A polícia moçambicana assegurou que vai proteger “até às últimas consequências” a estrada N4, que liga à fronteira com a África do Sul, em Ressano Garcia, e que hoje esteve temporariamente bloqueada por cerca de 200 manifestantes.

“O contingente policial mantém-se no terreno até às últimas consequências”, disse à Lusa Afonso Ruco, comandante distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Moamba e que hoje foi chamada a dispersar um grupo de manifestantes que impediu a passagem de cidadãos da África do Sul, em retaliação contra a vaga de retaliação xenófoba neste país.

Afonso Ruco disse que os “atos de vandalismo”, incluindo o arremesso de pedras e paus contra veículos, no bloqueio com a duração de meia hora na N4m são intoleráveis, bem como a violência que se gerou com os automobilistas que pretendiam seguir viagem.

Desde as primeiras horas da manhã começaram a circular informações não confirmadas, dando conta do bloqueio da estrada que liga a Ressano Garcia, ao quilómetro quatro, o que levou algumas das principais organizações internacionais em Moçambique a recomendar aos seus funcionários que evitassem o trajeto.

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Segundo o comandante da PRM em Moamba, a ação de bloqueio era dirigida especificamente aos cidadãos sul-africanos e chegou a haver confrontos com os manifestantes, sem feridos mas com danos materiais em viaturas da polícia, e o registo de pelo menos um detido.

Ao princípio da tarde, a circulação estava normalizada, mas era visível o reforço policial e uma numerosa presença de agentes munidos com armas automáticas e equipamento antimotim, lado a lado com os manifestantes, mas sem mais violência.

“Hoje de manhã tivemos de lutar pelos nossos direitos, no lugar de ter de admitir eles aqui, achámos que também devíamos mandá-los para a África do Sul”, disse à Lusa um dos manifestantes, falando sob anonimato, e vestido com o uniforme da empresa onde trabalha, junto do quilómetro quatro, e berço da rebelião iniciada às 08:00 (07:00 em Lisboa).

“Eles [moçambicanos] na África do Sul estão a ser mortos de qualquer maneira, não por algum roubo ou criminalidade, mas injustamente”, observou, assegurando que não é objetivo do seu grupo retaliar com a mesma violência que está a ser observada em Durban e Joanesburgo, “apenas impedir de forma pacífica que os sul-africanos entrem em Moçambique”.

Segundo o manifestante, o bloqueio foi decidido pouco antes do seu começo por meia-dúzia de trabalhadores na empresa WHO, que iniciaram uma greve, em protesto contra os acontecimentos recentes na África do Sul e que já levaram ao repatriamento de mais de cem moçambicanos para o distrito de Boane, na província de Maputo.

“Não batemos em ninguém, fomos justos, apenas queríamos que eles ficassem do lado deles e nós do nosso lado”, afirmou, descrevendo que o seu grupo mandou parar todos os carros com matrícula estrangeira, exigiu documentos e apenas impediu a passagem dos ocupantes sul-africanos. “Os outros podiam seguir”.

Quando a polícia interveio, prosseguiu, foram disparados tiros para o ar, a população fugiu e duas pessoas foram detidas, mais uma do que o número avançado pelo comandante da PRM.

“No lugar de nos defender, a polícia defende os sul-africanos, é doloroso”, disse ainda o manifestante, dando conta que na sua empresa trabalha um grande número de cidadãos do país vizinho, mais de 50 são engenheiros, e que, logo no início do protesto, voltaram para as suas casas, no outro lado da fronteira.

Dois autocarros de uma transportadora sul-africana foram hoje atacados por desconhecidos no mesmo local e suspenderam temporariamente as suas viagens por esta rota.

Também hoje a companhia petroquímica Sasol anunciou o repatriamento temporário dos trabalhadores sul-africanos dos projetos de gás que desenvolve no sul do país, face aos protestos dos trabalhadores moçambicanos devido à violência xenófoba na África do Sul.