As próximas presidenciais arriscam-se a ser um autêntico fiasco devido ao consenso que domina o debate político. O consenso é das maiores ameaças à democracia apesar de secretamente desejado pelos que dominam o regime, já que deixam de se esforçar. O PS e a extrema-esquerda são um espelho disso mesmo. O PSD silenciou-se, o CDS não se percebe e a Iniciativa Liberal, por enquanto, não vai além de Lisboa e do Porto. Já as tiradas inconsequentes de André Ventura não passam de uma justificação para o dito consenso. Pouco mais servem além de desviar as atenções e para não fazer frente aos verdadeiros desafios do país.

Menos de 10 anos depois da bancarrota a maioria da opinião publicada considera que não há alternativa a mais intervenção do estado. Depois de duas décadas a discutir a redução do défice das contas públicas e do endividamento do estado, concluiu-se que é preciso aumentar a despesa pública para salvar a economia. É evidente que algo vai correr mal. Boa parte do país está sem trabalho, perdeu as suas empresas e os seus negócios. A restante espera que seja verdadeira a promessa de Costa de não implementar a austeridade, ou seja, que não haja cortes nos salários, nas pensões e mais impostos e taxas. A partir de Setembro, com a discussão do orçamento de estado, veremos se Costa não lhes falha. No entanto, é evidente que algo vai correr mal. Entretanto, à direita, um silêncio apertado impera.

É este silêncio que não podemos aceitar nas presidenciais. Marcelo Rebelo de Sousa, além de fortemente comprometido com o passado do regime, empenhou-se a fundo com o governo PS. Mesmo que o PSD e o CDS o apoiem é necessária uma candidatura de direita, não socialista, não populista nem demagoga. Já o escrevi neste jornal e volto a repetir: Marcelo não é de direita e não se pode permitir que André Ventura preencha este espaço político. Uma candidatura de direita contra Marcelo e Ventura é importante não só para marcar posição. É indispensável porque esse candidato às presidenciais pode ser o futuro da direita portuguesa.

Para tal será preciso um bom discurso e um bom resultado. Mas um bom resultado perante um Marcelo apoiado pelo PS e por esta direcção do PSD não tem de ser substancial. Poderá ser superior ao de Ventura e próximo de um valor que seja digno de registo. O mais importante é que apresente um discurso diferente, que rompa com o dito consenso que atrofia a vida das pessoas e a própria democracia. Uma candidatura que não receie falar a favor das pessoas, da economia privada que estas constituem, e que se oponha ao definhamento da liberdade dos cidadãos perante um atrofiante poder estatal. O discurso de Ventura é fraco, limitado e, no seu tique oportunista, pouco difere do BE. O distanciamento social retira a Marcelo um dos seus poucos trunfos políticos. Desta forma uma candidatura de direita devidamente pensada e com um discurso fundamentado tem condições de ser bem-sucedida.

Depois do choque que foi a pandemia os próximos meses vão ser muito importantes. Não me cabe avançar nomes, mas não duvido que à direita há quem tenha ambição política e deseje pôr termo a este consenso perigoso. Uma candidatura presidencial é de cariz pessoal; não depende dos partidos, nem das suas direcções. Desta forma, as presidenciais de 2021 constituem uma oportunidade de ouro para que quem avance conduza os partidos de direita ao seu eleitorado tradicional. Ponha um ponto final no consenso e salve a democracia do retrocesso em que já se encontra a economia.

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