Rui Rio, que nunca resiste à tentação de querer parecer politicamente incorrecto, voltou esta semana a uma ideia que consegue a rara proeza de ser antiga e má. Ao apresentar as promessas do PSD para a mudança do sistema político, Rio insistiu na sua peculiar obsessão com os votos em branco.
No programa eleitoral do partido às legislativas de outubro está escrita uma frase vaga mas fatalmente reveladora: “Estratégia de reforço da participação do cidadão e de combate à abstenção com possibilidade de valorização dos votos brancos”. Numa conferência de imprensa, Rui Rio foi mais detalhado e exemplificou: “Num círculo de 12 deputados, se os votos em branco forem de 5% ou 10% não se elegem os 12”.
O raciocínio de Rui Rio começa numa fantasia e acaba num perigoso dominó político. O líder do PSD jura que o seu objetivo é apenas reconhecer uma realidade preocupante — mas, na verdade, essa realidade preocupante não existe da forma como ele a vê. Na democracia portuguesa, os votos em branco, que Rio identifica como o sintoma inescapável de um problema democrático profundo e de um descontentamento ativo dos cidadãos, sempre oscilaram entre o residual e o irrelevante. Olhando para os números, percebemos que nunca chegaram sequer perto dos 5%, muito menos dos 10% referidos pelo líder do PSD na sua frase. Durante anos e anos, valeram menos de 1% dos votos expressos (ou seja, não contando com a abstenção — se contarmos, o valor baixa dramaticamente) e, no máximo, chegaram aos 2,66%, em 2011. Em 2015, baixaram e ficaram-se pelos 2,1%, o que quer dizer que nem sequer estamos perante uma tendência galopante ou imparável.
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