A crer em alguma imprensa oficial, há neste momento três candidatos à sucessão de António Costa na liderança do poder socialista: Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro, e Luís Montenegro. Sim, Luís Montenegro, o presidente do PSD. E porque é que o presidente do PSD se teria habilitado de repente como mais um dos herdeiros do primeiro-ministro? Porque, no discurso ao congresso do PSD, prometeu não cortar pensões. Segundo a sabedoria mediática nacional, é o suficiente para provar que Montenegro teria rompido com a “austeridade” de Pedro Passos Coelho e aderido à “habilidade” de António Costa.

Luís Montenegro disse outras coisas, mas foi só isto que a maior parte do comentário de serviço quis ouvir. Percebe-se porquê. A confusão interessa ao poder socialista. Mas, por isso mesmo, é duvidoso que interesse ao PSD. Bem sei que há quem pense que o equívoco também é útil ao PSD, como um meio de se “reconciliar” com os eleitores idosos. Mas se essa “reconciliação” tivesse de ser feita nos termos de uma caução do governo socialista, serviria apenas para reduzir o PSD a um suplente do PS, e confinar o debate político a uma compra dos dependentes do Estado, em que os socialistas contam ter vantagem.

A direcção do PSD não deve subestimar o poder socialista. Não pode confiar, como fez Rui Rio em 2019 e 2022, no mito dos ciclos políticos, e na ideia de uma rotação natural no governo. Precisa vencer o debate público, e para isso convém-lhe mudar os termos desse debate. Não pode deixar dúvidas de que quer romper com o poder socialista instalado desde há vinte e oito anos, e que nesse sentido quer continuar o governo de Pedro Passos Coelho, na medida em que o governo de Passos Coelho foi a mais séria tentativa de sair da rampa de degradação económica e institucional a que os governos socialistas submeteram a democracia portuguesa desde 1995. Se foi possível, nos últimos oito anos, aumentar pensões, isso deveu-se a Passos Coelho, que depois da bancarrota socialista restaurou o crédito do país, salvaguardou a sua integração europeia, e assim alargou a margem de opção de futuros governos. O PSD não deve consentir nas confusões socialistas. Há aqui um debate que pode ser ganho, e precisa de ser ganho (Luís Montenegro, aliás, já começou isso na entrevista de ontem na SIC).

Desde 2015, o poder socialista aproveitou a folga criada por Passos Coelho para cultivar a dependência do Estado, enquanto partidarizava as instituições, mantinha a mais alta carga fiscal de sempre, e submetia a economia ao regime de favores e de compadrio exposto na Operação Influencer. Fez mais: introduziu a extrema-esquerda no poder, importou o wokismo americano, inventou divisões e promoveu a polarização. Ainda esta semana, tentou fazer passar uma lei que, a pretexto do “discurso do ódio”, permitia a criminalização do pluralismo político, ao mesmo tempo que, em nome da “inclusividade”, iniciava a estigmatização dos símbolos nacionais. Mas após oito anos de rupturas e de agressões, os candidatos socialistas querem agora fazer crer que foram sempre “moderados”. O objectivo é óbvio: fazer passar por “moderação” o conformismo com a hegemonia socialista, e sujeitar todas as alternativas ao labéu do “radicalismo”. Ao poder socialista, interessam eleições em que todos os gatos sejam pardos. Ao PSD, não. Só porque Pedro Nuno Santos diz agora que é “social-democrata”, não significa que Luís Montenegro deva dizer que é “socialista” para não parecer “radical”. O PSD não deve ter medo de ser diferente, e esclarecer a distância em relação ao poder socialista. É aí que as linhas têm de ser mais vermelhas.

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