Segundo números de 2014, 62% dos refugiados em todo o mundo vinham de cinco países: a maior parte da Síria, seguindo-se Afeganistão, Somália, Sudão e Sudão do Sul. Só desta mão-cheia de Estados em rutura, cerca de 9 milhões de pessoas foram além-fronteiras para fugir da guerra e da tortura. São mais do que a população da Suíça e pouco menos do que a de Portugal.
Conheça as razões que levam a que tantas pessoas fujam das suas casas e dos seus países.
Síria
Tudo começou com a Primavera Árabe — o nome dado à onda de protestos que levou ao derrube de vários regimes autoritários do Médio Oriente e que, quando chegou à Síria em março de 2012, já tinha derrubado Hosni Mubarak, no Egito, e Ben Ali, na Tunísia. Inspirados nos exemplos destes dois países, os sírios começaram a sair à rua para pedir a demissão do Presidente Bashar al-Assad, o ditador que lidera o país desde 2000 — antes dele, essa tarefa coube ao seu pai, Hafez al-Assad, que assumiu o poder em 1971.
As posições extremaram-se e o regime de Bashar al-Assad entrou em guerra com várias milícias armadas — desde forças revolucionárias até grupos islamistas. O auto-proclamado Estado Islâmico (que ocupa parte da Síria e do Iraque) faz parte destes últimos e tem sido o grupo mais eficaz no combate a Bashar al-Assad — sendo importante sublinhar que os propósitos do Estado Islâmico são em tudo opostos aos daqueles que em 2012 pediram mais democracia e liberdade no país.
Segundo a Aministia Internacional, o conflito já matou 190 mil pessoas. Além disso, 7,6 milhões de sírios tiveram de abandonar as suas casas e partir para outras zonas do país. Outros 4 milhões fugiram para o estrangeiro. Segundo os números do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), antes do conflito armado, os sírios não figuravam sequer nos 30 países de onde partiam mais refugiados. Em 2014, estava em primeiro lugar. Representam 43% daqueles que chegam à Europa pelo mar.
Afeganistão
Antes da guerra civil na Síria, o Afeganistão era o país de origem da maior parte dos refugiados. Este país, que tem Kabul como capital, vive mergulhado num clima de conflito e instabilidade desde 1978. Nesse ano eclodiu uma guerra civil que opôs revolucionários comunistas (apoiados pela União Soviética) aos mujahidins (apoiados numa primeira fase pelo Afeganistão e depois pelos EUA). A partir de 1979, e até 1989, Moscovo mandou tropas para solo afegão, levando assim a cabo uma guerra que em muito contribuiu para o descontentamento geral que levou à queda da União Soviética.
Desde então, o domínio dos taliban no Afeganistão é considerável e demasiado forte para que Mohammad Ashraf Ghani, o Presidente, seja considerado um líder de facto daquele país. Os taliban, que impõem um estilo de vida fundamentalista e que atacam os civis que se demonstrem contrários às suas ideias, são a principal razão para que, entre todos os que chegam à Europa pelo mar, 12% sejam afegãos. Segundo a ONU, há mais de 2,5 milhões de refugiados do Afeganistão.
As mulheres são um dos grupos que mais sofre com a perseguição dos taliban. Segundo números da ONU, oito em cada dez afegãs são vítimas de assédio psicológico, físico ou sexual.
Somália
A Somália vive sem um governo de facto desde 1991 e isso não acontece por acaso. Nessa altura, houve um golpe de Estado que levou ao derrube do Presidente Siad Barre, que governou em ditadura ao longo de 22 anos. Desde essa altura que o controlo do país é disputado entre várias fações, das quais constam forças islamistas. Uma delas é al-Shabab, que começou a ganhar força sobretudo a partir de 2006. Em 2012, juntaram-se à al-Qaeda e calcula-se que tenham entre 7 a 9 militares ao seu dispor.
Ainda assim, o terror vivido neste país não é apenas da responsabilidade do al-Shabab (que é também responsável por ataques a países vizinhos, como o Quénia e a Etiópia). Segundo a ONU, o al-Shabab contava com 44 crianças-soldado nas suas fileiras. Mas os números aumentam quando dizem respeito ao exército oficial e a outras forças militares afetas que alinham ao lado deste: ao todo, 229 menores são obrigados a pegar em armas para participar numa guerra que dura há 24 anos.
Por isso, os somalis são a terceira nacionalidade com mais refugiados. Segundo a ACNUR, eram 1,11 milhões no final de 2014. A maior parte foge para países limítrofes, como o Quénia e a Etiópia.
Sudão e Sudão do Sul
Até 2011, só havia o Sudão mas, a partir daí, o mundo começou a contar com mais um país: o Sudão do Sul. Ainda assim, o destino de um país é em tudo semelhante com um do outro. Da instabilidade, chega-se à guerra. Foi assim no Sudão, que esteve em guerra civil nos períodos de 1955-1972 e 1983-2005. E, mais recentemente, no Sudão do Sul, que desde a sua formação é palco de conflitos armados em que se opõem duas fações: a do Presidente, Salva Kiir, e do ex-vice-Presidente, Riek Machar.
Segundo a ONU, o Sudão tinha quase 650 mil refugiados em 2014 — um número que considera “estável”.
O mesmo não se pode dizer dos refugiados sul-sudaneses: em dezembro de 2013 eram 114 400 e apenas um ano depois o número subiu para 616 200. A maioria vai para a Etiópia (251 800), Uganda (157 100), Sudão (115 500) e Quénia (89 200).