A Galp anunciou esta terça-feira uma subida de quase 500% (496%) no lucro do primeiro trimestre que atingiu os 155 milhões de euros, contra 26 milhões de euros.

Uma parte deste aumento dos lucros pode ser explicada pela comparação com os primeiros três meses de 2021 que foram ainda marcados pelos efeitos do confinamento, tendo a empresa aumentado as vendas de produtos petrolíferos em 25%.

O grande motor é contudo a valorização do preço das matérias-primas, em particular do petróleo, mas os preços caros da energia são bons para todos os segmentos de negócios da empresa? De acordo com declarações recentes do presidente executivo Andy Brown, numa perspetiva de investimento e longo prazo, os gestores da Galp preferem preços estáveis à volatilidade que tem marcado este ciclo de subidas acentuadas do gás natural e dos combustíveis.

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Nos resultados do primeiro trimestre é já possível ver algum do efeito da guerra na Ucrânia, ainda que a performance da Galp estava a refletir a energia cara desde a segunda metade de 2021.

O segmento de exploração e produção, designado por upstream, é o principal motor da subida dos lucros, com um resultado antes de impostos de 555 milhões de euros, mais 77% do que em igual período do ano passado. O crescimento da margem bruta deste negócio, em inglês EBITDA, é da mesma ordem de grandeza — 83% para 803 milhões de euros. Se uma parte deste efeito resulta do aumento da produção, sobretudo no Brasil, o principal fator é o incremento das receitas de venda de gás e petróleo suportadas pela melhoria das condições de trading (comercialização) e novos contratos de gás.

Ou seja, estas atividades beneficiam de facto da subida dos preços. Mas, como assinalou o presidente da Galp quando confrontado com a hipótese de a empresa ter de pagar um novo imposto sobre os lucros inesperado,  não são desenvolvidas em Portugal, pelo que uma taxa sobre os ganhos inesperados aplicada cá teria pouco efeito, considerou.

Quando olhamos para os segmentos da atividade da empresa de petróleo e gás que se concentram na Península Ibérica, a performance é negativa quando comparada com o primeiro trimestre de 2021.

Apesar de uma subida significativa das margens de refinação para 6,9 dólares por barril (1,9 dólares nos primeiros três meses de 2021), o segmento industrial e gestão de energia teve um resultado negativo de 52 milhões de euros, ainda assim melhor do que registado em igual período do ano passado. Na componente de comercialização, na qual está a atividade de distribuição e venda de combustíveis, a Galp reportou um resultado antes de impostos de 31 milhões de euros, menos 13% que nos primeiros três meses do ano passado.

Na apresentação aos investidores, a petrolífera assinala um ambiente de pressão ao nível dos preços na Península Ibérica, o que leva a não transferir inteiramente o efeito do aumento dos produtos para os clientes finais, o que parece contrariar a perceção da opinião pública e até declarações de alguns responsáveis políticos sobre os combustíveis. No documento de prestação de contas, a Galp localiza esta pressão mais no gás natural.

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As renováveis são o mais recente negócio da Galp, mas ainda têm um peso relativamente baixo no resultado global porque está em fase de expansão, tendo, ainda assim, contribuído com um resultado positivo de 30 milhões de euros no primeiro trimestre.

Outra realidade visível nos resultados da empresa é a assimetria entre normas contabilísticas. Se a Galp tem lucros em RCA quando as contas passam para a norma IFRS os lucros passam a prejuízos de 14 milhões de euros, justificados pelo reconhecimento do valor de mercado dos stocks e, em particular, de produtos derivados que tiveram um efeito negativo de 320 milhões de euros.

Apesar do aumento de quase 500% nos lucros, as ações seguiam a perder mais de 3% no final da manhã na bolsa de Lisboa.