No passado dia 23, celebrou-se o terceiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, uma comemoração instituída pelo Papa Francisco que, desde o princípio do seu pontificado, tem realizado uma excelente catequese sobre os mais velhos, valorizando o seu papel na família e na sociedade, não só pela sua experiência de vida e sabedoria, mas também pela sua relevância na transmissão da fé.

Contra a cultura do descarte dos seres humanos que já perderam o vigor da idade adulta, Francisco, também ele ancião, sempre manifestou a sua gratidão pelos seus avós, dos quais recebeu, por via de seus pais, o dom da vida e a graça da fé católica.

No passado dia 23 de Julho, o Papa Francisco presidiu, na Basílica de São Pedro, à celebração eucarística comemorativa do 3º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que este ano teve por lema “De geração em geração, a sua misericórdia” (Lc 1, 50). Segundo a Vatican News, eram esperadas mais de seis mil pessoas para essa celebração, “entre as quais muitos idosos oriundos de toda a Itália: avós acompanhados pelos netos e famílias, idosos convidados de casas de repouso e residências de saúde, bem como muitas pessoas idosas envolvidas na vida paroquial, diocesana e associativa.

O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, pediu que todas as dioceses celebrassem este dia com uma Eucaristia especialmente dedicada aos mais velhos e aos avós. Também sugeriu que se visitassem, nas suas casas, aqueles que estejam sós, podendo assim ganhar, nas condições previstas pela Igreja, uma indulgência plenária.

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Este ano, o Papa quis associar esta celebração à já iminente Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a acontecer em Lisboa, na primeira semana de Agosto. Por isso, no final da celebração, cinco anciãos – representando os cinco continentes – entregaram “simbolicamente a Cruz do Peregrino das JMJ a cinco jovens que partem para Lisboa, significando a transmissão da fé de geração em geração. O gesto de envio pretende representar também o compromisso que os idosos e avós assumiram, a convite do Santo Padre, de rezar pelos jovens que partem e acompanhá-los com a sua bênção.

O Comité Organizador Local da JMJ de Lisboa associou-se ao convite do Papa Francisco, lançando duas iniciativas: promover uma rede de oração de avós e pessoas de idade, para acompanhar os jovens que vão estar em Lisboa; e convidar todos os participantes na JMJ a visitarem “os avós antes das Jornadas e a tirarem uma fotografia, ou a gravarem um vídeo, com eles.

O Dia Mundial dos Avós e dos Idosos foi instituído pelo Papa Francisco há já três anos e celebra-se na proximidade do dia 26 de Julho, memória litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e, portanto, avós de Jesus. Na realidade, os seus únicos avós em sentido próprio pois, não sendo Cristo biologicamente filho de José, também não era, portanto, neto dos pais do marido de Maria.

Apesar de Mateus e Lucas registarem, nos seus Evangelhos, duas genealogias de Jesus, a partir de Abraão e de Adão, respectivamente, nenhum dos quatro Evangelhos, ditos canónicos, menciona os nomes dos pais de Maria. Na realidade, esses dois evangelistas seguem apenas a chamada linha de varonia, ou masculina, com diferentes intuitos: enquanto Mateus, que escrevia sobretudo para os judeus, queria assim provar que Jesus, como competia ao Messias, descendia do Rei David (Mt 1, 1-17); Lucas, cujo público alvo eram os gentios, pretendia demonstrar que o filho de Maria era descendente de Adão e, portanto, membro de pleno direito do género humano, que veio salvar (Lc 3, 23-38). Por sua vez, Marcos e João, autores dos outros dois Evangelhos, omitem qualquer referência à ascendência de Jesus de Nazaré.

Não obstante esta omissão nos Evangelhos que a Igreja reconhece como divinamente inspirados e, portanto, palavra de Deus, foi possível colmatar essa lacuna por via da tradição e do recurso ao Proto-Evangelho de S. Tiago, ao Pseudo-Mateus e ao chamado Evangelho de Maria.

Estes textos, por contraposição com os textos canónicos, são geralmente referidos como apócrifos. Com este termo, a Igreja expressa que não lhes atribui o carácter inspirado dos Evangelhos, mas reconhece-lhes algum valor histórico, avalizado por dois mil anos de tradição cristã. Muitos destes textos são contemporâneos de Jesus e contém dados históricos, que a Igreja reconhece como válidos quando confirmados por fontes fidedignas. Como se refere na terceira edição da monumental obra sobre “Os Santos de cada dia”, do Padre José Leite, SJ, “o culto de Santa Ana e de S. Joaquim é antiquíssimo entre os Orientais, sobretudo, como o revelam S. Gregório Nisseno e Santo Epifânio, os hinos gregos e as homilias dos Santos Padres, que louvam extraordinariamente a bem-aventurada mãe da Virgem Maria.

A antiguidade do culto, sobretudo no Oriente, aos pais de Nossa Senhora, resulta também do facto de o Imperador Justiniano ter mandado construir, em Constantinopla, a meados do século VI, uma igreja em honra de Santa Ana. E, em 636, ano da tomada de Jerusalém pelos muçulmanos, já aí existia, junto à piscina probática, uma basílica em honra do nascimento de Maria, que a tradição afirma ter acontecido nesse lugar. Essa antiga basílica mariana foi depois magnificamente restaurada e “consta de três naves esplêndidas, que terminam em ábside. No altar-mór há uma estátua preciosa de Santa Ana ensinando a Sagrada Escritura à filha, recordação que inspirou muitos artistas”. Segundo o mesmo autor jesuíta, “no Ocidente, o culto de Santa Ana não é anterior ao século VIII. Num nicho da basílica de Santa Maria Antiga, no foro romano, há uma pintura do mesmo século, que representa três mães, cada uma com o seu filho: Santa Ana com a Virgem, Santa Isabel com S. João, e Maria com o Menino Jesus.

Embora vocacionadas para os jovens, a JMJ, enquanto celebração católica, deve expressar a universalidade da Igreja: todos os fiéis, quaisquer que sejam as suas idades e circunstâncias especiais, devem participar neste evento, senão com a sua presença e participação activa, pelo menos com a sua oração e acompanhamento espiritual, como decerto farão os mais velhos, os doentes, os reclusos e, entre outros, as religiosas de clausura.

Que o Papa Francisco a todos os jovens participantes na JMJ confirme na fé, sem esquecer os menos jovens que, nas suas casas, lares ou hospitais, estarão a rezar pelo Santo Padre e pelos frutos de evangelização desta Jornada Mundial da Juventude.