“O dr. Nuno Rebelo de Sousa” telefona.

“O dr. Nuno Rebelo de Sousa” contacta.

“O dr. Nuno Rebelo de Sousa” manda mails.

“O dr. Nuno Rebelo de Sousa” reúne com membros do Governo.

A fazer fé na estrambólica comunicação ao país do presidente da República Portuguesa Marcelo Rebelo de Sousa a única coisa que “o dr. Nuno Rebelo de Sousa” não faz é falar com o pai. Talvez a comunicação ficasse mais fluida se a família Rebelo de Sousa poupasse nos títulos académicos e muito prosaicamente Marcelo e Nuno se tratassem por pai e filho. E que estes falassem sobre o essencial, nomeadamente sobre o embaraço que “o dr. Nuno Rebelo de Sousa” criou ao pai! Tenho a certeza que essa conversa seria decisiva para o esclarecimento dos procedimentos usados para que duas irmãs brasileiras, filhas de um casal amigo do “dr. Nuno Rebelo de Sousa”, tivessem acesso ao SNS em Portugal e para o fim deste clima de farsa.

Mas sejamos justos: não é apenas Marcelo Rebelo de Sousa quem precisa de falar com “o dr. Nuno Rebelo de Sousa”. Nós todos, portugueses, lhe gostávamos de dar uma palavrinha. Não necessariamente uma palavrinha mas mais um apelo para que assuma as suas responsabilidades e livre o presidente da República Portuguesa desta constrangedora situação. (Por favor não o chame “professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa” que se a moda pega, na ceia de Natal temos de optar entre deixar de comer rabanadas ou tratarmo-nos com todos os títulos académicos a que temos direito!)

Já os portugueses, que além de portugueses são socialistas, esses têm muito mais para dizer ao “dr. Nuno”. Afinal devem-lhe um profundo e sentido obrigado pois graças aos empenhos do “dr. Nuno Rebelo de Sousa” conseguiu o PS que, no final do mandato de António Costa, as consequências desastrosas da sua acção governativa não passassem de umas simples notas de rodapé nas sessões contínuas de notícias dominadas pelo “caso das gémeas”, que é o mesmo que dizer dominadas pelo “dr. Nuno Rebelo de Sousa”.

Senão veja-se: os resultados dos alunos portugueses foram desastrosos nos testes PISA. Ou mais precisamente, as políticas educativas seguidas nos oito anos dos governos de António Costa inverteram um percurso de progressão. Perante este desastre, de consequências incontornáveis para os jovens de hoje, o que debateu o país? As andanças do “dr. Nuno”.

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No Hospital de Santa Maria, o mapa de Dezembro surge com vários dias em branco. Por outras palavras a urgência de obstetrícia do Santa Maria vai estar vários dias sem um único médico obstetra. Em Santarém, uma mulher grávida em trabalho de parto não foi aceite nas urgências do Hospital Distrital de Santarém porque o Serviço de Urgência/Ginecologia e o Bloco de Partos se encontravam encerrados. Isto, que outrora geraria escândalo, é agora uma fatalidade banal: os Serviços de Urgência de Ginecologia-Obstetrícia e Bloco de Partos do hospital de Santarém estiveram encerrados nos dias 7, 8, 9 e 10 deste mês. Voltarão a fechar a 21, 22, 23 e 24 de Dezembro. Em Janeiro as datas previstas de fecho já estão agendadas para os dias 4 , 5, 6, 7, 18, 19, 20 e 21. Num sinal do mundo orwelliano em que nos transformámos, a esta prova de obstáculos em que se transformou o acesso às urgências, nomeadamente às de obstetrícia, chama-se “Nascer em segurança no SNS”. Ninguém se indignou com o caso das grávidas do Santa Maria, nem do obstetra que ali fez urgência depois de mais de 21 horas de serviço noutro hospital porque o “dr. Nuno” teve a bondade nos prender a atenção com o seu frenesi de contactos.

João Costa na qualidade de apoiante de Pedro Nuno Santos à liderança do PS, veio defender a mesmíssima contagem integral do tempo de serviço dos professores que enquanto secretário de Estado e ministro da Educação nunca considerou possível. Mas nem André Pestana do sindicato Stop com o seu comentário “Isto já faz lembrar um bocado a ‘Black Friday’ eleitoral” foi suficiente para ofuscar o protagonismo do “dr Nuno”…

Agradecer ao “dr. Nuno” a forma como o ajudou a terminar o seu mandato sem perguntas incómodas é uma das primeiras coisas que António Costa deve fazer nesta nova fase da sua vida.