A Rui Rio, enquanto presidente do segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas, está cometido o papel de líder da oposição. Só que Rui Rio tem uma visão muito própria da forma de fazer oposição. Uma estratégia que decorre, segundo o próprio, de colocar o interesse nacional acima dos interesses partidários. Uma interpretação que não colhe junto de uma parte considerável do eleitorado, designadamente da família laranja ou alaranjada, que considera que a atitude de Rio está longe de servir o interesse nacional e apenas contribui para manter no poder um Governo de competência muito discutível.

É nessa linha de pensamento de Rui Rio que deverá ser analisada a sua pressão no sentido de António Costa proceder a uma remodelação governamental. Queixa-se o líder social-democrata de que “há um desgaste brutal e o relacionamento entre ministros não é o melhor” e, como tal, urge mexer no Governo, deixando a António Costa o direito de proceder às alterações que considerar necessárias.

Trata-se, obviamente, de mais um equívoco de Rui Rio. Na realidade, não é a mudança de um ou vários ministros que resolverá os problemas do Governo e o deixará em condições de resolver os problemas do país. A questão é mais profunda. Remonta ao início. À fase de constituição do Executivo.

Será que só Rui Rio não se apercebe que estamos perante um Governo formado tendo como base de recrutamento o círculo pessoal de António Costa? Um círculo de raio tão apertado que houve necessidade de atribuir pastas a amigos cujo perfil se revelava desajustado para as mesmas e, muito realisticamente, para quaisquer outras.

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Depois dessa escolha pessoal, as expectativas relativas ao funcionamento governamental teriam de ser baixas, malgrado o mediatismo proporcionado por uma comunicação social demasiado dócil. Ainda que não houvesse pandemia. Mesmo que os incêndios e outros fenómenos da natureza, tal como a capacidade de mobilização sindical do PCP, tivessem concedido tréguas.

A vida ensina que as capacidades não se adquirem por nomeação. A nomeação, essa sim, é que deverá decorrer das capacidades. O critério terá de passar pela meritocracia. Escolher os mais adequados para os cargos. A etimologia ensina que ministro é um conselheiro ou aquele que serve. Por isso, como é que pode ser ministro quem, pela estória de vida, não serve para aconselhar?

Face ao exposto, a mensagem de Rui Rio não pode passar por exigir uma simples remodelação governamental. O líder do PPD/PSD tem de denunciar publica e sistematicamente todos os atos que evidenciem a incompetência do atual Governo. Tem de explicar que não é pelo facto de o apelido do timoneiro atual ser Costa que Portugal está condenado a ser um barco que só navega com a costa à vista, mesmo com vento a soprar de feição. Tem de apontar um novo rumo e apresentar a estratégia para o atingir. Explicar como é que Portugal pode atingir o crescimento e de que forma este se transformará em desenvolvimento sustentável, tanto na dimensão social como na componente ambiental.

Talvez convenha a Rui Rio fazer uma breve analepse histórica. A forma mais rápida de perceber que o PPD/PSD é frequentemente chamado a formar Governo depois de o PS delapidar o erário público. Afinal, foi o partido cor-de-rosa que chamou o FMI por três vezes a Portugal.

A persistência no equívoco só contribuirá para que a situação se repita. Pode é demorar um pouco mais. O tempo de gastar os muitos milhões da bazuca.

Cabe a Rui Rio evitar o desperdício inútil dessa oportunidade. Essa, sim, é uma estratégia patriótica.