Marcelo Rebelo de Sousa conferiu-lhe o título para significar que o Primeiro-ministro suga tudo à volta. Mas o Presidente esqueceu-se de dizer ou omitiu o facto de que o mata-borrão, quando está gasto, para além de sugar, também deixa nódoa.

Não sou especialista em fogos e por isso abstenho-me de fazer análises técnicas. Limito-me a registar o que está à vista de qualquer cidadão normal que espera, justamente, que o Estado assegure a preservação do património mais importante do país. Em 2017, para além da tragédia humana que ceifou perto de cem vidas, assistimos incrédulos ao desaparecimento do centenário Pinhal de Leiria. Ainda hoje, quem passa pela zona pode ver o destroço que ali ficou, até agora sem qualquer esforço sério para recompor aquelas centenas e centenas de hectares de pinhal ardido.

Estes anos passados, esperávamos que alguma coisa se tivesse aprendido com a lição tão dolorosa de 2017. O fogo dos últimos dias na Serra da Estrela veio provar-nos que afinal está quase tudo na mesma. Não houve mortos e isso é de facto o mais importante. Mas o avanço das chamas ao longo de seis dias de forma descontrolada em plena Serra da Estrela não se justifica nem mesmo com a adversidade dos fenómenos naturais. Dia após dia, fomos ouvindo as queixas dos autarcas da região que explicaram com detalhe como, havendo comando e coordenação, os 1600 bombeiros deslocados de todo o país poderiam ter evitado a progressão descontrolada do fogo. Os meios aéreos estavam lá, mas não com a dimensão necessária para controlar o fogo à nascença.

Agora, perdido mais este património natural único do país, dezasseis mil hectares ardidos depois, o Primeiro-ministro diz que o fogo vai ser estudado. As conclusões, já sabemos, serão apresentadas lá para as calendas do Inverno, com a opinião pública já distraída com outras coisas. Mas não são precisos estudos para que o Primeiro-ministro, que suga tudo à volta e está a governar desde 2015, nos venha explicar:

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  • Quem coordenou os 1600 bombeiros e por que motivo, de acordo com os relatos, não estavam à hora certa onde eram mais necessários?
  • O que justifica que o país tenha adquirido três aviões Canadair, indispensáveis para atacar este tipo de fogos, e apenas um, durante alguns dias, tenha estado disponível para o ataque ao fogo? Os outros dois estavam inoperacionais em pleno agosto!?

Estas duas questões não precisam de relatórios. Uma boa coordenação de meios humanos e a disponibilidade de meios aéreos adequados poderiam ter evitado mais esta tragédia.

O Pinhal de Leiria e a Serra da Estrela são duas nódoas gigantes deixadas para a posteridade pelo Mata-Borrão António Costa. Quando o atual Primeiro-ministro deixar de o ser não sei o que se lhe poderá atribuir de obra feita. Assim de repente não me lembro de nada. Mas há duas chagas no coração de Portugal que lhe ficarão para sempre associadas.

Por alguma razão os tempos modernos dispensam bem o mata-borrão. E as novas gerações nem sabem o que isso seja.