Quando somos pequenos ensinam-nos que os polícias são pessoas para quem devemos olhar com respeito e admiração. Hoje em dia até faz parte da integração na escola o contacto com agentes da PSP que integram o projeto “Escola Segura”. É um projeto em que os agentes da polícia assumem o papel de educadores, ensinando aos mais novos comportamentos cívicos. É, aliás, por ações como esta que as crianças atravessam quase sempre a fase do “quando for grande quero ser polícia!”

Ser polícia, aos olhos das crianças, é ser herói. Aos olhos de Jorge Fonseca também. Por isso quer ser polícia e aplicar toda a experiência acumulada, de criança que superou a pobreza e as dificuldades de atleta medalhado e consagrado mundialmente, para pôr tudo isto ao serviço da sociedade.

A PSP dá-se ao luxo de desperdiçar a disponibilidade de um dos nossos heróis olímpicos. Jorge Fonseca não só é um cidadão exemplar, como tem colada a si a imagem da determinação, da coragem, da cidadania e do amor a Portugal. Por cima disto tudo, é bicampeão mundial de judo e ganhou nos últimos dias a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos. O país todo vibrou com a conquista do atleta, com as suas lágrimas por os nervos não o terem deixado fazer melhor (sofreu uma cãibra que o impediu de ganhar a medalha de ouro) e finalmente com o seu carisma, pouco comum à maior parte dos portugueses. A pergunta é simples: há por aí algum polícia melhor do que o Jorge Fonseca?

Esta nega da polícia a Jorge Fonseca é tão estúpida, tão injusta e tão despropositada que, de cada vez que o campeão de judo fala nisso, normalmente no momento em que festeja novos títulos, sinto vergonha pelas nossas instituições. A começar nos responsáveis da PSP e a acabar no Presidente da República.

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Primeiro, Jorge Fonseca não podia entrar na polícia porque não tinha o 12º ano. O atleta tirou o 12º ano, ao mesmo tempo que continuou a ganhar títulos para Portugal, enfrentou um cancro e foi infetado com Covid. Agora, a desculpa prende-se com a idade. É isso mesmo, não se riam,  A PSP acha que Jorge Fonseca já está velhinho para ser polícia. O limite de entrada é aos 27 anos, diz a burocracia, e Jorge Fonseca já fez 28. Diz-se que a burocracia é o disfarce dos fracos e neste caso é bem verdade.

Já que as chefias da polícia são cegas, surdas e mudas, proponho que se suba a escada da hierarquia e alguém tenha o bom senso de recrutar o Jorge Fonseca para a polícia. Se não for para mais nada, que seja para o judoca ensinar coisas úteis aos nossos polícias. Está na altura de fazer um hippon ao sistema e ajudar a PSP a fazer a contratação do século.

Será que Primeiro-Ministro e Presidente da República, que foram tão lestos a louvar Jorge Fonseca, podem fazer alguma coisa por esta causa ou é preciso fazer uma petição popular?

Seríamos muitos a dizer que nos sentiríamos muito mais seguros se tivéssemos alguém como Jorge Fonseca a integrar os quadros da polícia.

Só para envergonhar ainda mais quem de direito. Nos jogos Olímpicos que terminaram no domingo em Tóquio, Itália foi campeã na estafeta masculina de 4X100 metros. Pelo menos dois dos atletas medalhados são polícias no seu país e o governo de Roma tem uma política de inclusão de atletas em forças policiais ou militares.

Se não o fazemos por nós, já que gostamos tanto de seguir o exemplo dos nossos parceiros europeus, ao menos façamo-lo para seguir os bons exemplos que nos chegam de fora.