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“Que surpresa. Roger Waters a lançar dúvidas sobre o massacre de judeus pelo Hamas”. As palavras sarcásticas do porta-voz da associação Campaign Against Antisemitism (CAA) — que, no mês passado, lançou um documentário a revelar “o lado negro” do ex-Pink Floyd — podiam ser as de muitas pessoas que conhecem o historial de comentários contra Israel do artista. Desta vez, o motivo da indignação israelita é o ataque do grupo terrorista de 7 de outubro.

“Não sou, nem nunca fui, um antissemita”. Roger Waters nega críticas sobre posições anti-judeus, após estreia de documentário

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Um mês e quase 15 mil mortes depois de ter mandado a plateia do seu concerto em Berlim “dar uma volta”, quando esta se revoltou contra as suas afirmações, Roger Waters decidiu finalmente comentar a ação do Hamas no início do mês passado. Numa entrevista ao jornalista Glenn Greenwald, do canal System Update, disse que a situação “fugiu de controlo” e que pode ter sido “uma operação de bandeira falsa”. Mas primeiro começou por se perguntar “como raio” é que Israel não sabia que tal estava para acontecer.

“O exército israelita não ouviu os estrondos, quando eles [Hamas] rebentaram com o que tinham de rebentar para atravessar a fronteira? Há qualquer coisa de muito suspeito nisso”, declarou o ex-vocalista da banda fundada em 1964, citado pelo Telegraph.

Apesar de referir que essas questões “ainda estão bem no fundo da toca do coelho”, Roger Waters deu o benefício da dúvida sobre se o ataque do Hamas foi justificado, recorrendo à história para sustentar a sua afirmação.

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“Não sabemos o que eles fizeram realmente. Se é justificável que tenham resistido à ocupação? Sim”, disse. “Do ponto vista legal e moral, estão absolutamente obrigados a resistir à ocupação desde 1967”.

O artista, que lançou recentemente o álbum The Dark Side of The Moon Redux, garantou, porém, “não concordar” que a história justifique o ataque a civis israelitas. “Se foram cometidos crimes de guerra, claro que os condeno. Mas podem ter sido casos individuais”, disse, citado pelo i24 News.

“Mas a coisa saiu de controlo da parte dos israelitas, que inventaram histórias sobre a decapitação de bebés”, lembrou, referindo-se à notícia de que 40 bebés tinham sido degolados, lançada por uma repórter israelita, que foi mais tarde desmentida.

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O que sabemos é que, quer se trate de uma operação de falsa bandeira ou não… e qualquer que seja a história que vamos ouvir… é sempre difícil dizer o que realmente aconteceu”, apontou.

Estas declarações surgem após o artista ter negado as críticas de que era antissemita e anti-judeu, que foram expressas no documentário DarkSideofRogerWaters, estreado no final de setembro. Neste, a CAA, associação que se dedica a expor casos de preconceito e discriminação contra judeus, entrevistou Bob Ezrin, que ajudou a criar o álbum The Wall, e o antigo saxofonista Norbert Statchel, tendo estes revelado episódios em que o mesmo adotou posições discriminatórias.

Um deles veio depois de o saxofonista ter contado a Waters que tinha raízes judaicas e de ter revelado que os seus familiares do lado paterno “foram todos mortos” durante o Holocausto.

“Oh, eu posso ajudar-te a conhecer os teus entes perdidos. Posso até introduzir-te à tua falecida avó”, disse Waters, antes de imitar uma “mulher polaca desagradável”. “Pronto, já conheceste a tua avó. Como te sentes agora?”, perguntou, após a sua performance.

No documentário, são ainda citados e-mails em que o artista pediu para alguém fazer um porco com os slogans “sigam o dinheiro” e “escumalha”, com vista a ofender a comunidade judaica, e ainda momentos em que se recusou a comer “comida judaica” e chamou a um funcionário “judeu de merda”.

“No que diz respeito a judeus, não há buraco mais fundo em que o Sr. Waters se consiga enfiar”, disse o porta-voz da CAA. “Pessoas decentes reconhecem o seu tipo”.