com os ausentes – a minha avó tinha mais de 20 primos direitos e as respectivas descendências estendem-se largamente. É também aí que voltamos a encontrar a família emigrante, alguns deles já nascidos noutras paragens, filhos de gente que saiu do país com 15 ou 16 anos para trabalhar, e vamos, naturalmente, vendo os mais novos crescer.

Um dos mais novos nasceu e vive na Holanda. Faz 14 anos em breve. Naqueles dias que se seguiram à reunião familiar, entre mergulhos de piscina, imperiais, gelados e passeios de gaivota, soubemos que o rapaz andava ansioso pelo aniversário. A razão era simples: com 14 anos feitos, podia juntar-se aos seus amigos que já tinham atingido a idade legal para trabalhar na Holanda e começar a prestar serviço quatro horas em cada sábado num supermercado da cidade onde vive. Ia continuar a estudar, mas o trabalho ia permitir-lhe ganhar algum dinheiro, contribuir para as despesas da família, poupar e ainda lhe sobrava algum para gastos supérfluos da idade, poupando também os pais a essa despesa.

Não é um feito notável, diga-se. Poderá até parecê-lo para nós, num país onde a criançada aparentemente só pode ganhar dinheiro a trabalhar se estiver a gravar telenovelas, mas o entusiasmo do miúdo foi partilhado pela mãe, minha prima, com algum orgulho, é certo, mas também com uma naturalidade contagiante.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.